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Estado de Minas

Chuva aumenta risco de desabamento dos prédios no Buritis

Alerta de temporal da Defesa Civil, que avisa vizinhos dos prédios ameaçados sobre consequências de possível desabamento, aumenta temor da comunidade do bairro. Situação já provoca impacto no mercado imobiliário e deixa famílias de prontidão


postado em 27/10/2011 06:00 / atualizado em 27/10/2011 16:18

O corretor de imóveis José Raimundo Coelho cancelou ontem três visitas que tinha marcado com clientes para mostrar apartamentos à venda na Rua Laura Soares Carneiro, no Bairro Buritis, Oeste de Belo Horizonte, onde parte de um terreno ameaça desmoronar e arrastar três prédios isolados pela Defesa Civil. “Eu, sinceramente, jamais compraria um imóvel ali sabendo desse problema”, disse o corretor, que também desmarcou compromisso com interessados em imóveis da Rua José do Patrocínio Carneiro, na esquina de baixo. A preocupação de compradores em potencial e de moradores é reforçada pela chuva desta quinta-feira, com repercussões nas vizinhanças, como “estrondo semelhante a uma bomba ou trovão” e “deslocamento de ar atingindo as residências vizinhas”.

A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) alertou para a possibilidade de chuva forte, com rajadas de vento de até 60km/h, o que pode agravar a condição no Buritis. Técnicos da Defesa Civil acompanharam a cobertura da encosta dos fundos dos prédios com lonas, uma tentativa de impedir uma tragédia em caso de chuva. O temor dos vizinhos dos prédios ameaçados é geral e ninguém consegue mais dormir direito, diante da possibilidade de o morro vir abaixo. Integrantes de nove famílias que tiveram que deixar seus apartamentos às pressas, no domingo, muitos levando pouco mais que as roupas do corpo, vivem um drama ainda maior. Elas já dão como perdidos seus imóveis, diante das rachaduras e do deslocamento do terreno, que aumenta a cada dia, e pensam em indenização.

Na quarta-feira, a construtora responsável pelo prédio mais comprometido, o Vale dos Buritis, recuou da intenção de recorrer contra decisão judicial que determina início imediato de obras de estabilização. Citada pela Justiça, a empresa deve enviar equipe ao local hoje, para avaliar a necessidade de reparos, informou o responsável pela empreiteira, José Teixeira.
O bairro que atrai atenções da Defesa Civil e que deixa moradores em alerta concentra áreas situadas em nível 3 em uma escala de risco geológico que vai de 1 a 4, em mapa elaborado por professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os prédios ameaçados, inclusive, se localizam em uma dessas áreas. O corretor José Raimundo conta que algumas imobiliárias estão tendo prejuízos com o problema da Rua Laura Soares Carneiro, pois compradores de imóveis desistiram de negócios praticamente fechados. “Estou com medo de assustar meus clientes. Por isso, estou evitando levá-los àquela região dos prédios”, disse José Raimundo.

O empresário Ricardo Carvalho, de 33, mora em uma cobertura avaliada em R$ 600 mil, dois prédios abaixo dos interditados, e está sob alerta. As rachaduras na rua e no passeio se aproximam cada vez mais. Ele se casou há dois meses e foi morar com a mulher no imóvel em agosto. Os armários acabaram de ser instalados, mas ele já se prepara para abandonar tudo. “Quando o problema começar a atingir nosso lado, vamos fazer a mudança, para não sair depois só com a roupa do corpo”, disse. Ele lembra que o solo na região é composto de filito, uma espécie de rocha em camadas, que se decompõe em contato com a água, provocando movimentação da terra e desmoronamentos. “As construtoras estão levantando prédios aleatoriamente e a prefeitura deixando, sem fiscalização”, reclama o empresário.

Aposentado e estudante de engenharia civil, Hilário Koch, de 60, também mora em uma cobertura, avaliada em mais de R$ 1 milhão, mas a situação dele é mais preocupante. O prédio fica bem ao lado dos imóveis interditados e ontem houve comentários de que trincas teriam surgido no imóvel, o que não foi confirmado. “Não consigo nem ir à aula mais. O problema veio muito de repente”, disse Hilário, lembrando que mora no endereço há 10 anos e sempre percebeu problemas. “O terreno da região é muito corrediço quando chove. Há alguns anos, a rua afundou”, disse. A via, segundo ele, fica em um terreno íngreme, sem sarjeta e boca-de-lobo, e a água da chuva passa por cima do meio-fio.
Hilário, que teme pela segurança dos moradores da Avenida Protásio de Oliveira Pena, separada da sua rua por um barranco de mais de 20 metros, que ameaça desabar com os prédios. “Serão milhares de metros cúbicos de terra que vão cair. Se começar a chover, a tragédia será em questão de horas. Há muitos buracos para a água entrar. A terra debaixo da rua já está oca e encharcada”, disse.
 
Sob ameaça

O alerta da Defesa Civil
A passagem de uma frente fria pelo litoral da Região Sudeste favorece a ocorrência de pancadas de chuva. O volume estimado é de 10mm a 20 mm entre quarta e quinta-feira
As pancadas de chuva podem vir acompanhadas de raios e rajadas de vento de intensidade moderada a forte (40-60km/h)
Há risco de desmoronamento dos imóveis ameaçados, como o Vale dos Buritis
 
Os efeitos de um posssível desabamento dos prédios

Estrondo semelhante a uma bomba ou trovão
Levantamento de grande nuvem de poeira
Deslocamento de ar atingindo as residências vizinhas, com sensação de impacto ou
pressão em portas e vidraças
Ocasionalmente podem ocorrer abalos no solo, perceptíveis nas residências vizinhas
Escombros podem rolar encosta abaixo, podendo atingir a Av. Protásio de Oliveira, que foi
interditada preventivamente.

As recomendações em caso de colapso dos edifícios

Evite pânico, principalmente se o fato ocorrer durante a madrugada
Evite andar descalço se houver rompimento de vidros devido ao deslocamento de ar ou arremesso de objetos
Evite se deslocar para perto do local do acidente
Comunique-se imediatamente com a Defesa Civil pelo telefone 199

Fonte: Coordenadoria Municipal de Defesa Civil

 

Vigília e angústia na rua

Alguns moradores que tiveram de deixar seus apartamentos às pressas, no domingo, estão passando praticamente todo o dia em frente aos imóveis interditados, na rua, debaixo de sol escaldante. A cada rachadura que surge na fachada aumenta ainda mais a angústia deles e a dúvida sobre a possibilidade de retornar às suas casas, onde ficaram objetos pessoais, bens e lembranças que marcam a história de suas vidas.

O Edifício Vale do Buritis já afundou mais de 20 centímetros em relação à rua. Está inclinado e um dos seus pilares foi danificado. O comerciante Waner Maron, de 50, tinha esperanças de entrar ontem no prédio e apanhar documentos pessoais, do carro e dinheiro. “Estou sem lenço e sem documento. Saí de casa domingo para almoçar e quando voltei o prédio estava interditado. Minha mulher está abalada. Não conseguiu pegar nada”, disse. Para ele, não há chance de o prédio ser recuperado. “A cada dia, o prédio afunda mais”, lamentou. O técnico da Defesa Civil que esteve no local ontem, José Reis, disse ter percebido “anomalias” no terreno e confirma que as rachaduras têm aumentado.


 “Queremos indenização e apartamentos novos. Eles podem até tentar recuperar o prédio, mas não temos mais segurança para voltar”, disse o estudante de engenharia civil Lucas Biumbini, de 21. Segundo ele, seu prédio foi construído em 1995 e desde 1997 apresentava rachaduras. “Os tubulões do edifício tinham apenas quatro metros de profundidade e a construtora fez reparos. Em 2009 e 2010, a empresa fez mais 10 tubulões, de 14 metros de profundidade cada, mas deixou a obra inacabada”, reclamou.

Especialista faz raio x do Bairro Buritis e condena o solo. Veja:

 


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