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Estado de Minas

Campo de concentração alemães existiu no Sul de MG

Campo de concentração em quartel de Pouso Alegre, no Sul de Minas, abrigou por mais de dois anos 62 tripulantes de navio afundado no Oceano Atlântico, na costa nordestina


01/10/2011 06:00 - atualizado 01/10/2011 15:23

Pesquisadora não tem informações sobre o tratamento dispensado pelos militares do Exército aos prisioneiros estrangeiros, que ficaram detidos na unidade mineira
Pesquisadora não tem informações sobre o tratamento dispensado pelos militares do Exército aos prisioneiros estrangeiros, que ficaram detidos na unidade mineira
Filmes ambientados no front, peças de teatro sobre dramas humanos, livros contando os horrores do holocausto e trilhas sonoras de uma época sinistra. Passadas quase sete décadas do seu término, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ainda é fonte inesgotável para a produção de obras culturais, faz surgirem lágrimas nas novas gerações e continua um prato cheio de histórias para os pesquisadores. A participação do Brasil no conflito, para muitos resumida ao envio de 25 mil combatentes, os pracinhas, para a Itália, tem muito mais a oferecer e contribuir para essa página dilacerante da humanidade, que começou a ser escrita com a invasão da Polônia por Adolf Hitler (1889-1945).

Atualmente envolvida com estudos sobre a presença dos alemães no ABC paulista, a professora de história da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (SP), Priscila Ferreira Perazzo, abre a cortina do passado e joga os holofotes sobre um fato pouco conhecido: a existência no Brasil, durante três anos, de 10 campos de concentração, inclusive um em Pouso Alegre, no Sul de Minas, a 384 quilômetros de Belo Horizonte. Os levantamentos contidos no livro Prisioneiros da guerra – Os "súditos do eixo" nos campos de concentração brasileiros (1942-1945) mostram que cerca de 2 mil pessoas, entre alemães, italianos e japoneses, ficaram confinados e distribuídos por sete estados.

Imigrantes

O campo de Pouso Alegre, conforme a professora, teve uma particularidade, já que foi o único no país a receber militares, e não civis a exemplo dos demais. Eram 62 tripulantes de um navio alemão, entre militar e mercante, que foi afundado pela esquadra norte-americana no Oceano Atlântico, na costa nordestina. Aprisionados, eles entraram no Brasil via Recife (PE), seguiram para o Rio de Janeiro e depois foram conduzidos a um quartel em Pouso Alegre. Durante mais de dois anos, os prisioneiros ficaram nesse local, que ainda funciona como unidade do Exército e foi organizado, na época, para receber os alemães.


No fim da guerra, o grupo foi entregue ao governo dos Estados Unidos para ser trocado por prisioneiros aliados que se encontravam em poder dos nazistas. Os demais campos de concentração brasileiros ficavam em Tomé-Açu (PA); Paulista (PE); Ilha Grande e Ilha das Flores (RJ); Guaratinguetá e Pindamonhangaba (SP); Joinvile e Florianópolis (SC); e Porto Alegre (RS).

Até a primeira metade do século passado, explica Priscila, dava-se o nome de campo de concentração, de maneira geral, aos pontos de confinamento. "Quando queriam retirar um grupo do convívio social, separá-lo, mandavam as pessoas para o campo de concentração. No Brasil, a situação não chegou a extremos, como os campos nazistas para os judeus, caso de Auschwitz", explica. E os prisioneiros eram, preferencialmente, os imigrantes dos países que formavam o Eixo (Alemanha, Japão e Itália), pessoas filiadas ao Partido Nazista e tripulantes de navios com a bandeira dessas três nações.

Maus-tratos

Os campos de concentração existiram no mundo de 1899 até o fim da guerra, sendo o primeiro deles implantado na África do Sul. “Na primeira metade do século 20, havia no mundo todo – nos Estados Unidos, Japão, Norte da África outros países”, afirma. A professora não tem informações a respeito do tratamento dispensado aos prisioneiros em Pouso Alegre, mas adianta que, em outros, eles sofreram castigos. “Os prisioneiros faziam a sua própria comida, eram obrigados a cuidar da limpeza, tinham horários para banho de sol e exercícios. Muitos tiveram depressão e doenças, como diabetes”, afirma.

Os italianos, nesse período, foram menos alvo do que os alemães e japoneses e as prisões ficavam a cargo da Polícia Política do presidente Getúlio Vargas (1883-1954). "Os estrangeiros eram presos onde estivessem, em casa ou no trabalho, e levados para a delegacia, sem envolvimento de questões jurídicas. Daí eram mandados para os campos de concentração", conta Priscila.

As medidas punitivas começaram em 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países componentes do Eixo e apoiou os aliados. Essa decisão fez com que Hitler mandasse torpedear mais de 50 navios brasileiros, em águas nacionais, fazendo o Brasil, via Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviar os pracinhas para o teatro de operações na Itália.


As duas alianças

Iniciada em 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia por Adolf Hitler (1889-1945), a Segunda Guerra Mundial durou até 1945, envolvendo a maioria das nações e incluindo todas as grandes potências, organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados (Estados Unidos, França, Inglaterra e outros) e o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O conflito mais letal da história da humanidade mobilizou mais de 100 milhões de militares e deixou cerca de 70 milhões de mortos. A guerra terminou em 1945 com a vitória dos aliados, com alterações no alinhamento político e na estrutura social mundial. A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada para estimular a cooperação global e evitar futuros conflitos, ao mesmo tempo em que União Soviética e Estados Unidos emergiam como superpotências rivais, dando início à chamada Guerra Fria, que se estendeu por mais de quatro décadas. A Europa Ocidental dava início a um movimento de recuperação econômica e integração política.


MUSEU REABRE EM DEZEMBRO

A partir de hoje, o Museu da FEB, na avenida Francisco Sales, 199, no Bairro Floresta, Região Leste de BH, entra em nova fase. Até dezembro, quando será reaberto, o acervo que conta um pouco da trajetória dos pracinhas na Segunda Guerra será fotografado e digitalizado, guardando a história e se adequando aos novos tempos. Entre as peças há objetos bélicos, troféus, documentos e fotografias – tudo organizado pela seção regional da Associação Nacional dos Veteranos (ANVFEB).

 

Confira relato de um ex-combatente da 2ª Guerra em arquivo da TV Alterosa

 

LINHA DO TEMPO

1939: Começa a Segunda Guerra Mundial, com a invasão da Polônia por Adolf Hitler (1889-1945)
1941: Em BH, começam a ser construídos prédios com abrigo antiaéreo, temendo bombardeios
1942: Navios brasileiros são torpedeados e afundados em águas nacionais por submarinos alemães
1942: Brasil apoia as forças aliadas e declara guerra à Alemanha e Itália
1942: Começam a funcionar, no Brasil, 10 campos de concentração, um deles em Pouso Alegre, no Sul de Minas
1943: Organizada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). As tropas seguem para a Europa quase um ano depois
1944: Troca de prisioneiros aliados, internados no campo de concentração de Godensberg, na Alemanha, por prisioneiros alemães no Brasil
1945: A guerra termina com a vitória dos aliados e rendição da Alemanha, Itália e Japão. No Brasil, são extintos os campos de concentração
 


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