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Estado de Minas AS NOVAS CARAS DA NOITE

Fiscalização rigorosa nas blitzes da Lei Seca faz surgir novos tipos de motoristas em BH

Dos que já caíram na real e se adaptaram à norma aos abusados, há de tudo nas mesas


postado em 21/08/2011 07:46 / atualizado em 21/08/2011 07:50

Bárbara (à direita na foto), já ganhou título de motorista oficial com os amigos Vinícius e Patrícia: %u2018No dia seguinte, não tenho ressaca%u2019(foto: Beto Magalhães/Em/D.A Press)
Bárbara (à direita na foto), já ganhou título de motorista oficial com os amigos Vinícius e Patrícia: %u2018No dia seguinte, não tenho ressaca%u2019 (foto: Beto Magalhães/Em/D.A Press)


Basta escolher um dos cerca de 4 mil bares de Belo Horizonte que eles provavelmente estarão lá. O motorista abusado não hesitará em encher a cara e, sem culpa, voltar para a casa dirigindo. O tuiteiro age de forma semelhante, mas, na saideira, já confere nas redes sociais, pelo celular, informações sobre as blitzes da Lei Seca. Um sorriso de paz é a marca do condutor do tipo prudente, aquele que entendeu que se beber não dá para dirigir. Por isso, recorre a táxi, ônibus e ao revezamento da direção com os amigos. Mas, quando é o motorista da rodada, é possível que o sorriso dê lugar a um semblante de conformação, diante do copo de água, suco ou refrigerante.

Nesse dia, o prudente pode ser confundido com um sujeito que passou a ser idolatrado nas noites da capital: o motorista de todas as rodadas. É o cara que não bebe, dirige e faz a festa dos amigos que não abrem mão do álcool. Esses são alguns dos perfis de motoristas que andam circulando por Belo Horizonte, pouco mais de um mês depois do início da versão linha-dura nas blitzes da Lei Seca. Apesar da orientação ser única – se beber, não dirija – e da sanção rigorosa (multa de R$ 957, perda da carteira de habilitação e até um processo criminal), a legislação não surtiu efeito uniforme na balada em BH.

“Não tenho medo, porque nunca vi uma blitz”, confessa o estudante Gustavo Gonçalves, de 22 anos, enquanto bebe tranquilo uma cerveja com os amigos, no Bairro Sion, na Região Centro-Sul de BH, antes de voltar para casa, em Lagoa Santa, na Grande BH, dirigindo. Muitas vezes, a dificuldade de se locomover numa cidade onde andar de táxi não é para todos os bolsos e a oferta de ônibus é restrita, principalmente à noite, é desculpa para não cumprir a lei. Mas o estudante Luciano Silva, de 25, enfrenta todos os desafios em nome da cerveja entre amigos. Habituado a sair de carro, agora ele vai para a balada de transporte público. “Geralmente, vou de ônibus e volto de táxi, porque não tem ônibus de madrugada e o metrô fecha às 23h.”

Mas diante dessas limitações, quem conhece de perto o funcionamento da Lei Seca no Rio de Janeiro questiona o modelo adotado em Minas. “No Rio o táxi é barato e, por isso, a lei é viável. Aqui não”, diz o engenheiro mineiro Fábio Mendes, de 27, que mora na capital carioca. “No Rio eu não saio de carro, mas aqui a gente dá um jeitinho”, confessa, enquanto toma uma cervejinha gelada no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul.

Apesar de estar com carro novo na garagem, a enfermeira Luiza Gonçalves, de 26, também abriu mão do veículo nas saídas com os amigos, por um único motivo: “Morro de medo das blitzes. Pego táxi, carona, bebo perto de casa... Agora, se não tiver jeito, prefiro nem sair”, diz Luiza, confessando que é difícil resistir à tentação da cerveja gelada.

Brindando com água

A combinação entre direção e álcool já deixou a engenheira Bárbara Ferolla, de 24 anos, em maus lençóis. Depois de beber numa festa, ela acabou batendo o carro em uma árvore. Ela jura até hoje que havia óleo na pista, mas reconhece que a cerveja teve sua contribuição. Ainda na época da Lei Seca que ninguém respeitava, foi flagrada por um policial em Belo Horizonte com uma mão no volante e outra numa garrafa de ice. Agora, regenerada por uma fiscalização mais rigorosa e sob o esforço de uma dieta tão rígida quanto, Babi, que cortou a cerveja do cardápio e reduziu as doses de álcool, virou exemplo e já recebeu até certificado de motorista da rodada num carnaval do Rio de Janeiro.

É ela quem geralmente busca os amigos para cair na balada, aceita tranquilamente brindar com água e até esnoba: “No dia seguinte, não tenho ressaca.” A engenheira faz parte de um batalhão de motoristas que apesar de gostar de beber sabe que lei é para ser cumprida e passa sem medo pelas blitzes. O revezamento ao volante é apenas uma das estratégias para conciliar responsabilidade e diversão. “Tem que pegar táxi (apesar do preço), beber perto de casa, fazer festa em sítio, contratar uma van, no caso de festas de formatura ou até sair todo mundo de carro para tomar um açaí”, enumera, bem-humorado, o estudante Vinícius Caiafa, de 27, de carona com Babi e outro fiel cumpridor da Lei Seca.

O medo da punição é o que leva Vinícius a seguir a norma, mesmo reconhecendo os obstáculos para ser feliz sem descumprir a lei. “Falta táxi em BH e o preço é um dos mais caros do Brasil”, conta. O temor da sanção também levou o advogado Antônio Sant’Ana a optar, como na última sexta-feira, pelo refrigerante em vez da cervejinha.

Ele e a namorada Lívia Vilas Boas se revezam na direção. “Reconheço que sem beber a gente fica meio deslocado e algumas piadas ficam sem sentido, mas é o preço da tranquilidade”, diz. Já o casal de arquitetos Thiago Coelho, de 32, e Carolina Cará, de 31, adotou a estratégia de beber perto de casa. “Como moramos no Sion, tem muita opção. Andar de táxi encarece e sair de carro é arriscado.”


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