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Estado de Minas

Nem Copa desata os nós da Pedro II

Com o cancelamento do BRT por escassez de recursos federais, regional mais populosa da cidade troca a oportunidade de resolver gargalos de tráfego por intervenções paliativas


postado em 06/08/2011 06:00 / atualizado em 06/08/2011 11:10

Avenida já está saturada e, para especialista, situação vai se agravar até 2014, sem obras estruturantes (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Avenida já está saturada e, para especialista, situação vai se agravar até 2014, sem obras estruturantes (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

A decisão de suspender o projeto de implantação do sistema de Transporte Rápido por Ônibus (BRT, na sigla em inglês) na Avenida Pedro II, anunciada anteontem, compromete o trânsito em uma das principais artérias da região mais populosa da cidade, a Noroeste. Além de perder a chance de se beneficiar com obras de engenharia previstas no pacote de intervenções para a Copa’2014, a regional, que abriga cerca de 331 mil habitantes, segundo o Censo’2010, e por onde passam 41 linhas de ônibus, não verá, pelo menos a curto prazo, solução para antigos gargalos que hoje já travam o trânsito e que sobreviverão ao Mundial. Considerada uma intervenção paliativa por especialista, a faixa exclusiva de ônibus que substituirá o BRT em um dos principais acessos ao Estádio do Mineirão é vista como retrocesso para a cidade.

Ao anunciar a desistência da proposta, a prefeitura de BH informou que a falta de verba para pagamento das desapropriações ao longo da avenida inviabilizou o projeto. Em avaliação recente junto ao comércio e residências ao longo da Pedro II, o custo saltou de R$ 83 milhões para R$ 153 milhões. Com investimento inicialmente previsto em R$ 106,2 milhões para obras, a via receberá apenas R$ 21,8 milhões, que serão usados na estruturação da faixa exclusiva de ônibus, novos abrigos e painéis digitais com informações sobre as linhas, além de adequações viárias nos moldes da Avenida Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul. No trecho final da Pedro II, na ligação com o Anel Rodoviário, será implantada a Estação BHBus São José, que fará a ligação entre linhas que partem dos bairros e as que se dirigem ao Centro da cidade. Com as mudanças no projeto, as desapropriações também foram suspensas.


“Isso mostra como Minas está desassistida em relação aos investimentos federais. Belo Horizonte já tinha saído perdendo com a substituição do metrô pelo BRT. Já era uma segunda opção, e agora, com a faixa exclusiva de ônibus na Pedro II, a cidade vai perder ainda mais, pois a eficiência do sistema de transporte coletivo será menor”, afirma o doutor em transporte e trânsito e professor da Fundação Dom Cabral Paulo Resende.


Ao analisar a decisão da prefeitura de engavetar o projeto do BRT, o especialista acredita que o poder público perde a oportunidade de destinar recursos para medidas efetivamente resolutivas e se vê com um desafio ainda maior. “BH cada vez mais se vê prejudica no legado de obras que possam solucionar seus problemas de mobilidade urbana . Com vários sistemas integrados ao BRT, teríamos saídas definitivas e de longo prazo”, diz. Para ele, ao perder a chance de entrar com um elemento novo no trânsito da Regional Noroeste, a prefeitura continuará sendo desafiada a enfrentar congestionamentos.
“Voltamos ao gerenciamento de crises em vez de conseguir soluções”, afirma.


Funil Calo no pé dos 150 mil passageiros que usam o sistema de transporte coletivo e também dos milhares de motoristas que passam pela Pedro II, quatro pontos de estrangulamento são apontados por Paulo Resende na via. Segundo ele, as duas extremidades (acessos ao Centro e ao Anel Rodoviário), além dos entroncamentos com a Avenida Carlos Luz e o Elevado Castelo Branco, são hoje os trechos mais críticos. “Não dá para pensar em melhoria no trânsito na área sem obras de engenharia, sem desapropriar, alargar a avenida e pensar em tratamento específico para esses trechos. São pontos que param devido ao grande número de veículos. Obras de finalização, como pintar faixas no chão, não resolvem”, diz Resende. “Condutores em seus carros particulares ou passageiros de ônibus vão continuar sendo prejudicados com o agravamento do nível de congestionamentos”, completa.


Sofrimento que o biólogo Wander Ulisses Mesquita enfrenta diariamente no caminho entre o trabalho, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, até a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Pampulha, onde estuda. “A gente já vai apertado dentro de uma lata de sardinha, que é o que mais parece o ônibus, e ainda tem que enfrentar quase uma hora de engarrafamento entre o Centro e a Pedro II, porque o trânsito aqui é caótico. Só faixa exclusiva, sem alargar a via, não resolve”, critica, enquanto espera no ponto perto do Elevado Castelo Branco.


Projeto

O novo projeto ainda não prevê soluções para os pontos de gargalo da Pedro II e, conforme a assessoria de imprensa da BHTrans, empresa que administra o trânsito na capital, apenas o trecho de ligação com o Centro já tem intervenção prevista. Está previsto o alargamento dos viadutos do Complexo da Lagoinha. Para os demais pontos, intervenções ou tratamentos viários serão estudados no decorrer deste mês.

 

Enquanto isso, comerciantes comemoram

 

Satisfeitos com o cancelamento das desapropriações na Avenida Pedro II, comerciantes que têm estabelecimentos ao longo da via soltaram foguetes ontem, em comemoração. O ato foi marcado em reunião na noite de anteontem, logo depois do anúncio da prefeitura de extinção da proposta do BRT. O foguetório  foi realizado às 15h, por lojistas de vários trechos da Pedro II. Desde que souberam da intenção da prefeitura de implantar o sistema, comerciantes passaram a temer que as desapropriações pudessem trazer prejuízos. Sem informações claras sobre os prazos das obras, muitos deixaram de investir no negócio e outros até mesmo se mudaram para outras localidades. 

 

Cara a cara

Você aprova o novo projeto da Avenida? 

 

Em termos

“O trânsito na Pedro II é realmente muito ruim. Tanto no horário de pico da manhã quanto no da tarde  os engarrafamentos são constantes. O corredor exclusivo para ônibus poderia ser uma solução, mas vamos ver como vai ficar só com a faixa para os ônibus. Talvez o transporte coletivo, pelo menos, melhore com essa medida.” 

Pierry Rodrigues, de 23, frentista

 

Não

“É uma pena que não teremos uma obra definitiva, porque precisamos de muitas melhorias na Pedro II. Hoje em dia, é muito estressante e cansativo usar a avenida para acessar qualquer ponto da região. Daqui da extremidade com o Anel Rodoviário até a chegada ao Centro temos vários pontos de engarrafamento. A avenida inteira precisa de obras. Tem que melhorar muita coisa”.

Fernando Rocha Santana, de 43, vendedor


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