A solidão de um dos mais famosos solteirões da capital está com os dias contados. O gorila Idi Amin, principal atração do Jardim Zoológico de Belo Horizonte, deve receber, nas próximas semanas, não apenas uma, mas duas namoradas para pôr fim a 27 anos de castidade. De acordo com informações obtidas com exclusividade pelo Estado de Minas – e ainda guardadas a sete chaves pela Fundação Zoobotânica (FZB) – as fêmeas virão de Londres, na Inglaterra, para transformar a jaula do primata em um pequeno harém. As negociações com a entidade inglesa já estão adiantadas e a reforma do espaço destinado a abrigar os animais está na reta final e deve ser concluída ainda este mês.
As tentativas de alegrar a vida de Idi Amin, tirando-o da abstinência sexual, começaram em 2008, quando a Fundação Zoobotânica assinou um convênio com a Fundação John Aspinall, da Inglaterra, uma espécie de santuário de animais em extinção, que faz trabalhos de readaptação e encaminhamento dos bichos a áreas protegidas. As fêmeas seriam trazidas para Belo Horizonte com o apoio da Vale e a capital mineira se transformaria num núcleo reprodutivo para preservação de gorilas. Em setembro do ano passado, teve início uma reforma no espaço de quarentena e no recinto dos gorilas. A obra para fazer do recinto do primata uma suíte nupcial está orçada em R$ 390 mil, conforme contrato publicado no Diário Oficial do Município (DOM).
Único gorila em cativeiro na América do Sul, Idi Amin está no auge dos seus 38 anos. Ele chegou ao zoológico de BH em 1975, vindo de uma instituição francesa, ainda criança, com 2 anos. Hoje com quase 2,60 metros de altura, mais de 200 quilos e um pelo escuro, com toques prateados no dorso, esse solteirão, infelizmente, não tem muitos romances nem aventuras sexuais para mostrar aos visitantes. Idi, como é carinhosamente chamado, foi transferido para a capital na companhia da fêmea Dada, da mesma idade dele. Os dois viveram juntos até março de 1978, quando ela morreu por complicações de uma infecção no ouvido.
Em fevereiro de 1984, o gorila ganhou uma nova namorada, Cleópatra, que morava no zoológico de São Paulo (SP) . Mas o romance durou pouco. Cleópatra, que estava debilitada, morreu 14 dias depois, com um grave quadro clínico de desidratação e diarreia. Desde que ficou viúvo pela segunda vez, o gorila vive sozinho.
As fêmeas ficarão em quarentena
Apesar da abstinência que se arrasta há 27 anos, pesquisas indicam que gorilas têm vigor e fôlego para se dedicar às companheiras até os 45 anos – idade média dos últimos registros de reprodução da espécie. Com expectativa de vida em cativeiro de até 50 anos, os primatas dessa espécie tendem a dominar várias fêmeas de seus grupos sociais, o que explica o grande número de animais do sexo masculino solteiros.
A adaptação de Idi Amin às novas namoradas deve ser lenta. Depois de chegar a BH, as fêmeas devem ficar isoladas em áreas de quarentena por até 60 dias e só então o trio de gorilas será reunido para formar o grupo reprodutivo da espécie Gorilla gorilla, ameaçada de extinção.
Até 2004, havia oito exemplares desse primata na América Latina, sendo dois no Brasil – Idi em BH e Virgulino no Zoológico de São Paulo. Em 2005, com a morte de Virgulino, Idi Amin – cujo nome é uma referência ao sanguinário ditador de Uganda (África), entre 1971 e 1979 –, passou a ser o único gorila vivo em cativeiro da América do Sul. Nos Estados Unidos, outro famoso exemplar da espécie é o Colo, que completa 55 anos de vida, em dezembro, no Columbus Zoo and Aquarium, em Ohio.
Intercâmbio
A Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, que integra o Jardim Zoológico e o Jardim Botânico, na Região da Pampulha, é a segunda maior área verde pública de BH e recebe, anualmente, 1,2 milhão de visitantes. Com importantes parcerias com fundações internacionais, a FZB já recebeu, desde meados da década de 1990, um casal de elefantes e três órixes da África, um chimpanzé e duas cobras da Espanha, entre outros animais. Nesse período, a instituição também exportou espécies nascidas em cativeiro, como um lobo-guará para a Alemanha, onças-pintadas para a Espanha, antas para o Chile e a Tailândia e um hipopótamo para a Argentina.