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Estado de Minas

Imagens do Mestre Athaíde são descobertas em basílica


postado em 10/11/2008 07:30 / atualizado em 08/01/2010 04:04

Restauração recupera o projeto original de Aleijadinho para as capelas, com as pinturas ressaltando a beleza das esculturas(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Restauração recupera o projeto original de Aleijadinho para as capelas, com as pinturas ressaltando a beleza das esculturas (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Congonhas
– Surpresa e deslumbramento diante da genuína arte colonial brasileira. A descoberta de pinturas atribuídas a Manoel da Costa Athaíde (1762-1830) nas paredes de três das seis capelas que recriam a via-crúcis, em Congonhas, a 89 quilômetros de Belo Horizonte, valoriza ainda mais o conjunto arquitetônico da Basílica de Bom Jesus de Matozinhos, destacado como patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Com a retirada de grossas camadas de tinta, em oito meses de trabalho, os Passos da Paixão de Cristo, que guardam as 64 esculturas em cedro já exibem, com nitidez, o cenário do horto das oliveiras, colunas, alpendres e outros detalhes que encantam especialistas em conservação do patrimônio cultural. Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), é o autor das esculturas e também dos 12 profetas em pedra-sabão do adro do santuário. Esta primeira etapa do serviço de restauro, com recursos do Programa Monumenta/Ministério da Cultura, será concluída esta semana.

“Com certeza, nos últimos 100 anos, ninguém viu essa maravilha da forma como foi concebida”, afirma, com entusiasmo, o restaurador Edmilson Barreto Marques, da Anima Conservação, Restauro e Arte, empresa contratada pelo Monumenta. A autenticidade da autoria nas capelas Horto, Prisão e Ceia, construídas entre 1800 e 1819, está comprovada pelos recibos que constam do arquivo da basílica e mostram o pagamento das policromias ao Mestre Athaíde. A construção das demais capelas foi mais demorada, só terminando em 1875 e já sem o traço do artista, nascido em Mariana (MG).

As pinturas em estilo rococó, última fase do barroco, têm um caráter inédito para a época colonial, pois foram feitas diretamente sobre a alvenaria, sem referências similares em Minas. “É um dos casos raros no Brasil”, diz o restaurador, certo de que esse tipo de conservação representa o sonho de qualquer profissional. “É como estar na Capela Sistina, na Itália, que guarda os afrescos de Michelangelo. Aqui, contemplamos o máximo da expressão do barroco”.

Antes de iniciar a empreitada, o Monumenta contratou um serviço de prospecção, tendo como base as antigas fotografias que registraram as pinturas originais. Na Capela da Prisão, com área de 20 metros quadrados e 9m de altura, está um dos resultados mais impressionantes desta primeira fase. Edmilson chama a atenção para as colunas, de 4,5m de altura, pintadas de vermelho e cinza, que servem de cenário para a escultura de Cristo, em tamanho natural, sendo levado pelos soldados. A cena se completa com um céu estrelado, que vai até o alto da capela.

Cenário teatral

Num dos cantos da Capela da Prisão é possível ver, em pequeno espaço, dois lados da moeda. Há uma parte encoberta por cimento, o que apaga o desenho primitivo, e outra já reintegrada, mostrando o resultado que virá com a segunda etapa do Programa de Conservação e Restauração das Pinturas Parietais. Este contraste vem das intervenções sofridas pelos pequenos templos, ao longo do século 20, com o objetivo de renovar o ambiente para a celebração, todo mês de setembro, do jubileu dedicado ao padroeiro. “As imagens eram repintadas, da mesma forma que as paredes internas. O tempo e a umidade aumentaram o quadro de degradação”, conta Edmilson, ao lado dos restauradores Carlos Magno Araújo e Gilson Felipe.

Na Capela do Horto, que complementa o cenário onde Cristo foi preso, a equipe identificou pinturas representando estruturas arquitetônicas semelhantes à da Prisão. Na Ceia, há fragmentos também creditados a Athaíde, que trabalhou em Congonhas entre o fim do século 18 e início do 19.

Autora de quatro livros sobre Congonhas e consultora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a historiadora Myriam Andrade Ribeiro Oliveira explica que o interior das capelas foi idealizado, por Aleijadinho, como um cenário teatral. “Em 1950, durante a primeira grande reforma, as sete cenas nas paredes foram cobertas de tinta para ressaltar exclusivamente as esculturas. Somente quando todo o trabalho de conservação estiver pronto, será possível ver o espetáculo completo idealizado pelo artista”, diz a historiadora, residente no Rio de Janeiro (RJ). Antes de começar o restauro, Edmilson e sua equipe estiveram nas cidades de Matosinhos e Braga, em Portugal, para estudar os cenários das capelas dos Passos, que inspiraram o projeto de construção do santuário de Congonhas, tombado pelo Iphan.

O coordenador da Unidade Executora do Programa Monumenta em Congonhas, engenheiro civil Ronaldo José Silva de Lourdes, informa que a reintegração das pinturas está prevista no projeto, embora sem data marcada para começar. Ele explica que as peças componentes da via-crúcis foram restauradas há quatro anos – por enquanto, elas ainda não se encontram nos seus devidos lugares, estando com proteções de espuma nas extremidades, para evitar qualquer tipo de dano.

“Devido à descoberta das pinturas, pode ser que algumas esculturas tenham a sua posição alterada dentro das capelas. Um dos exemplos é o anjo da agonia, que fica na Capela do Horto. A peça teve constatada a sua localização original na parede central do Passo, e não na lateral, como esteve nas últimas décadas”, diz Edmilson.


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