(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas LITERATURA

A trilha sonora do Enem

A importância e o que é cobrado sobre estilos musicais nos principais exames do país


postado em 19/10/2018 10:22 / atualizado em 19/10/2018 11:37

Ao longo das edições da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), observamos a utilização da música como elemento de discussão acerca de aspectos não apenas estéticos, no que se refere a essa arte, mas também de fatos históricos, geográficos e sociais principalmente brasileiros. Por isso, cabe um pequeno sobrevoo por movimentos relacionados à chamada música popular brasileira.


Entre os séculos XVI e XVIII, no Brasil, houve uma mistura entre as cantigas populares trazidas pelos portugueses, os sons de origem africana, cantos tribais indígenas, fanfarras militares, músicas religiosas e peças eruditas europeias. Nessa fase nascente, já observamos um ponto bastante característico de nossa música popular: a mistura de sons e ritmos. As tradições orais começavam a se mesclar com as informações musicais que chegavam pelos portos brasileiros e, pouco a pouco, se espalhavam pelas principais cidades do país naquela época.

'Apunte de Batuque', do alemão Rugendas (1802-1858): um retrato dos primórdios do samba, no século XIX (foto: Domínio Público/Dedoc)
'Apunte de Batuque', do alemão Rugendas (1802-1858): um retrato dos primórdios do samba, no século XIX (foto: Domínio Público/Dedoc)
 


Já no século XIX, Destacamos também a presença do jongo, gênero poético-musical cantado por escravos e seus descendentes. No Brasil, tal expressão foi utilizada como estratégia resistência cultural e racial ao regime escravista brasileiro. Tambores, cantos e dança se misturam para expressar o início da música afro-brasileira. Nesse mesmo século, visualizamos o nascimento de outro movimento musical extremamente importante: o choro. Sobre esse gênero, de origens cariocas nos tradicionais grupos de “pau e corda” – flauta, cavaquinho e violão –, podemos perceber que já possuía elementos de música erudita e popular. Era uma maneira de se tocar as polcas, as valsas (cultura europeia) por meio de uma expressão musical mais abrasileirada, ou seja, uma polca com a síncope – alteração da regularidade, da normalidade da pulsação de um ritmo – do lundu (cultura africana). Dentre seus principais representantes, destacamos Chiquinha Gonzaga e o genial Pixinguinha, compositor de choros muito famosos, como “Lamentos”, “Carinhoso” e “Rosa”.


No início do século XX, começam a surgir as raízes do que seria o samba, ritmo que nasce da mistura de estilos musicais africanos e brasileiros – a historiografia considera que primeiro samba gravado foi “Pelo Telefone”, em 1917. Tal estilo, cujo nome será, de fato, oficializado por volta dos anos 30, conta a vida e o cotidiano de quem mora nas cidades, principalmente das pessoas mais carentes. Também será usado como marca da expressão, resistência e afirmação cultural afro-brasileira. Frisamos que ele tomou as ruas e espalhou-se pelo Brasil por meio da difusão do rádio, importante meio de comunicação que foi muito importante para a disseminação da música brasileira para todas as regiões do país. Donga, Sinhô, João da Baiana, Ismael Silva, Bide, Marçal, Noel Rosa, Candeia, Cartola são alguns dos representantes desse ritmo nas primeiras décadas do século XX. Em relação a esse gênero, destacamos, ainda, que ele se manteve – e mantém – vivo por meio de tantas manifestações que reforçaram – e reforçam – esse ritmo como manifestação de expressão da identidade brasileira.

Noel Rosa (1910-1937), Clementina de Jesus (1901-1987) e Ismael Silva (1905-1978): ícones do samba carioca.(foto: Montagem/Internet)
Noel Rosa (1910-1937), Clementina de Jesus (1901-1987) e Ismael Silva (1905-1978): ícones do samba carioca. (foto: Montagem/Internet)
 


Ainda no contexto do samba, é importante não esquecer que tal ritmo passou por uma censura, roda de samba passou a ser caso de polícia. Com a chegada do Estado-Novo, tal ritmo tornou-se proibido. Porém o próprio Vargas percebeu que não conseguiria conter essa manifestação. Qual foi o resultado disso? Liberou o samba, ou melhor, determinou que as letras das canções desse estilo deveriam abordar apenas dois temas: apologia ao trabalho, ao trabalhador e exaltação da pátria brasileira. Nesse contexto, surgiu o samba exaltação, estilo de caráter ufanista presente, por exemplo, em “Aquarela do Brasil” e “Isto aqui o que é”, ambas de Ary Barroso.


Mais tarde, principalmente durante as décadas de 40 e 50, em outro contexto histórico, apareceria um dos subgêneros originários do samba de maior relevância na nossa música: o samba-canção – centrado em temáticas como amor, solidão e na chamada “dor-de-cotovelo” em um ritmo mais lento. Dentre os seus representantes, temos Lupicínio Rodrigues, Garoto e intérpretes como Nelson Gonçalves e Dalva de Oliveira. Simultaneamente, a música de Luiz Gonzaga trazia ao cenário musical brasileiro um colorido mais nordestino por meio do baião. Sua música mais aclamada, “Asa Branca”, de 1947, retrata o sofrimento do nordestino por causa da seca.


Já na chamada “Era JK”, período político de certo otimismo por que passava o Brasil, emerge o gênero musical que marcaria uma geração no Brasil e ganharia o mundo. A bossa nova,  um samba que sofreu forte influência do jazz americano (EUA), retratou a vida carioca, sobretudo da zona sul, o mar e a mulher. Destacamos que o próprio Juscelino Kubitschek era chamado de presidente “bossa nova”. Vem desse período, iniciado em 1958, “Garota de Ipanema”, que possui centenas de versões pelo mundo, e tornou-se o grande exemplo desse gênero. São os principais expoentes desse período: Tom Jobim, Nara Leão, João Gilberto, Roberto Menescal, etc.


A partir de 1964, a bossa nova começa a perder força em virtude de mudanças políticas ocorridas no Brasil. Concomitante a isso, inaugura-se a década dos festivais da canção transmitidos pela TV. Em virtude do apelo televisivo, que começa a dar os primeiros passos para alcançar um público massivo, muitos artistas tinham a oportunidade de mostrar suas músicas para um público muito maior. Ainda nessa década temos um cenário diverso que possibilita o público conhecer a música, por exemplo, de Milton Nascimento, que vai buscar raízes mineiras, os tambores de Minas, manifestações indígenas, misturados a influências da música norte-americana, como o jazz, para compor canções permeadas de ritmos e melodias singulares e, ao mesmo tempo, multiculturais. Realçamos que nessa década aparecem, ainda, traços do balanço negro americano sentidos em algumas das primeiras músicas de Jorge Ben Jor e de Wilson Simonal, além da aparição de Tim Maia, precursor do soul no Brasil.


Além disso, influenciado, dentre outras manifestações artísticas e políticas, pelos movimentos de transição cultural que ocorriam, sobretudo nos Estados Unidos, aparecem os movimentos de contracultura no Brasil, como a jovem guarda – há divergência teórica em relação ao fato de considerá-la ou não contracultura – e a tropicália.  Misturando manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais, o tropicalismo, por exemplo, tinha objetivos comportamentais que encontraram ecos em boa parte da sociedade, na época sob o regime militar do final da década. O movimento manifestou-se principalmente na música, tendo como  maiores representantes Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé. O tropicalismo também figurou em manifestações artísticas diversas. Concomitante a isso, havia o grupo que defendia a música popular brasileira desprovida de cultura estrangeira, o que ocasionou a “Marcha contra a guitarra elétrica”, em 1967. No ano seguinte, com o AI-5, o cenário musical torna-se tenso em virtude da onda de censura que silenciava parte dos artistas. Nesse contexto, a música de protesto ganha força, por meio de letras engajadas, revolucionárias e na forma musical, uma estrutura mais comum, tradicional. As décadas de 60 e 70 são importantes referenciais para essas músicas, como “Pra não dizer que não falei das flores”, “Apesar de você”, “Cálice”, “O bêbado e a equilibrista”. No final dos anos 70, aparecem as primeiras manifestações do funk e do hip-hop, que iriam se estender pelas décadas subsequentes.

Banda
Banda "Legião Urbana" e o cantor Cazuza: representantes do rock nacional da década de 80. (foto: Internet/Wikipedia)

Na década de 80, o rock brasileiro, surgiu. Ele é caracterizado por influências variadas: new wave, punk, rock dos anos 70. Os compositores não deixaram de abordar temáticas sociais, ao contrário, eram abundantes. Dentre as muitas bandas que se se destacaram nesse período, podemos mencionar Barão Vermelho, Legião Urbana, Titãs, Ultraje a Rigor e Engenheiros do Hawaii. E, dentro do contexto dos anos 80, aparecem os “bailes black”, momento de proliferação do funk e do hip-hop nas periferias dos grandes centros urbanos, além do rap brasileiro, que tem seu início em meados dessa década.


Após essa visão panorâmica acerca de alguns gêneros presentes na música popular brasileira, observamos que a noção de identidade, a observação acerca dos momentos históricos, a retratação da paisagem nacional, bem como as mazelas sociais existentes no país podem ter como ponto de apoio a canção popular. Em virtude disso, é importante reforçar que, tanto na prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias quanto na de Ciências humanas e suas tecnologias, a música está presente. Por isso não deixe revisar essa trilha sonora que estará nas provas! A seguir um pouco de questões que tratam sobre esses pontos referidos!

 

>> Baixe aqui a Lista de Exercícios 

 

 

Marcus Vinícius de Souza é professor de Literatura do Determinante Pré-Vestibular. 

 

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)