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Estado de Minas

Saiba como é a vida de Bruno, detido há quase três anos

Goleiro que vai a júri hoje se mantém ocupado no presídio, mas já não joga futebol. A amizade com Macarrão também parece ser parte do passado


postado em 04/03/2013 06:00 / atualizado em 04/03/2013 15:16

Pedro Ferreira



Quando deixar a Penitenciária Nelson Hungria hoje para ser julgado, o goleiro Bruno Fernandes de Souza, apesar da ansiedade e do medo de ser condenado, vai tentar manter a frieza e a concentração de quem entra em campo para uma grande decisão. Segundo advogados que já passaram pelo caso, esse tem sido o comportamento do detento, mesmo após mais de dois anos e sete meses atrás das grades, para tentar enfrentar a realidade na prisão e manter o mesmo espírito de liderança de quando era capitão do Flamengo. “Ele prefere passar o dia inteiro trabalhando fora do pavilhão para ocupar a cabeça com outros pensamentos e o tempo passar mais rápido. Só volta à cela à noite, para dormir”, conta o ex-defensor do preso Rui Caldas Pimenta.
Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Civil (Seds), a rotina do Bruno é praticamente a mesma dos demais detentos. Acorda pontualmente às 7h30 e recebe o café da manhã na cela. Ao meio-dia almoça. O lanche da tarde, pão com manteiga e café com leite, chega às 15h. O jantar é distribuído às 18h. “Como todos os prisioneiros, Bruno faz uma alimentação balanceada e inspecionada por nutricionista. Há, em geral, arroz, feijão, carne e salada”, informou a Seds.

O goleiro ocupa cela individual de seis metros quadrados no Pavilhão 4. Nela há uma cama de alvenaria e banheiro com chuveiro de água fria, pia e vaso sanitário. Bruno, a exemplo dos demais presos, recebeu de parentes uma televisão, de 14 polegadas, e um rádio. Não há limitação de horário para ligar os aparelhos, desde que o som não atrapalhe celas vizinhas. O banho de sol é diário, por duas horas, no pátio, mas os horários são alternados entre os pavilhões da unidade.

Ainda de acordo com a Seds, o goleiro recebe visitas quinzenalmente, alternando entre sociais e íntimas. São apenas dois visitantes por dia. A dentista Ingrid Calheiros, que se casou com o atleta em uma celebração evangélica dentro do presídio, é a única cadastrada para passar a noite com ele a cada 15 dias. Além dela, para as visitas sociais estão cadastradas a avó do detento, um tio e duas filhas dele com a ex-mulher Dayanne Rodrigues. Há duas semanas as filhas foram levadas por parentes para visitá-lo. Elas não viam o pai havia oito meses, pois a mãe deixou de ir ao presídio.
Os visitantes podem levar alimentos já prontos, desde que sejam consumidos no próprio dia, além de produtos não perecíveis, material de higiene pessoal e refrigerante de cor transparente, a fim de evitar a entrada de objetos não permitidos.

A avó do goleiro, Estela Souza, não o vê desde agosto. “Estou muito doente, com problemas de coração e pressão alta”, disse ela, reclamando que Bruno não vem mandando cartas ou recados para ela. Duas tias do goleiro, Aparecida e Ângela, é que vão à penitenciária e dão notícia a dona Estela. “Sempre faço alguma coisa que ele gosta de comer e mando por elas. Meu neto adora pudim”, disse. Perguntada se tem esperança de vê-lo inocentado, ela responde: “Só Deus para saber”.

Com o tempo, o número de cartas endereçadas a Bruno diminuiu. Antes, o ex-capitão do Flamengo recebia cerca de 10 correspondências por semana, mais de 30 por mês, muitas delas de fãs. Depois, as cartas passaram para cinco por semana. Em fevereiro, segundo a Seds, Bruno não recebeu nenhuma.

LAVANDERIA O atual advogado de Bruno, Lúcio Adolfo da Silva, conta que seu cliente leva a vida como qualquer outro preso e que atualmente trabalha na lavanderia. “Acorda cedo, arruma sua cela, toma o café e vai para a lavanderia. Depois, volta para almoçar na cela. Pratica exercícios físicos durante o banho de sol, mas não joga bola”, disse Lúcio Adolfo. “A situação do Bruno é muito traumática, mas ele tenta se manter tranquilo e está esperançoso de ser absolvido. Bruno não tem nenhuma regalia na prisão, mas é muito bem respeitado e bem tratado por todos”, acrescentou o defensor.

A Seds informou que Bruno já trabalhou na faxina do pavilhão, de julho de 2011 a agosto de 2012. Nesse período, além de remissão da pena de um dia para cada três trabalhados, o preso recebeu três quartos do salário mínimo. De junho a agosto de 2012, trabalhou apenas por remissão e não recebeu salário. Hoje, Bruno trabalha das 8h30 às 15h na lavanderia da Nelson Hungria, a pedido dele próprio. “Ele começou no local há cerca de dois meses, onde atua apenas por remissão de pena”, informou a Seds.

Lúcio Adolfo conta que os conselheiros do Bruno têm sido os advogados, mas que ele sempre recorre à opinião da dentista Ingrid quando vai tomar alguma decisão. Para Rui Pimenta, o goleiro é um “cabeçudo”. “Ele escuta muito a gente, mas nem sempre pede opinião. Age conforme a cabeça dele. Ele tinha opinião formada como goleiro do Flamengo e levou esse espírito de liderança para a prisão”, disse o advogado.

Companheirismo ficou na tatuagem

A amizade entre Bruno e Macarrão, estampada nas costas do ex-braço direito do goleiro em forma de tatuagem, parece ter ficado no salão do júri do fórum de Contagem. Em seu primeiro ano na Nelson Hungria, o goleiro chegou a dividir a cela com o amigo. “Depois, Macarrão foi levado para outro pavilhão e eles trocavam cartas, que eram levadas por parentes. Todo o conteúdo passava pelo crivo da administração”, disse Rui Pimenta, que foi advogado do goleiro durante um ano e três meses. Em novembro, o preso trocou de defensor quando foi mandado ao banco dos réus e seu júri foi adiado. Macarrão acabou condenado na mesma época, depois de admitir pela primeira vez que Eliza Samudio foi levada para a morte por influência de Bruno.

Mas as divergências entre os dois começaram antes mesmo do julgamento em que o ex-braço direito do goleiro foi condenado a 15 anos de reclusão. “Antes eles eram amigos mesmo. Isso, a gente pode perceber nas cartas que eles trocavam na prisão. Mas, de uma hora para outra Macarrão discordou do posicionamento do Bruno e os dois começaram a ter desentendimentos, muitas vez por interferência das famílias deles”, disse Rui Pimenta. Lúcio Adolfo, atual defensor de Bruno, afirma que o cliente ficou muito decepcionado com a postura de Macarrão ao incriminar o ex-chefe e amigo. Mas hoje diz não saber como é o relacionamento dos dois, nem dos respectivos familiares.


MULHERES Enquanto manteve contatos com Bruno na prisão, Rui Pimenta disse ter percebido que ele é tranquilo, principalmente em relação às mulheres com quem já conviveu ou vive. “Tem as explosões dele de vez em quando, mas fica calmo rapidamente e volta a falar manso e baixinho, mas nunca irado”, afirmou Pimenta.

A ex-mulher Dayanne, que estava presa na Penitenciária de Mulheres Estêvão Pinto e conseguiu o benefício de responder ao processo em liberdade, visitou o atleta por algumas vezes na Nelson Hungria. Depois se afastou, e parentes do goleiro passaram a levar as filhas do casal. “Bruno sempre recebeu visitas da noiva Ingrid. Depois de um certo período, eles se casaram numa cerimônia religiosa dentro do presídio e a dentista passou a fazer visitas íntimas”, disse Pimenta.

A comida de Bruno é a mesma servida aos demais presos, mas o bom relacionamento dele com os detentos da cozinha garante regalias. “É evidente que ele tem tratamento diferenciado. A comida chega quentinha, na hora que sai do fogo, e não vai em marmitex. Tanto é que ele suportou bem até hoje. As visitas também levam alimentos e material de higiene pessoal para ele”, disse Pimenta, ressaltando que Bruno não faz parte de nenhum grupo ou se envolve em movimento de presos. Por algum tempo, segundo o advogado, Bruno bateu uma “pelada” com outros presos durante o banho de sol, na linha e no gol, mas depois parou.

 

 

 

Mãe de Eliza: um recado para Bruno

Sônia Moura, mãe de Eliza Samudio, chegou ontem a Belo Horizonte com a esperança de ver o goleiro Bruno deixar o Tribunal do Júri de Contagem condenado. “Hoje, o justo seriam os 41 anos de prisão”, disse, acompanhada da advogada Maria Lúcia Borges. Ansiosa, sem dormir direito na noite anterior, Sônia disse que espera por esse momento há três anos, mas que sua tristeza não se encerra com a condenação, caso os jurados entendam que Bruno é culpado, porque o corpo da filha ainda não foi localizado e continua a luta pela pensão alimentícia do neto Bruninho.

“Ele mandou fazer e era o único que poderia ter evitado isso. Gostaria de mandar um recado para o Bruno, para ele quebrar o silêncio. É meu direito e do meu neto saber o que foi feito com o corpo de Eliza”, desabafou Sônia, que gostaria que a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues concedesse um momento para ela conversar com o goleiro, “olho no olho”. “Vai ser difícil acompanhar esse julgamento, porque ele é pai do meu neto e assassino da minha filha. Mas minha expectativa é pela condenação dos réus.”

CONFISSÃO IMPROVÁVEL A advogada Maria Lúcia não quis adiantar como será o trabalho dos assistentes de acusação, mas acredita que a situação do atleta está cada vez mais complicada. “Não creio que a defesa consiga amenizar”, afirmou, ao deixar o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, Grande BH. “Não acredito que ele vá confessar. Os outros podem abrir a boca, ele não”.

A defensora também confirmou que o goleiro ainda deve pensão alimentícia ao filho e que parte do dinheiro arrecadado com a venda do sítio de Bruno em Esmeraldas, na Grande BH, serviu para abater a dívida, como o Estado de Minas mostrou com exclusividade semana passada. No processo que corre na 1ª Vara de Família do Rio de Janeiro, o sítio estava bloqueado e não podia ser vendido. Como houve um contrato particular e o novo dono não conseguiu lavrar a escritura em seu nome, o juízo entendeu que o comprador deveria pagar diretamente à representante de Bruninho, como parte do pagamento da dívida de pelo menos R$ 500 mil. Por causa do negócio, o menino já recebeu cerca de R$ 200 mil.

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