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Estado de Minas

Bruno vai se converter à Igreja Evangélica Restaurando Vidas

Goleiro se prepara para ser batizado em igreja evangélica, na qual também quer se casar, mas nem aos religiosos deu detalhes sobre o que realmente ocorreu com Eliza Samudio


postado em 06/06/2012 06:00 / atualizado em 06/06/2012 06:59

(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press %u2013 28/6/11)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press %u2013 28/6/11)

O ex-goleiro do Flamengo e do Atlético Bruno Fernandes das Dores de Souza, de 27 anos, se converteu à Igreja Evangélica Restaurando Vidas (IERV), na qual disse aos pastores que pretende ser batizado e se casar, mas sequer aos líderes espirituais o atleta contou o que ocorreu com a ex-amante e mãe de seu filho, Eliza Samudio. O desaparecimento da modelo, aos 25 anos, completa dois anos no sábado. “Tenho consciência dos fatos que ocorreram (o sumiço de Eliza). Deus sabe a verdade do que aconteceu. O que Ele decidir que é minha culpa eu vou cumprir, mas não é nada disso que a mídia está falando”, declarou Bruno ao pastor Anderson Duarte, presidente da IERV, que, em entrevista ao Estado de Minas, revelou detalhes sobre a conversão e o comportamento do atleta, convertido em janeiro.

Também completa dois anos, no mês que vem, a prisão do goleiro por sequestro e homicídio. No primeiro processo, o atleta já conseguiu liberdade condicional. Sua defesa aguarda agora julgamento de pedido de habbeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), relativo à prisão sob acusação de assassinato, no qual o advogado alega ter havido cerceamento de defesa, ofensa ao princípio da presunção de inocência do ex-goleiro, além de sustentar que o clamor popular prevaleceu sobre as provas. “Se tivesse sido condenado por homicídio simples, que tem pena de seis anos, o Bruno já teria direito ao regime semiaberto, por cumprir um terço da pena. Estou confiante que vamos conseguir”, afirma Rui Pimenta, um de seus defensores.

A data para o julgamento não foi ainda definida, mas o Ministério Público Federal (MPF) já se manifestou contra a soltura do goleiro para aguardar julgamento no tribunal do júri, por considerá-lo perigoso e passível de influenciar testemunhas e demais envolvidos no caso. A subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio Marques, em parecer enviado ao STF, destaca o que considera “extrema periculosidade” do atleta, “denotada no modus operandi que teria empregado para praticar os vários crimes, perpetrados com requintes de crueldade e frieza, em verdadeira afronta à ordem pública e ultraje à vida do ser humano, além do total desrespeito aos poderes repressivos do Estado”.

Conversão

Os pastores Aline e Anderson dizem que atleta
Os pastores Aline e Anderson dizem que atleta"encontrou a luz", mas Ministério Público Federal o considera perigoso e é contra sua libertação (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
O pastor Anderson Duarte lembra do culto de janeiro deste ano, quando Bruno se converteu. Segundo ele, foi a passos lentos, cabisbaixo, que o atleta surgiu de trás de prisioneiros que oravam usando as roupas vermelhas da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). No pequeno salão escuro do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, o atleta se aproximou do religioso e perguntou se era ele quem ia cuidar do atendimento espiritual do seu pavilhão. “Respondi que sim e ele pediu para receber uma oração, pois estava precisando. Foi a mão de Deus que o trouxe para a luz”, considera o religioso.

Depois, Bruno, que é acusado de ter arquitetado o desaparecimento da ex-amante, se dirigiu à pastora Aline Duarte, também presidente da igreja, mulher de Anderson. Em um papel, ela anotava nomes de pessoas para quem os presos queriam dedicar preces. “Anota os nomes das pessoas da minha família e ora por elas, pastora? A minha família está precisando muito de oração”, pediu o atleta, como descreve a religiosa. “O Bruno estava muito preocupado com a família, com as filhas. De início, não o reconheci, porque havia muita gente no culto. Só depois que me deu o nome é que soube quem ele era”, conta.

O ex-goleiro deveria ter sido batizado na última quinta-feira, mas isso não ocorreu. Outro defensor de Bruno, o advogado Francisco Simim, informou que a presença de helicópteros de emissoras de TV sobre o espaço aéreo do complexo penitenciário fez com que a direção da unidade prisional cancelasse o ritual. A Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) informou que não interfere na dinâmica desses cultos, pois há liberdade religiosa no espaço. Os pastores que presidem a IERV informam desconhecer o motivo do adiamento. “Vieram oito presos que iam ser batizados juntos, mas fomos informados de que o Bruno não viria mais. Não perguntamos por que, mas não ouvimos ou vimos qualquer helicóptero. Agimos de forma muito natural. Vem quem pode, fazemos apenas o que é permitido”, disse a pastora Aline Duarte.


Silêncio sobre os amigos e orações pelos parentes

Nos cultos que frequenta há cinco meses, Bruno não fala sobre os outros acusados de participar do desaparecimento da modelo Eliza Samudio, segundo os pastores da Igreja Evangélica Restaurando Vidas. Também no do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, está preso preventivamente Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, que era o braço direito de Bruno, mas eles ficam em pavilhões separados.

Quando não está orando entre os presos nos cultos, Bruno comenta sobre sua família e a saudade que tem de coisas prosaicas. “Ele fala muito da vontade que tem de almoçar a macarronada da vovó. Diz que hoje se sente verdadeiramente feliz. Queria se batizar e casar com a noiva”, conta a pastora Aline Duarte. “Isso acontece com muitos presos. Eles se lembram de coisas importantes que tinham e não davam tanto valor até que as perderam. Não adianta nada o dinheiro e o poder se a pessoa não leva a vida no caminho correto”, considera o pastor Anderson. “Acredito que ele já encontrou o seu caminho, resta a oportunidade de ele manifestar e mostrar a sua mudança para a sociedade”, afirma o religioso.

Para o ritual do batismo os pastores usam uma piscina de plástico desmontável com capacidade para 2 mil litros. O fiel entra na água com o pastor e é imerso nela, para simbolizar seu ingresso na religião. Os reresentantes da igreja disseram não haver previsão para que o batismo de Bruno seja concretizado.

“Demora um pouco para organizar tudo, mas pode ser que ocorra nos próximos dias”, disse o pastor Anderson. “É preciso fazer um estudo bíblico. Não são todos (os presos) que são liberados. É preciso haver bom comportamento para a direção liberar o preso. Precisamos ainda de uma autorização interna para fazer os preparativos”, conta. A IERV surgiu em 2008, em Contagem, e desde então faz trabalhos em comunidades carentes locais, com prostitutas e viciados em drogas, e também na Penitenciária Nelson Hungria. Só na instituição prisional os pastores atendem perto de 1.700 presos, dos quais pelo menos 50 já se converteram e pretendem ser batizados.


MEMÓRIA: Oito suspeitos em enredo macabro

 Bruno Fernandes de Souza e outras sete pessoas são acusados de sequestro, homicídio triplamente qualificado e ocultação do cadáver de Eliza Samudio, em junho de 2010. Segundo as investigações, o atleta do Flamengo, ao saber que a mulher estava grávida e pedindo dinheiro, passou a ameaçá-la, exigindo que abortasse. Ela chegou a prestar queixa à polícia do Rio de Janeiro em 2009. Após o nascimento do filho do casal, em 10 de fevereiro daquele ano, o plano teria sido arquitetado e a mulher, morta no sítio do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. São também acusados Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, funcionário de confiança do goleiro; Sérgio Rosa Sales, primo do atleta; Dayanne de Souza, ex-mulher de Bruno; Fernanda Castro, ex-namorada; Elenílson Vítor da Silva, ex-caseiro do sítio de Bruno; Wemerson Marques de Souza, amigo do goleiro; e um jovem primo de Bruno que era menor na época e por isso cumpre medida socioeducativa. Em 7 de julho de 2010 o Tribunal de Justiça de Minas Gerais expediu mandado de prisão dos envolvidos. Bruno foi detido no Rio de Janeiro e transferido dois dias depois para a Penitenciária Nelson Hungria.
 

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