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Estado de Minas ENTREVISTA

Camila Abdelmalack: "Não há bolha na bolsa brasileira"

Especialista diz que "bolha é quando existe um movimento exagerado, em que os ativos não condizem com a realidade", o que não seria caso do Brasil


postado em 17/02/2020 04:00 / atualizado em 17/02/2020 10:02

(foto: Veedha/Divulgação)
(foto: Veedha/Divulgação)

São Paulo – A executiva Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, um dos maiores escritórios associados da XP, tem sob gestão mais de R$ 2,5 bilhões e cuida do patrimônio de milhares de clientes. Com projeção de alcançar R$ 4 bilhões sob custódia neste ano, o escritório aposta no crescimento da economia brasileira, num ambiente de Selic baixa e na recuperação do PIB. Para Camila, os temores de um esfriamento da economia global, com efeitos sobre o Brasil, são exagerados. Confira a entrevista completa a seguir:

Quais são as perspectivas para a economia brasileira neste ano, depois do impacto causado pela proliferação do coronavírus e a desaceleração da atividade econômica na China?
É muito precipitado associar o coronavírus ao crescimento do Brasil. O movimento de revisão baixa nas estimativas de crescimento econômico decorre da percepção de um arrefecimento da economia global mesmo antes do coronavírus. A contribuição do setor externo vem diminuindo nesse contexto, mas isso não implica cenário caótico para o Brasil. A atividade deve se beneficiar da taxa de juros baixa, com algum dinamismo nos investimentos. A construção civil e o mercado imobiliário voltaram a dar sinais positivos e alguns setores da indústria se beneficiam desse movimento. Apesar de o crescimento do Brasil estar abaixo da média para os emergentes, a trajetória deles é de desaceleração, enquanto o Brasil está saindo de um PIB ao redor de 1% em 2019 (o dado ainda será divulgado pelo IBGE) para 2% em 2020. O número não parece tão animador, mas temos que considerar o movimento positivo.

Qual será o efeito prático no resultado das exportações, com a queda na cotação de commodities como petróleo e minério de ferro?
A desvalorização das commodities aconteceu antes do coronavírus, num contexto de desaquecimento da economia global, de guerra comercial entre China e Estados Unidos e de crise na Argentina. O superávit comercial em 2020 já tinha uma redução projetada devido ao cenário desenhado, em cerca de US$ 8 bilhões em relação aos R$ 46,6 bilhões observados em 2019. Existe um efeito no preço das exportações, até porque o Brasil exporta mais produtos relativamente essenciais, mas ainda não sabemos a real dimensão desse fenômeno.

Os investidores internacionais, a julgar pela forte saída de dólares do Brasil, já se frustraram com o crescimento do país em 2020?
A saída do investidor estrangeiro não é justificada exclusivamente pela frustração com o crescimento econômico. Temos que lembrar que o investidor estrangeiro ingressava no mercado doméstico, principalmente, por meio de operações de especulação, operando o diferencial da taxa de juros, o chamado carry trade . O investidor estrangeiro pegava dinheiro emprestado a juros baixos em países como Estados Unidos e aplicava este mesmo recurso em países de juros mais altos, como era o caso do Brasil, quando a taxa Selic estava em patamares mais elevados, correndo apenas o risco da variação cambial. Portanto, grande parte do refluxo de dólares decorreu do processo de redução da taxa de juros real, que agora está abaixo de 1%. Assim, houve uma retirada expressiva de títulos de renda fixa.

Esse processo deve ser motivo de preocupação?
Os números da saída de investimento em ações estão ganhando o noticiário, como um movimento alarmante de falta de otimismo do estrangeiro na economia brasileira. Realmente, o estrangeiro está desalocando parte de sua posição na bolsa brasileira, mas é preciso dizer que o estoque dele atualmente representa cerca 40% no mercado acionário. Uma pequena redução dessa participação também é justificada pela demanda do investidor institucional, que no cenário de taxa de juros real próxima de zero exige diversificação para rentabilidade.

Na sua avaliação, a bolsa brasileira vive uma bolha, com seu expressivo crescimento nos últimos meses?
Não, uma bolha é quando existe um movimento exagerado, em que os ativos não condizem com a realidade. O Ibovespa (principal índice da Bolsa de São Paulo) subiu 30% em 2019. Ou seja, apenas corrigiu a queda das taxas de juros nos modelos de avaliação de risco. As empresas têm reportado resultados sólidos e positivos, o que é um importante indicativo de que não estamos numa bolha.

Existe um novo “Magazine Luiza”, empresa que deu retornos extraordinários para os investidores nos últimos anos, na bolsa brasileira?
Existem vários. Por muito tempo ficamos estagnados, por conta dos juros altos e também pelo período de recessão. O Magazine foi uma empresa que soube se adiantar e se modernizar, capturando todas as expectativas de melhora da economia brasileira, o que fez com que suas ações se valorizassem mais de 3.000%. Conversando com os sócios da Veedha , vemos diferentes setores podendo seguir fortes valorizações, a depender da continuidade de melhora da economia. É o caso da empresa de tecnologia Sinqia, da varejista Via Varejo e da companhia de saúde NotreDame Intermédica.

Quais são os setores da economia que devem apresentar os melhores desempenhos neste ano?
Acredito que as melhores oportunidades se darão em setores com forte correlação com o crescimento interno e não daqueles que dependam do cenário externo. Setores de consumo, construção civil e saúde podem se destacar em 2020.

Para destravar a economia, o que deverá ser feito pelo governo neste ano?
Fechar o gap de infraestrutura aumentaria a produtividade e contribuiria para deslanchar a economia. O estoque de capital público e a qualidade da infraestrutura do Brasil são mais baixos do que nos países pares, devido ao baixo investimento público nas últimas duas décadas. A redução do déficit de infraestrutura exigirá que os fundos públicos de investimento sejam gastos com mais eficiência e complementados pela mobilização de capital privado, por meio de concessões.

Quais são suas projeções para PIB, dólar e desemprego neste ano?
Para 2020, acredito que 2% é um crescimento razoável, numa situação em que o mercado de trabalho pode experimentar alguma recomposição, mas com a taxa de desemprego ainda pressionada. Nesse contexto, uma taxa de desemprego ao redor de 11,2% parece o cenário para 2020. A taxa de câmbio, e relação entre o real e o dólar, deve encerrar o ano em um patamar entre R$ 4,10 e R$ 4,15. Uma acomodação para algo próximo desse patamar deve acontecer até o fim do primeiro trimestre, caso não aconteça algum evento fora da previsibilidade dos analistas, como o acirramento do conflito entre Irã e Estados Unidos e, principalmente, o alastramento do coro- navírus. Se não fossem esses eventos, estaríamos oscilando no nível que projeto para até o fim do trimestre.

Quais são as maiores oportunidades em termos de investimento neste ano?
Os fundos imobiliários são uma aposta, com a melhor relação entre risco e retorno no ano de 2020. Também acredito que a bolsa terá um movimento interessante de alta, porém sujeito à volatilidade. Mas, sem dúvidas, os fundos imobiliários e depois ações estão no topo da lista.

Entre as reformas previstas para este ano, além das concessões e privatizações, quais são as que inspiram mais otimismo?
Acredito que muito do otimismo já está sendo contido pela compreensão de que ingressamos em ano de eleição municipal. Além de reduzir a janela de oportunidade de discussões mais complexas, como pacto federativo, a eleição não favorece temas que são polêmicos, como a reforma administrativa. Outro tema altamente impopular no Congresso é a privatização da Eletrobras. O otimismo talvez fique para o PL do saneamento básico, a autonomia do Banco Central e a reforma tributária.



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