Jornal Estado de Minas

COR DA PELE

Viola Davis declara que racismo leva à falta de oportunidade em Hollywood



A homenageada do Festival de Cinema de Cannes de 2022, Viola Davis, revelou em uma entrevista à Variety, que, certa vez, um diretor a chamou pelo nome da empregada que trabalhava na casa dele. A atriz também analisa como os papéis oferecidos aos atores negros em Hollywood ainda são limitados, devido ao preconceito com a cor de pele.



“Tive um diretor que fez isso comigo. Ele disse: 'Louise!' Eu o conhecia há 10 anos e ele me chamava de Louise. Descobri que é  o motivo é por ser  Louise o nome da empregada dele”, disse Davis. “Eu tinha cerca de 30 anos na época, então foi há algum tempo. Mas o que você precisa perceber é que essas microagressões acontecem o tempo todo”, completa a atriz, hoje com 56 anos. 

Viola é dona de um currículo invejável, sendo uma das poucas personalidades de Hollywood que ganhou um Globo de Ouro, um BAFTA, quatro SAG Awards, dois Tony Awards, um Oscar e um Emmy. Por isso, e por seu compromisso com os direitos das mulheres e minorias, Viola receberá o prêmio Women In Motion (Mulheres em Movimento) em um jantar marcado para o dia 22 de maio.

A atriz protagonizou a série “How to Get Away With Murder” por seis temporadas. Apesar de a série ter quebrado barreiras e ter se tornado um marco na representatividade na TV, Viola afirmou que a série não abriu portas para mais mulheres negras protagonizarem. 




 
“Sei que, desde quando saí de ‘How to Get Away With Murder’ ,não vejo muitas mulheres de pele escura em papéis principais na TV e nem mesmo em serviços de streaming”, disse Viola. “Por que você não está contratando uma mulher de pele escura quando ela entra na sala e você diz que ela te surpreende? Crie espaço e narrativa para ela. Para que quando ela prosperar, não prospere apesar da circunstância, mas por causa da circunstância.”

Como exemplo, Viola disse que se quisesse fazer o papel de uma mãe cujo filho fosse membro de uma gangue e tivesse morrido em um acidente de carro, ela poderia. Mas se quisesse interpretar uma mulher que estava procurando se recriar voando para Nice, na Itália, e dormindo com cinco homens aos 56 anos, ela teria dificuldade em conseguir o papel, mesmo sendo Viola Davis. “As pessoas não conseguem conciliar a negritude com o despertar espiritual e a sexualidade. É demais para eles”, afirma. 

A rejeição a tores e atrizes negras é baseada na raça. "Sejamos honestos. Se eu tivesse as mesmas características e fosse cinco tons mais clara, seria um pouco diferente. E se eu tivesse cabelos loiros, olhos azuis e até nariz largo, seria um pouco diferente do que é agora. Poderíamos falar sobre colorismo, poderíamos falar sobre raça. Isso me irrita e partiu meu coração – em vários projetos, que não vou citar”.




Viola e seu marido, Julius Tennon, fundaram a produtora JuVee Productions, que tem como objetivo expandir as histórias contadas em Hollywood e dar  oportunidades às minorias, uma vez que as opções para atrizes e atores negros ainda são muito limitados em Hollywood.

*Estagiária sob supervisão.
 

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