Jornal Estado de Minas

TRANSFOBIA

Nego Di faz stand-up com falas transfóbicas direcionadas a Linn da Quebrada


Durante uma apresentação do stand-up “98% - O Show”, na última quarta-feira (27/4), em Canoas (RS), o ex-BBB Nego Di emitiu falas transfóbicas direcionadas a Linn da Quebrada, participante do reality na edição de 2022. O humorista também já foi criticado este ano por fazer comentários sobre o vitiligo de Natália Deodato quando a sister teve um vídeo íntimo vazado nas redes sociais.





Em um vídeo que viralizou no último fim de semana nas redes sociais, Nego Di começa falando sobre compartilhar nudes - fotos íntimas - em grupo de amigos, e segue com comentários transfóbicos. “Se for homem, tem que mandar foto da peça , se for mulher, tem que mandar foto da peça do namorado, e se for mulher e não tiver namorado, tem que assinar o ‘close friends’ da Linn da Quebrada, tirar um print e mandar”, fala ele.

“Quem não sabe quem é Linn da Quebrada, é a travesti que estava no BBB até agora há pouco e que acabou de sair. Agora é assim que fala: a travesti. Porque quando é travesti, é que ainda tem a peça , que ainda não deu o ‘cut’, ainda não cortou”, continua Nego Di no palco enquanto gesticulava apontando para a própria virilha.

Em seguida, ao explicar que foi assistir à primeira festa do BBB22, diz que ficou confuso ao ver Linn da Quebrada beijar a sister Maria e debocha de sua sexualidade.

“Do nada, o ‘bagulho’ mais aleatório da minha vida, não sei se vocês viram isso aí, a travesti pegou uma ‘mina’. Beijou uma ‘mina’! O que é isso? Os ‘traveco’ quer me enlouquecer? O que ela quer, o que ele quer, o que elu quer? O cara vira mulher, bota um silicone, bota cabelo, toma hormônio para sair para pegar umas ‘mina’? Eu nunca tinha visto ‘traveco’ ‘machorra’ na minha vida”, diz ele enquanto a plateia ri. Ao ver que a tentativa de piada dava certo entre seu público, ele solta: “Aqui vocês podem rir disso, ninguém vai preso, só eu”.





As falas de Nego Di geraram grande repercussão nas redes sociais, onde foi amplamente criticado. “Ele foi proposital e exclusivamente transfóbico para atacar a Lina, porque ele simplesmente não aceita que o mundo está dando - ainda que lentos - passos para frente e deixando pessoas como ele para trás”, comenta uma usuária do Twitter.


Muitos ainda pedem que o brother seja preso, levando em consideração que, em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu enquadrar casos de homofobia e transfobia no crime de racismo após demora inconstitucional do Legislativo em tratar do tema.


Após a grande repercussão do vídeo, o humorista ainda debocha da comunidade LGBTQIA+ dizendo que “enquanto a lacrolândia ‘tenta’ cancelar comediante por piada, meus números só crescem”. A publicação foi recebida por várias críticas.






O que é ser travesti?

Desde a entrada de Linn da Quebrada no BBB, dúvidas acerca da palavra “travesti” têm surgido entre muitas pessoas. A influencer Alina Durso explica que “o termo ‘mulher trans’ surgiu para higienizar e binarizar a identidade das travestis. Travesti é um termo marginalizado e carrega muitos estigmas e não é à toa que, até hoje, as pessoas acham que é um termo pejorativo”.

Alina, Linn da Quebrada e muitas outras ativistas travestis também comentam sobre não utilizar o termo “traveco” em hipótese alguma. Numa breve explicação que envolve a etimologia da palavra, a educadora Lana de Holanda diz que “o sufixo ‘eco’ implica em algo vulgar, vagabundo, de baixa qualidade e, por isso, “traveco” (...) aponta a travesti como algo menor, descartável, desprezível”, além do fato que “traveco” é masculino e travesti é feminino.

No perfil do Twitter de Linn da Quebrada, a didática é bem simples:
 

Alina também explica que travestis devem ser sempre tratadas no feminino, pois se trata de uma identidade feminina, mas que nem toda travesti se identifica como mulher.





“Ter uma identidade feminina significa utilizar pronomes femininos, se encontrar dentro da feminilidade, mas não, necessariamente, se reconhecer como mulher dentro da binariedade, dos gêneros padrões”, explica. Além disso, fala que é uma identidade política e latino-americana, que não tem tradução em idiomas como o inglês, por exemplo.

Ouça e acompanhe as edições do podcast DiversEM



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