A atriz Amaka Okafor em cena de Corpos

A sargento Shahara Hasan (Amaka Okafor) é a primeira policial a encontrar um cadáver na intrincada trama de "Corpos"

NETFLIX/DIVULGAÇÃO

"Quatro detetives, quatro linhas do tempo, um corpo. Para salvar o futuro da Grã-Bretanha, será preciso resolver primeiro o assassinato que mudou o rumo da história." Com uma sinopse destas, "Corpos" parece aquelas séries de trama tão rocambolesca que pode perder o sentido em seu desenvolvimento.

Mas vale (muito) a pena encarar, ainda que você não tenha a principal referência (é uma adaptação do quadrinho homônimo do britânico Si Spencer). Mesmo com um narrativa fragmentada, que exige um pouco do espectador, tem feito sucesso na Netflix.

Para começo de conversa, não dá para encaixar "Corpos" em um gênero só. É uma trama policial, mas traz muitos elementos de ficção científica. E em mais de um momento pode resvalar para o drama de época.  

BECO

 Tudo começa em 2023. A polícia londrina assiste a um protesto da extrema-direita. No grupo está a sargento Shahara Hasan (Amaka Okafor). As ordens são de não fazer nada, a não ser que haja alguma confusão. Ela avista um jovem com uma arma numa rua lateral assistindo à marcha. Segue-o, e então descobre num beco o corpo de um homem nu, aparentemente baleado no olho.

Depois desta sequência inicial, a trama recua até 1941. Charles Whiteman (Jacob Fortune-Lloyd) é um detetive judeu mulherengo que sofre suspeitas dos colegas antissemitas. Eles realmente devem desconfiar dele, não pela ascendência judaica, mas pelo que faz nas horas vagas. Recebe telefonemas de uma mulher misteriosa e cumpre as ordens - na maioria das vezes, é para matar alguém. Pois Whiteman também encontra um corpo masculino nu e com um dos olhos baleados.

É o mesmíssimo corpo de 2023. Que aparece mais uma vez, a terceira, em 1890. Quem o encontra é o detetive Alfred Hillinghead (Kyle Soller), um nome respeitável na polícia, que faz o estilo pai de família, mas que vai deslizar para o submundo da Londres vitoriana.

Mas a sinopse não falava em quatro detetives? A história vai se complicando, pois chega ao futuro. E quem entra em cena é a detetive Iris Maplewood (Shira Haas, a ótima protagonista de "Nada ortodoxa"). Ela também vai encontrar o tal corpo masculino - mas ele estará em situação diferente do que nas três épocas do passado.

Parece complicado, e é. Mas vai ganhando sentido à medida em que a trama se desenvolve. Um personagem parece ser a chave para tudo: é interpretada por Stephen Graham e tem nomes diferentes. É a detetive Hasan quem abraça o caso mais abertamente, pois descobre que sua família também pode ser alvo. Mãe solteira, cria o filho pequeno com ajuda do avô.

O quebra-cabeças começa a ser montado por ela, enquanto os detetives do passado parecem mais preocupados com as próprias vidas. Whiteman com os crimes que comete por causa da mulher do telefone, e Hillinghead com a vida dupla que começa a ter por causa da investigação. 

Isto tudo vem em pílulas para o espectador. Como estamos falando de uma adaptação de quadrinhos, volta e meia a tela se divide, tal e qual uma HQ. Já que são tantos tempos, "Corpos" vai misturando um pouco de tudo. Tem maçonaria, sessões espíritas, bombardeios, perseguição de carros e inteligência artificial. É uma série fora do padrão - e guarda surpresas até a parte final. 

“CORPOS”
•A série, em oito episódios, está disponível na Netflix