cantora Silvia Gomes

A cantora Silvia Gomes criou a primeira roda de samba "oficial" de Ouro Preto

Weslley André/divulgação
 

"Através do Mestre Jonas, passei a frequentar rodas de samba. Era uma energia tão grande que me assustava. A força e o poder do samba me faziam, muitas vezes, ajoelhar para cantar"

Silvia Gomes, cantora


Silvia Gomes lança seu primeiro álbum, “Canto pra recomeçar”, nesta sexta-feira (7/7). Com 25 anos de carreira, a cantora nascida no distrito de Cachoeira do Campo faz show no Festival de Inverno de Ouro Preto, às 22h.

As 11 faixas remetem à trajetória de Silvia no samba de Minas Gerais. Entre elas há composições de Mestre Jonas. O cantor e compositor Sérgio Pererê faz participação especial, encerrando o álbum.

O repertório evoca a religiosidade afro-brasileira e enaltece a ancestralidade formadora do cancioneiro mineiro, mesclando congado, afoxé, moçambique, maracatu e jongo.

“Canto pra recomeçar” foi gravado no auge da pandemia de COVID-19 em Ouro Preto, Belo Horizonte e Entre Rios de Minas. “Quando começamos o projeto, a proposta era registrar as músicas que eu cantava, às quais o público só tinha acesso em rodas de samba. Elas fazem parte da minha história”, explica Silvia Gomes.

ROÇA 

Uma das influências dela veio de cantigas afro-brasileiras, do “samba da roça”, como se diz. “Hoje, quando olho para ‘Canto pra recomeçar’, vejo um resultado musical e artístico que me deixa muito feliz. Durante todos esses anos, eu e meus parceiros conseguimos desenvolver uma linguagem diferente. Não é como se inventássamos a roda, mas o 'samba da roça' tem essência peculiar e especial”, afirma.

“Volta de Lua”, de Miguel dos Anjos, é a primeira faixa, a única carioca do disco. Composta especialmente para Silvia, ficou guardada por muitos anos. A letra remete a “Ponto de malandro”, tema popular das religiões de matriz africana.

“'Ponto de malandro' é a própria força da malandragem, no sentido da profunda inteligência e sabedoria. Incorporar esse ponto na canção foi muito intuitivo, uma forma de agradecer aos divinos”, afirma Silvia.

Inspirada por Leci Brandão, Dona Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra, a mineira gravou sua versão de “Clássico ballet”, do belo-horizontino Dé Lucas. “Ela me derrete enquanto canto. Já me derretia todas as vezes em que ouvia Dé cantando. Ele diz uma coisa que me toca muito: o pagode é fundamento. A letra relembra grandes nomes femininos do samba e do pagode, como Leci, Dona Ivone e Jovelina, que trago para o meu álbum também”, explica.

Cada faixa é homenagem a estilos e artistas que marcaram a vida de Silvia Gomes. Sérgio Pererê, por exemplo, é uma referência para ela. “Falei para Sérgio que queria sua participação no disco, mas não cantando. Queria ouvi-lo rezando. Ele gravou em casa durante a pandemia, mandou para mim e achei lindo. É uma reza da mãe dele, dona Fininha, nas orações de família. Foi uma forma muito especial de encerrar o meu álbum”, afirma a cantora.

Mestre Jonas, falecido em 2011

Mestre Jonas, falecido em 2011, é homenageado com duas canções no disco de Silvia

Marco Aurélio Prates/divulgação

MANDRÁGORA 

Silvia Gomes iniciou sua carreira em 1998, no grupo Mandrágora. Em 2001, conheceu Mestre Jonas, o compositor que viria a guiá-la nas rodas de samba de Minas.

“Meu primeiro encontro com Mestre Jonas foi na Bahia. Estávamos hospedados no mesmo hotel e logo criamos conexão muito forte, um amor musical”, relembra.

O belo-horizontino Jonas Henrique de Jesus Moreira era violonista, compositor e idealizador do projeto Samba da Madrugada, que agitava as noites no bairro de Santa Tereza, na capital. Morreu aos 35 anos de acidente vascular cerebral (AVC), em 2011.

“Convivemos por 11 anos e nesse meio tempo comecei a cantar canções dele. Através do Mestre Jonas, passei a frequentar rodas de samba. Era uma energia tão grande que me assustava. A força e o poder do samba me faziam, muitas vezes, ajoelhar para cantar. A potência da música me tocava profundamente.”

Inspirada por Jonas, Silvia criou sua própria roda de samba em 2016, em Ouro Preto. De acordo com ela, os ensinamentos do amigo lhe deram força para continuar trilhando seu caminho musical. “Santos e luz” e “Não pagarei com o mal” são as canções dele no disco. “No meu repertório, sempre cantarei Mestre Jonas. Vai ser assim até o fim”, conclui.

*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

SILVIA GOMES
• Show de lançamento do álbum “Canto pra recomeçar”, no Festival de Inverno de Ouro Preto.
• Nesta sexta-feira (7/7), às 22h, na Praça Tiradentes, Centro Histórico de Ouro Preto.
• Entrada franca.