Casal de atores frente a frente em cena da peça Navalha na carne

Montagem de "Navalha na carne" comemora os 10 anos do Grupo Confesso

Januária Vargas/divulgação

Encerrando as comemorações de seus 10 anos, o Grupo Confesso apresenta um clássico da dramaturgia brasileira: “Navalha na carne”, escrita por Plínio Marcos (1935-1999). A peça destaca o cidadão marginalizado que se tornou “invisível” em nosso país. A montagem ficará em cartaz até 25 de junho, de sexta-feira a domingo, no Bar Oratório.

Em 2012, quando Guilherme Colina e Alex Valle se juntaram para formar a companhia, a peça de Plínio Marcos foi a primeira que eles montaram. Colina conta que ficou muito impactado com a história de Neusa Sueli, Vado e Veludo criada por Plínio.

Naquela época, o Bar Oratório funcionava como espaço cultural. Com o passar dos anos, o anexo nos fundos da casa foi desativado e passou a ser uma espécie de depósito. O grupo precisou fazer pequenas reformas para que o local pudesse receber o público.

Na versão mineira assinada pela Confesso, a trama se passa em uma casa de shows. O público fica sentado no meio cenário, bem do lado dos atores.

Neusa Sueli é a prostituta apaixonada pelo cafetão Vado. Veludo é vizinho do estabelecimento em que ela trabalha. Quando some uma quantia em dinheiro, todos passam a ser suspeitos. O relacionamento dos três ganha altas doses de tensão, com chantagem e uso da força física.

O ator e diretor Guilherme Colina diz que sua trupe apresenta uma nova leitura de “Navalha na carne”, com personagens mais humanizados.

“Decidi pensar na história da Neusa Sueli para além da mulher oprimida e violentada. Então, a trouxe como uma pessoa que na infância sonhou em ser bailarina e hoje dança tango. Acho que isso deu muita força à narrativa”, comenta Guilherme.

Por sua vez, Vado simboliza a agressividade do homem que controla o corpo da mulher. Cada personagem revela um lado oculto do ser humano, diz o diretor.

Novo espaço

Se Nelson Rodrigues levou para o palco as mazelas da família brasileira, Plínio Marcos escancara a realidade dos excluídos, construindo uma obra que se tornou marco do teatro brasileiro. Escrita durante a ditadura militar, “Navalha na carne” foi censurada, e Plínio perseguido.

Embora “Navalha na carne” tenha sido encenada pela primeira vez em 1967, a aguda percepção de Plínio Marcos sobre o Brasil continua atual, acredita Guilherme Colina.

“Ainda hoje, em 2023, esses temas (da peça) devem ser pensados e discutidos. Algumas coisas já melhoraram, mas, ainda assim, a opressão e a violência contra a mulher são muito fortes. O preconceito em relação aos homossexuais e aos profissionais do sexo também é uma realidade”, observa.

“NAVALHA NA CARNE”
Peça de Plínio Marcos. Com Grupo Confesso. Bar Oratório (Avenida Brasil, 161, Santa Efigênia). Sessões de sexta-feira a domingo, às 20h. Até 25 de junho. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Ingressos à venda no site Sympla. Nos dias 16, 18 e 23, haverá intérprete de libras.

* Estagiária sob supervisão da  editora-assistente Ângela Faria