Os atores Suzanne Jouannet (Mila Wizman) e Ben Attal (Alexandre Farel) caminham pela rua, à noite, abraçados em cena de 'A acusação'

Ben Attal e Suzanne Jouannet interpretam o casal no centro da trama do longa francês, em cartaz em duas salas em Belo Horizonte

Jerome Prebois/Divulgação


Em cartaz nos cines UNA Belas Artes e Cinemark Pátio Savassi, “A acusação” trata de privilégio, violência masculina, mídias sociais, enfim, o legado do movimento #MeToo. É um drama que passeia por uma “zona cinzenta” e pela dificuldade de encontrar a verdade, em especial quando os envolvidos têm vivências e impressões distintas sobre determinado acontecimento.

Adaptação do romance “Les choses humaines” (o título original do filme, “Coisas humanas”, em português), da escritora francesa Karine Tuil, o longa é dirigido pelo cineasta e ator franco-israelense Yvan Attal. A partir de uma pequena tragédia familiar, ele abre o foco para também discutir a sociedade nos dias de hoje.

Alexandre Farel (Ben Attal, filho do diretor) é um exemplar jovem francês rico de 22 anos. Estudante de engenharia na prestigiosa Universidade de Stanford, nos EUA, retorna a Paris para uma grande celebração. Seu pai, Jean Farel (Pierre Arditi), veterano apresentador de TV (e serial mulherengo, a despeito da idade avançada), vai receber medalha da Legião de Honra. 

O jovem tem plena consciência de que o contato com o pai é sempre mínimo. No enorme apartamento paterno, na área nobre de Paris, com a presença somente da diarista, Alex ouve sua mãe pelo rádio. Claire Farel (Charlotte Gainsbourg) é uma intelectual feminista que está debatendo um caso de estupro que envolve imigrantes ilegais. 
 
 

Piano

Cansada das infidelidades do marido, Claire abandonou o lar e vive hoje feliz e apaixonada em um pequeno apartamento com um professor de literatura, Adam Wizman (Matthieu Kassovitz).
 
Alex vai se encontrar com o casal e, finalmente, conhecer o novo marido da mãe – o clima só melhora quando ele vai para o piano tocar “Nature boy”, standard do repertório de Nat King Cole, a canção preferida de Claire (e que acaba colorindo todo o drama que virá a seguir). 

Pois é aí que entra na jogada Mila (Suzanne Jouannet), a primogênita de Adam, estudante de 17 anos que resolveu morar com o pai porque não aguenta a rigidez da mãe, Valérie (Audrey Dana), judia muito religiosa. Os dois jovens acabam deixando o apartamento para ir para uma festa dos antigos colegas (brancos endinheirados) de Alex. E tudo acontece ali.

“A acusação” é dividida em quatro partes. Na primeira, acompanhamos Alex da chegada a Paris até a noite do fatídico jantar, que termina na manhã seguinte, com a chegada da polícia e uma acusação de estupro.
 
A segunda é centrada em Mila, a partir do momento em que ela chega ao apartamento do pai e vai para a festa com o recém-apresentado filho da madrasta.

A terceira pula mais de dois anos, chegando até o julgamento de Alex, e a última traz o resumo dos melhores momentos do tribunal – aí incluídos flashbacks da noite da festa, exibidos como se fossem de uma tela de celular.

É na segunda metade do filme que vemos como as duas famílias foram despedaçadas. Claire e Adam não estão, obviamente, juntos, ainda que haja sentimento entre eles.
 
Alex perdeu tudo o que tinha – julgado pelas mídias sociais muito antes de ir para a Justiça propriamente dita, dificilmente conseguirá vaga numa universidade da França, dos EUA ou de qualquer lugar. Mila está traumatizada, mal sai de casa, desconfia de tudo e de todos. 

Mas os dois jovens mantêm, no tribunal, o mesmo posicionamento que tinham quando o caso começou. A narrativa coloca o espectador sempre em dúvida se a história é um caso de estupro ou se o acusado gosta de sexo transgressor – e não faltam, no tribunal, detalhes de como Alex gosta de sexo, incluindo depoimento de ex-amante e trechos de livros que tinha na cabeceira.

É também na corte que os dois lados das duas famílias se digladiam, com os personagens fazendo grandes discursos contra e a favor do acusado. Com trama bem-urdida, interpretações seguras – tanto dos jovens quanto dos veteranos – “A acusação” parece um filme feito para ser discutido na mesa do bar após a sessão. Mas já dá para adiantar: não há como ter consenso.

“A ACUSAÇÃO”

(França, 2021, 138min, de Yvan Attal, com Charlotte Gainsbourg, Bem Attal e Suzanne Jouannet) – Em cartaz às 16h e às 20h30 (exceto terça, 1º/11), no UNA Cine Belas Artes; e às 15h50 (sex, sab, seg, ter) e 20h10, no Cinemark Pátio Savassi