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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Artistas do Jequitinhonha são tema de exposição de fotos em BH

Lori Figueiró volta sua câmera para as pessoas que produzem a arte popular da região em mostra em cartaz no Centro de Arte Popular a partir desta quinta (25/8)


26/08/2021 04:00 - atualizado 26/08/2021 07:57

Moradora de São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro, Helena Siqueira Torres cria uma pequena cidade para as lentes do fotógrafo
Moradora de São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro, Helena Siqueira Torres cria uma pequena cidade para as lentes do fotógrafo (foto: Lori Figueiró/Divulgação)

Quando se fala na cultura do Vale do Jequitinhonha , o que primeiro vem à mente são as  cerâmicas, as pinturas e os bordados tão característicos da região . Pois na exposição “Desde o chão do Jequitinhonha”, com abertura nesta quinta-feira (25/08), no Centro de Arte Popular, no Circuito Liberdade, a criação dá lugar ao criador. 

A mostra reúne imagens e objetos do fotógrafo e colecionador Lori Figueiró que retratam o que ele considera o bem mais precioso do Jequitinhonha: as pessoas e suas histórias. É o artista – e não apenas sua obra – que está no foco das imagens.

O curador da exposição, Rafael Perpétuo, considera que essa opção feita por Figueiró é que confere ao conjunto de fotografias um caráter especial, na medida em que foge do lugar-comum. “Ele evita o clichê, ao tirar o foco da arte que é produzida no Jequitinhonha e direcionar o olhar para as pessoas”, diz. 

“Suas fotografias também recusam a ideia de um Vale do Jequitinhonha pobre. O que se vê é uma riqueza da natureza, das pessoas, do conhecimento e dos saberes daquela região. São as pessoas na sua simplicidade de vida, mas longe dessa imagem de pobreza, porque ali, na verdade, tem é muita riqueza”, complementa.

Perpétuo chama a atenção também para o fato de que as mulheres predominam no conjunto em exposição e destaca que Figueiró já lançou um livro dedicado exclusivamente às artistas do Vale. São símbolos da resistência, as matriarcas e filhas que preservam as tradições da região, que sustentam as famílias enquanto os homens estão na lavoura ou na cidade grande. 

Com uma seção da mostra dedicada às mulheres em seu labor, o curador considera que são elas que levam o conhecimento aos mais novos e tentam perpetuar o fazer da arte popular local, em sua relação com o que têm à mão para produzir, constituindo-se, assim, como símbolos da preservação da memória coletiva.

Maria Lira Marques Borges, de Araçuaí, é uma das personagens retratadas na exposição ''Desde o chão do Jequitinhonh''
Maria Lira Marques Borges, de Araçuaí, é uma das personagens retratadas na exposição ''Desde o chão do Jequitinhonh'' (foto: Lori Figueiró/Divulgação)

OFÍCIO

A variedade, segundo Perpétuo, também é uma marca da exposição. “Tem uma gama enorme de imagens, são aproximadamente 50 registros dessas pessoas, desses artistas, muitos deles no exercício de seu ofício, criando a cerâmica, o bordado.  A mostra também tem vários objetos – bonecas do Vale, bordados, cerâmica –, que são da coleção do Lori, que ele adquiriu com essas pessoas de quem tirou fotos”, aponta. 

O curador destaca, a propósito, a estreita relação que Figueiró mantém, há anos, com o povo do Jequitinhonha, e que se reflete, por exemplo, na ONG Memorial do Vale, criada pelo fotógrafo.

“O Lori é nascido em Diamantina, que é a porta de entrada do Vale. Ele criou essa ONG, que tem como objetivo a preservação e a difusão das obras dos artistas que produzem no Vale. Muitas das exposições, dos movimentos e dos eventos que acontecem em torno da cultura do Jequitinhonha são viabilizados através do Memorial do Vale. Ele tem esse trabalho importante de preservação da memória. O sonho de Lori é transformar essa ONG em um museu futuramente. Ele já tem um acervo grande lá, e uma pequena parte está aqui, nessa exposição”, ressalta Perpétuo.

João Rosa da Silva, de Capivari, se deixa fotografar em sua cozinha, movida a fogão a lenha
João Rosa da Silva, de Capivari, se deixa fotografar em sua cozinha, movida a fogão a lenha (foto: Lori Figueiró/Divulgação)


Cada imagem que compõe “Desde o chão do Jequitinhonha” não é somente a fotografia do retratado, mas sim sua própria história, que Figueiró conta dando nome às pessoas, aos povoados e às suas origens, conforme aponta Perpétuo. 

“Não há imagens em vão”, diz. O interesse do fotógrafo, segundo diz, não é somente a visualidade das fotografias; ele tem por intenção preservar a imagem das pessoas como a micro-história do Vale do Jequitinhonha, a memória da região por meio da vida de cada um.

As fotografias apresentadas na exposição são produzidas em composições construídas por Figueiró, nas quais o plano de fundo contrasta com as figuras em primeiro plano, quase sempre em uma postura ereta ou no momento da criação. Perpétuo salienta que, por meio de cenas triviais, o fotógrafo capta, de forma exemplar, o cotidiano, a simplicidade e a grandeza das pessoas da região. “A intenção dos registros de Lori é mostrar que elas, as pessoas, são a essência do Vale do Jequitinhonha”, diz.

Lori Figueiró percorreu diversas comunidades do Jequitinhonha, como Cachoeira do Fanado, em Minas Novas, onde mora Valdete Gomes Fernandes Silva
Lori Figueiró percorreu diversas comunidades do Jequitinhonha, como Cachoeira do Fanado, em Minas Novas, onde mora Valdete Gomes Fernandes Silva (foto: Lori Figueiró/Divulgação)


“DESDE O CHÃO DO JEQUITINHONHA”
Exposição de fotografias de Lori Figueiró. Desta quinta (28/08) a 7/11. Sala de exposições temporárias do Centro de Arte Popular (Rua Gonçalves Dias, 1.608, Lourdes). De terça a sexta, das 12h às 19h; sábados e domingos, das 11h às 17h. 
Entrada franca.


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