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Estado de Minas MÚSICA

Viola caipira é estrela de festival que reúne craques de várias gerações

Destaque da cultura popular, instrumento musical atrai interesse dos jovens e das mulheres. Roberto Corrêa, Cacai Nunes e Paulo Freire estão entre as atrações


17/04/2021 04:00 - atualizado 16/04/2021 20:51

Neste sábado, Adelmo Arcoverde tocará ''Primavera'', de Vivaldi, em sua viola nordestina(foto: Violeiros do Brasil/divulgação)
Neste sábado, Adelmo Arcoverde tocará ''Primavera'', de Vivaldi, em sua viola nordestina (foto: Violeiros do Brasil/divulgação)

Villa-Lobos, Bach, Vivaldi e Ernesto Nazareth se encontram nas cordas da viola caipira, que ganhou um festival on-line só para ela, cuja programação vai até 25 de abril. O evento tem o propósito de chamar a atenção para a diversidade desse instrumento musical, além de abrir espaço para a nova geração de violeiros.

Duos formados por um mestre e seu convidado são as atrações de Violeiros do Brasil Festival On-line. Neste sábado (17/4), será a vez de Adelmo Arcoverde e Laís de Assis. Paulo Freire e João Paulo Amaral vão tocar no domingo (18/4). O fim de semana de encerramento ficará por conta de Ivan Vilela e Bruno Sanches (24/4) e da dupla Roberto Corrêa e Cacai Nunes (25/4). Previamente gravados, os shows serão transmitidos sempre às 20h, via YouTube.

Roberto Corrêa vai apresentar a inédita ''Asfixia%u201D, %u201Chomenagem'' à pneumonia que enfrentou em janeiro (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -21/8/18)
Roberto Corrêa vai apresentar a inédita ''Asfixia%u201D, %u201Chomenagem'' à pneumonia que enfrentou em janeiro (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -21/8/18)

MEMÓRIA

O festival faz parte do Projeto Memória Brasileira, criado por Myriam Taubkin. Ela conta que procurou reunir artistas jovens e veteranos cujos trabalhos trazem características importantes da viola caipira em diversas regiões, do Nordeste ao Sudeste do país.

“Queremos manter acesa a chama da viola. O fato de ser transmitida pela oralidade através do tempo, com pouca história de escrita musical, tem lhe conferido inúmeras possibilidades de invenção. A viola está aberta a qualquer desafio, pois é um instrumento solista e se impõe em qualquer formação, seja na música popular ou de orquestra”, afirma Myriam Taubkin.

O mineiro Tavinho Moura, por exemplo, interpretou duas composições de Heitor Villa-Lobos no festival. Bruno Sanches e Ivan Vilela apresentarão um tema de Gaspar Sanz, do repertório barroco do século 17. Adelmo Arcoverde, tocando viola nordestina, se encarregará de “Primavera”, de Vivaldi. E Cacai Nunes se dedicará a um choro de Ernesto Nazareth.

Myriam Taubkin ressalta que, hoje em dia, a viola caipira é ensinada nas universidades por instrumentistas importantes. Ivan Vilela, Roberto Corrêa (criador de uma série de métodos), Zeca Colares, Fernando Deghi e Braz da Viola são alguns desses professores.

Por outro lado, destaca ela, os violeiros Paulo Freire e Tavinho Moura vêm cuidando da escrita, principalmente de partituras.

O instrumento oferece tantas possibilidades que cabe ao músico “desafiá-lo”. E a juventude abraçou esta missão, comemora Myriam. “Fico impressionada em ver como tantos jovens escolhem a viola hoje. Também me impressiona a quantidade de mulheres que estão passando a tocá-la.”

Compositor, professor, pesquisador, instrumentista e escritor, o mineiro Roberto Corrêa, de 64 anos, criou a disciplina de viola caipira na Escola de Música de Brasília (EMB), na qual deu aulas por mais de três décadas. Ele também é pioneiro das primeiras edições do festival Violeiros do Brasil. “Naquela época, participaram os mestres Zé Coco do Riachão (1912-1998) e Renato Andrade (1932-2005)”, relembra.

Corrêa se refere a dois gênios mineiros da viola caipira. Zé Coco encantava os críticos, como o rigoroso José Ramos Tinhorão, que, ao analisar seu disco de estreia, “Brasil puro”, destacou a capacidade do instrumentista de, ao mesmo tempo, fazer solo e acompanhamento. Autodidata, Zé Coco plantou sua semente no Brasil, deixando discípulos em Minas, São Paulo e Goiás.

Renato Andrade se tornou famoso por levar a viola caipira para as salas de concerto. Estudou violino, mas o trocou pelo instrumento musical associado às festas do povo. O mineiro de Abaeté apresentou peças de Francisco Mignone, Guerra-Peixe e Edino Krieger, entre outros compositores da música erudita. Fiel às raízes mineiras, Andrade deixou aclamada obra autoral e ganhou o apelido de “Guimarães Rosa da viola”.

''Fico impressionada em ver como tantos jovens escolhem a viola hoje. Também me impressiona a quantidade de mulheres que estão passando a tocá-la''

Myriam Taubkin, coordenadora do festival Violeiros do Brasil


DINOSSAURO

Elogiando o festival por valorizar o instrumento e os jovens músicos que se dedicam a ele, Roberto Corrêa comemora o dueto com Cacai Nunes nesta edição do Violeiros do Brasil. “Agora, faço parte dos mestres, dos dinossauros, vamos assim dizer, pois já passei dos 60 e ser lembrado sempre é bom. Cacai é fantástico, toca choro na viola, um especialista. Nasceu no Recife, mora em Brasília e tem um programa de rádio legal, além de ser DJ de forró”, comenta. E aproveita para recomendar o blog do parceiro, chamado Um Brasil de viola. 
   
Corrêa adianta que sua apresentação com o pernambucano, que será exibida em 25 de abril, foi “muito bacana”. Eles gravaram duas músicas juntos. “Estreei uma composição autoral que se chama ‘Asfixia’. Quando a compus, em janeiro deste ano, estava na pior fase de uma pneumonia, com muita falta de ar. Coincidentemente, Manaus estava aquele caos, faltando oxigênio para as pessoas. ‘Asfixia’ é uma música triste e melancólica”, revela.

No encerramento de Violeiros do Brasil, o público ouvirá também “Parecença”, com Roberto Corrêa mostrando técnicas ancestrais de violeiros antigos. “Há também o poema autoral ‘Pacto’, que fala do cerrado, além da ‘Suíte das cobras’”, adianta o professor e instrumentista.

Essa suíte, aliás, foi gravada integralmente pela primeira vez. Fazem parte dela quatro peças: “Urutu-cruzeiro”, “Cascavel-de-quatro-ventas”, “Caninana-do-papo-amarelo” e “Jararaca-chateadeira”, cobras da região do cerrado. “Tem também a ‘Décima do cerrado’, composição minha com o Túlio Borges, poeta de Brasília”, avisa Corrêa.

O mineiro Pereira da Viola participou de Violeiros do Brasil, na semana passada. O vídeo de sua apresentação está disponível na página do festival, no YouTube. Para ele, o instrumento se tornou um referencial para a música do país. “Ultimamente, temos visto muitos jovens, mulheres e crianças tocando viola. Hoje, há muita gente interessada em aprender e isso é muito bacana.”

Pereira destaca a importância de eventos como o Violeiros do Brasil, que já gravou DVD com instrumentistas e lançou livro sobre o instrumento. “O festival traz a lógica de expansão da viola, buscando sempre tirá-la da visão de gueto e dialogando com todos os estilos musicais de forma natural, sem forçar a barra e sem perder a legitimidade como instrumento que traz a identidade brasileira”, afirma.

No vídeo de Pereira com Ricardo Vignini, o mineiro canta “Estrada”, parceria dele com João Evangelista Rodrigues, além da versão modificada de “Viola cósmica” e “Samba brasileiro”.

''O festival traz a lógica de expansão da viola, buscando sempre tirá-la da visão de gueto e dialogando com todos os estilos musicais de forma natural''

Pereira da Viola, músico



Laís de Assis, atração de hoje, é uma das revelações femininas da viola (foto: Yuri Lemos/divulgação)
Laís de Assis, atração de hoje, é uma das revelações femininas da viola (foto: Yuri Lemos/divulgação)


VIOLEIROS DO BRASIL

»  SÁBADO (17/4)
Adelmo Arcoverde e Laís de Assis

» DOMINGO (18/4)
Paulo Freire e João Paulo Amaral

» 24 DE ABRIL
Ivan Vilela e Bruno Sanches

» 25 DE ABRIL
Roberto Corrêa e Cacai Nunes

• Às 20h. Transmissão gratuita pelo YouTube (https://www.youtube.com/taubkinmy). Confira também vídeos dos shows de Tavinho Moura e Fabrício Conde, Marco “Passoca” Vilalba e Neymar Dias, e Pereira da Viola e Ricardo Vignini.


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