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Estado de Minas CINEMA

Líder de indicações ao 'Oscar independente' é drama potente sobre aborto

Em 'Nunca, raramente, às vezes, sempre', adolescente que tenta interromper uma gravidez indesejada com a ajuda da prima e sem que sua mãe descubra


30/01/2021 04:00 - atualizado 30/01/2021 09:43

Em Nunca, raramente, às vezes, sempre, a protagonista Autumn (Sidney Flanigan) pede ajuda para a prima Skylar (Talia Ryder) para encontrar uma solução, sem que sua mãe descubra(foto: Focus Features/divulgação)
Em Nunca, raramente, às vezes, sempre, a protagonista Autumn (Sidney Flanigan) pede ajuda para a prima Skylar (Talia Ryder) para encontrar uma solução, sem que sua mãe descubra (foto: Focus Features/divulgação)

É só na metade da narrativa que entendemos o porquê de a escala Nunca, raramente, às vezes, sempre dar título ao longa-metragem da diretora norte-americana Eliza Hittman. Nesse momento, o drama que atingiu em cheio a adolescente Autumn (Sidney Flanigan) chega ao seu ápice. Com poucas palavras e silêncios que falam por si, a personagem explica para sua interlocutora – e, consequentemente, para o espectador – por que interromper uma gravidez de 18 semanas é primordial.

Nunca, raramente, às vezes, sempre é uma pequena pérola do cinema independente que, em meio à pandemia, chegou ao Brasil quase despercebido. Disponível em plataformas de vídeo sob demanda, o filme amealhou uma série de troféus na temporada de festivais internacionais do ano que passou – inclusive, levando o segundo maior prêmio do Festival de Berlim. 

Nesta semana, quando se tornou o campeão de indicações do Independent Spirit Awards, com a nomeação em sete categorias, o longa tornou-se um título forte para toda a temporada de prêmios.

O Spirit Awards considera apenas filmes realizados com um orçamento inferior a US$ 22,5 milhões (R$ 123 milhões), mas é um importante termômetro inicial para os candidatos independentes ao Oscar, especialmente em um ano em que os grandes estúdios atrasaram filmes importantes devido à pandemia da COVID-19. Sua premiação será em 22 de abril, três dias antes da cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Com uma temporada de premiações atrasada e fragmentada finalmente em andamento, as nomeações para o Globo de Ouro e o SAG Awards (o sindicato dos atores) serão anunciadas na próxima semana – em 3 e 4 de fevereiro, respectivamente. As indicações ao Oscar serão em 15 de março. 

Na última década, cinco vencedores da categoria de melhor filme do Spirit Awards alcançaram o mesmo título no Oscar, incluindo Moonlight: Sob a luz do luar (2016), Spotlight – Segredos revelados (2015) e Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância) (2014). Barry Jenkins, diretor de Moonlight, é inclusive produtor-executivo de Nunca, raramente, às vezes, sempre. 

Seu nome chama a atenção em uma equipe majoritariamente de mulheres, incluindo a roteirista (a própria Eliza Hittman, indicada tanto pela direção quanto pelo roteiro), a diretora de fotografia (Hélène Louvart, outra que recebeu indicação) e a autora da trilha sonora (Julia Holter). A montagem de Scott Cummings também concorre. As duas atrizes, ambas iniciantes, disputam o Spirit Awards: Sidney Flanigan como atriz principal, e Talia Ryder como coadjuvante.

AFLIÇÃO

Moradora de uma pequena cidade da Pensilvânia, Autumn tem 17 anos e acredita estar grávida e não tem um interlocutor com quem dividir sua aflição. Para os poucos amigos e a família, ela está irritadiça e mal-humorada como sempre. Assiste, solitariamente, à barriga crescer, enquanto sofre bullying de colegas da escola por outras razões. A mãe é paciente com ela, mas, às voltas com os filhos pequenos e o novo marido, tem pouco tempo para prestar atenção à primogênita.

A situação chega a tal ponto que Autumn tem que recorrer a alguém. Vai a uma clínica de aconselhamento, faz um exame de farmácia e comprova o que, no fundo, já sabia. Está grávida e a urgência em se livrar do filho que não deseja a leva a revelar o fato para sua prima Skylar (Talia Ryder), também caixa no mesmo supermercado em que ela trabalha.

Na Pensilvânia, menores de 18 anos só podem realizar aborto com consentimento dos pais ou responsável. Revelar o fato para a mãe está fora de questão para Autumn. Dessa maneira, com pouco dinheiro e uma mala, a garota embarca com Skylar num ônibus rumo a Nova York para realizar o procedimento. E é ali o centro da jornada das duas personagens.

Eliza Hittman não faz concessão com o espectador. Filma a narrativa de forma seca, com planos muito próximos das atrizes. Nova York é assim também apresentada, de uma forma pouco amigável para uma dupla de meninas que parece nunca ter saído da cidade natal. Uma cena de assédio no metrô, longas esperas na rodoviária, tudo é novo e duro para Autumn e Skylar. É tudo muito comum, despretensioso e, portanto, próximo. 

A cineasta tampouco quer mostrar posições (contra?, a favor?) diante do aborto. O realismo deste pequeno drama juvenil toca na relação silenciosa das duas garotas (suas intérpretes, por sinal, impecáveis, a despeito da pouca experiência), sem nunca passar perto da pieguice. Mas basta um toque de mãos de Autumn e Skylar, numa fria madrugada nova-iorquina, para tudo fazer sentido.


NUNCA, RARAMENTE, ÀS VEZES, SEMPRE
• O filme de Eliza Hittman está disponível para aluguel ou compra na Apple TV, Google Play, NetNow e YouTube Movies

(foto: Vitrine Filmes/divulgação)
(foto: Vitrine Filmes/divulgação)

BACURAU INDICADO

O Brasil está no páreo do Spirit Awards com a indicação de Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, na categoria de melhor filme internacional. É um passo para que ele consiga emplacar uma indicação ao Oscar. Preterido no Brasil no ano passado por A vida invisível, de Karim Aïnouz, que representou o país na disputa de melhor filme internacional, o título tenta neste ano uma vaga na categoria principal. O longa pernambucano estreou nos cinemas dos EUA pouco antes do início da pandemia, e com isso se tornou elegível, segundo as regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.


(foto: JEONG PARK/Divulgação)
(foto: JEONG PARK/Divulgação)

RECONHECIMENTO AOS ESTREANTES

O Spirit Awards também dedica uma categoria para premiar o melhor filme de estreia. Dois dos cinco candidatos estão disponíveis por streaming no Brasil. O som do silêncio (Amazon Prime Video), de Darius Marder, acompanha um baterista viciado em drogas em recuperação, que começa a perder a audição. Rodado em preto e branco, The forty-year-old version (Netflix) foi escrito, dirigido e protagonizado por Radha Blank. Dramaturga que acumula fracassos em Nova York, Radha espera ser descoberta antes dos 40. Acaba se reinventando como a rapper RadhaMUSPrime.


CONCORRENTES

Confira outros títulos que disputam a categoria de melhor filme no Spirit Awards

(foto: A24/Divulgação)
(foto: A24/Divulgação)

. First cow, de Kelly Reichardt
Adaptação do romance The half live, de Jonathan Raymond, recebeu três indicações. No início do século 19, um padeiro, que se juntou a um grupo de caçadores de pele no Oregon, encontra um imigrante chinês miserável que também busca mudar de vida no Oeste.

(foto: Plan B/Divulgacao)
(foto: Plan B/Divulgacao)

. Minari, de Lee Isaac Chung
Já com uma coleção de prêmios, inclusive no Festival de Sundance de 2020, e seis indicações no Spirit Awards, o drama acompanha uma família coreano-americana que se mudou para a zona rural do Arkansas na década de 1980. 

(foto: Netflix/Divulgação)
(foto: Netflix/Divulgação)

. A voz suprema do blues, de George C. Wolfe
Presença certeira na temporada de premiações, o drama teve quatro indicações. Último filme de Chadwick Boseman, morto em agosto (sua atuação também foi indicada), é baseado numa peça teatral e leva os palcos para a tela ao narrar um conto sobre a exploração da cultura negra na mão dos brancos. Viola Davis interpreta a cantora Ma Rainey e Boseman o trompetista Levee. Disponível na Netflix

(foto: Disney/divulgação)
(foto: Disney/divulgação)

. Nomadland, de Chloé Zhao
Com cinco indicações e apresentado como um dos títulos fortes aos prêmios da indústria, o drama, que venceu os principais troféus de Veneza e Toronto, tem previsão de chegada ao Brasil na próxima semana. Acompanha uma comunidade de idosos idealistas e nômades que vagam pelos Estados Unidos em picapes antigas.


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