"Essa ação simbólica reconhece a força das mulheres que escrevem e se fizeram visíveis através da escrita"
Inês Peixoto, atriz
Ao longo de seus recém-completados 300 anos, Minas Gerais foi berço de inúmeras escritoras que entraram para a história da literatura brasileira e mundial. Entre elas estão as poetas, cuja habilidade com as palavras atravessa esses três séculos de forma que a poesia mineira influencia o país inteiro.
Pensando nisso, a Casa Fiat de Cultura apresenta neste sábado (12), às 10h, ação poética que une versos de uma mineira do século 18 à voz de uma atriz belo-horizontina do século 21. É assim que o poema Conselhos aos meus filhos, escrito por Bárbara Heliodora (1759-1819), ganhará interpretação de Inês Peixoto, do Grupo Galpão.
“O convite surgiu há mais ou menos duas semanas. A partir daí, eu e a equipe do educativo da Casa Fiat desenvolvemos a ação que celebra não só o aniversário de Minas Gerais, mas serve de homenagem aos 123 anos de Belo Horizonte. É uma ação singela, simples, mas muito significativa, pois é também demonstração de carinho e respeito”, afirma Inês.
COVID-19
Devido à pandemia, a ação foi gravada em 2 de dezembro e será disponibilizada via redes sociais. Para realizá-la, Inês Peixoto percorreu a área externa do centro cultural, localizado na Praça da Liberdade, entre as mangueiras que há por ali. Ao longo do percurso, ela encontra nomes de poetas mineiras, os quais “colhe” enquanto recita.
“Essa ação simbólica reconhece a força das mulheres que escrevem e se fizeram visíveis através da escrita. Ao recitar o poema da Bárbara Heliodora, resgato uma memória histórica e, encontrando esses nomes pelo caminho, reconheço que eles são fruto dessa história”, comenta.
Entre as homenageadas estão Henriqueta Lisboa (1901-1985), Alaíde Lisboa (1904-2006), Beatriz Brandão (1779-1868), Carolina de Jesus (1914-1977) e Isabel Câmara (1940-2006).
A maioria das autoras é atuante neste século 21: Adélia Prado, Conceição Evaristo, Ana Martins Marques, Ana Elisa Ribeiro, Vera Casanova, Yeda Prates Bernis, Elizabeth Rennó, Carmen Schneider Guimarães, Laís Corrêa de Araújo, Maria José de Queiroz, Laura Conceição, Carina Gonçalves, Thaís Campolina, Maria Esther Maciel, Lacyr Schettino e Edmeia Miriam Cupertino.
“Elas foram escolhidas por meio de uma pequisa que o educativo realizou na Academia Mineira de Letras. É óbvio que muitas eu já conhecia, mas os nomes vieram de uma pesquisa muito delicada e abrangente, que deu conta de jogar luz sobre o trabalho de poetas de diferentes estilos e gerações, o que comprova a teoria de que a poesia continua muito viva em Minas Gerais”, explica a atriz do Galpão.
TEATRO
Para interpretar o poema de Heliodora, Inês aplicou técnicas que utiliza no teatro. “Sempre que estudo um texto, gosto de esquecer a pontuação original e buscar ali a minha respiração, como é o meu entendimento do fluxo das palavras. Diante disso, também tive de considerar o português rebuscado do poema, o que não é algo simples de colocar em prática.”
Apesar de ter gravado com figurino que remete ao século 18, ela diz que não buscou representar Bárbara Heliodora. “Me deixei permear pela figura dela, tentando linkar com os dias de hoje. Era uma mulher muito ativa, politicamente falando. Usando uma série de estratégias, conseguiu driblar os preconceitos da época. Escrevia e usava isso para driblar as adversidades. Eu me conecto com esse espírito de independência”, conclui Inês Peixoto.
Poeta e inconfidente
Poetisa, mineradora e ativista política, Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira nasceu em São João del-Rei em 1759.
Companheira de Alvarenga Peixoto (1742-1793), os dois viveram juntos por algum tempo. Casaram-se em 1781, quando a filha Maria Ifigênia já tinha
3 anos, algo incomum para a época.
Dessa união também nasceram José Eleutério, João Damasceno e Tristão Antônio. Por sua união com Alvarenga e também pela participação no movimento liderado por Tiradentes, Bárbara Heliodora ganhou o título de Heroína da Inconfidência Mineira.
Descoberta a conspiração pela Coroa Portuguesa, Alvarenga Peixoto foi preso, sentenciado e declarado infame. Com os bens confiscados, ele foi exilado em Ambaca, na Angola, onde faleceu. Bárbara continuou em Minas, morando com os filhos e a irmã.
A produção literária da mineira é reduzida e controvertida. A ela são atribuídos o poema Conselhos a meus filhos e um soneto dedicado a Maria Ifigênia, mas nem todos os estudiosos são unânimes nessa atribuição. Ainda assim, Bárbara é considerada a primeira poeta mulher do Brasil.
300 ANOS DE MULHERES MINEIRAS POETAS
Neste sábado (12), às 10h, nas redes sociais da Casa Fiat de Cultura. O vídeo ficará disponível no YouTube.
