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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Festival de docs sobre música cria plataforma para exibir 65 filmes

Edição 2020 do In-Edit Brasil vai até 20/9, com sessões gratuitas e outras com cobrança de ingresso (a R$ 3)


11/09/2020 04:00

Un sonido original de América trata da descoberta feita no Paraguai de 5 mil partituras barrocas da época dos jesuítas(foto: In-Edit/Divulgação)
Un sonido original de América trata da descoberta feita no Paraguai de 5 mil partituras barrocas da época dos jesuítas (foto: In-Edit/Divulgação)
Lamentavelmente, recorrentes no presente, os ataques de facções de extrema-direita a grupos minoritários já ocorreram muitas vezes no passado. Durante os anos 1970, por exemplo, a Frente Nacional Britânica se popularizou na Inglaterra com uma ideologia racista e xenófoba contra os imigrantes e seus descendentes. 

Porém, entre as várias formas de resistência que encontraram estavam as guitarras e acordes de bandas de punk rock como The Clash e Sham 69, entre outras que formaram o Rock Against Racism. Essa história é contada no documentário White riot, da diretora Rubika Shah, atualmente em cartaz na programação do festival In-Edit Brasil, cuja edição 2020 é realizada no ambiente virtual. 

O festival reúne outros 64 documentários dedicados a "enxergar o mundo através da música". Depois de passar pelos festivais de Berlim, onde recebeu menção especial do júri na mostra Generation 14plus, e IndieLisboa, no qual venceu o prêmio Indiemusic Schweppes, White riot abriu o In-Edit Brasil, com exibição gratuita, via streaming, na última quarta-feira (9). 

Até as 22h desta sexta-feira (11), ele pode ser visto por R$ 3, preço único das sessões com cobrança de ingresso promovidas pelo In-Edit. Na semana que vem, o filme volta a estar disponível na plataforma exclusiva criada para o festival, acessível em br.in-edit.org. 

A manutenção de horários específicos para exibições, como é próprio das salas de cinema, foi a maneira encontrada pela organização para viabilizar o festival em formato virtual, durante a pandemia do novo coronavírus. 

PLATAFORMA 
"Sempre fizemos o evento presencial. O que foi definitivo para possibilitar essa edição on-line foi ter uma plataforma própria, desenvolvida junto com as outras sedes do In-Edit", afirma o curador  Marcelo Aliche. Em que pese a impossibilidade da realização de encontros, Aliche celebra a chance de "abrir fronteiras" com a exibição dos títulos via internet.

"É muito bom poder chegar até mais gente. Antes, éramos restritos à Grande São Paulo. Quase ninguém sairia do interior para vir participar. Agora, mais gente poderá conhecer o festival pelo Brasil", diz o curador. A primeira edição no Brasil do In-Edit foi em 2009. O festival tem suas versões em diversos outros países

O recorte curatorial é focado em documentários sobre música, mas procura abranger uma grande diversidade de ritmos. O punk, retratado em White riot, é objeto de outros títulos. Entre os estrangeiros, Stiv – No compromise, no regrets, do espanhol Danny García, sobre Stiv Bators, vocalista dos Dead Boys, e Punk the capital: Building a sound movement, de James Schneider e Paul Bishow, sobre o desenvolvimento da cena em Washington. 

A seleção nacional tem, por exemplo, Faça você mesma, de Letícia Marques, sobre o engajamento feminino em torno do punk rock, e Liberta - Flicts, de Ivan 13P, sobre a banda paulista que há décadas se destaca na luta antifascista.

As produções de fora trazem ainda abordagens biográficas, como é o caso de Kate Nash: Underestimate the girl, de Amy Goldstein; My darling Vivian, de Matt Riddlehoover, sobre Vivian Liberto, primeira mulher de Johnny Cash e mãe de seus quatro filhos; The quiet one, de Oliver Murray, sobre Bill Wyman, o baixista original dos Rolling Stones. 

Grande reduto europeu da música eletrônica, Ibiza é o tema de The silent movie, de Julien Temple, que há mais de 40 anos se dedica a registrar histórias importantes da música mundial. Convidado especial do festival, Temple participará de uma masterclass on-line gratuita mediada pelo jornalista André Barcinski, na próxima terça-feira (15), às 18h. 

Segundo Marcelo Aliche, a curadoria "não olha para ritmo, gênero musical ou personagem", mas baseia seus critérios de seleção estritamente na qualidade cinematográfica dos filmes. "Não importa a fama do documentado, se o filme for ruim, não entra. Procuramos relevância no material que recebemos e essa diversidade rola naturalmente. No ano passado, foram vários filmes de reggae. Neste ano, quase nenhum", diz.

Na vertente da programação chamada Panorama Mundial, o curador destaca o norueguês The men's room, de Petter Sommer e Jo Vemund, sobre um coro masculino daquele país, que, prestes a abrir um show do Black Sabbath, recebe a notícia de que seu maestro está morrendo de câncer. 

Ele também cita Aznavour by Charles, sobre o ícone da canção francesa Charles Aznavour (1924-2018), que reúne registros feitos com uma câmera Paillard-Bolex pelo próprio cantor; além de Sarajevo: State in time (A story of Laibach & NSK), sobre o show  da banda eslovena Laibach em Sarajevo, durante a guerra da Iugoslávia. 

Outra dica é Un sonido original de América, de Antony Nicolle e Ariel Broitman, que investiga um tesouro encontrado no Paraguai contendo 5 mil partituras barrocas da época dos jesuítas. 

A pluralidade sonora do Brasil se faz presente nos filmes divididos em três mostras, sendo uma delas competitiva. Os títulos tratam de personagens que vão da música popular ao rock, como Dorival Caymmi, Pitty, Arto Lindsay, Mestre Cupijó, Quebradeiras de Coco Babaçu, Felipe Cordeiro, Walter Smetak, Autoramas, Amaro Freitas e Elton Medeiros. 

Aleluia, o canto infinito do Tincoã, de Tenille Bezerra, fica disponível até sábado (12) . O projeto, que inicialmente pretendia documentar a trajetória do grupo baiano Os Tincoãs, acabou se debruçando especialmente sobre a figura do cantor, compositor e pensador Mateus Aleluia, atualmente com 76 anos.

"Comecei a produção efetivamente em 2016 e desenvolvemos uma relação de amizade, cumplicidade e parceria, que me permitiu olhar para a obra dele de um lugar muito próximo, muito íntimo. Então, a natureza da filmagem foi se modificando e passou a ser um diálogo poético e  espiritual que ele estabelece com música, arte e pensamento. É um filme que atravessa a obra e se debruça sobre o pensamento dele, o que foi um desafio muito grande, pois ele delineia um Brasil que estamos ainda por alcançar. Enquanto nós vislumbramos, ele já está lá", afirma a diretora. 

O documentário estreou no mês passado na TVE da Bahia, emissora pública do estado. "Foi muito interessante estrear na TV pública. Construímos, em anos anteriores, uma história importante de produção cinematográfica no Brasil, mas a distribuição sempre seguia sendo um problema. Os filmes são financiados com recursos públicos, então é preciso pensar em uma difusão que os levasse, de fato, até as pessoas. Estrear na TV pública foi uma declaração de que a intenção do filme era chegar até as pessoas. A ampliação desse acesso é fundamental, já que boa parte da população não vê os filmes nas salas de cinema. Fico feliz que mais gente ainda possa ver (no festival), aumentando o alcance dessa pessoa imensa que é Mateus Aleluia", afirma Tenille Bezerra. 

In-Edit Brasil
Festival de documentários sobre música, com 65 títulos.
Até 20/9. Programação completa em br.in-edit.org/programa-2020.


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