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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Pandemia freia a moda das exposições interativas

Tendência de incentivar espectador a tocar em obras e interagir com elas terá de ser revista quando museus reabrirem. Veja como deve ser a adaptação ao novo cenário


06/09/2020 04:00 - atualizado 05/09/2020 22:18

No momento em que se inicia, ainda que discretamente, a reabertura de equipamentos culturais no Brasil – cinemas de Manaus estão abertos, museus do Rio de Janeiro autorizados a funcionar a partir deste fim de semana – o que é possível para além dos protocolos sanitários? Que mudanças o período pré-vacina pode trazer e levar para o tão aguardado mundo pós-pandemia?

É fato que o contexto atual não permite interações, como as de seis meses atrás, com salas cheias nos museus, visitações em que o toque também fazia parte da experiência museográfica ou espaços claustrofóbicos. “Não dá para mascarar a realidade e dizer que há ganhos. Mas as transformações (que vieram em decorrência da pandemia da COVID-19) permitem que as instalações interativas não se percam”, afirma o arquiteto Marcelo Pontes, um dos sócios da Cactus.

Especializada em experiências artístico-tecnológicas imersivas, a empresa inaugura no fim de outubro uma instalação no Museu do Amanhã, o primeiro do Rio de Janeiro a reabrir. O projeto permite que o visitante interaja com a obra, mas de uma maneira totalmente diversa da instalação até então mais conhecida da Cactus, a Museum of Me.

CUBO 
Lançada em 2019 e apresentada até o fim de fevereiro para um público total de 77 mil pessoas – rodou seis cidades, incluindo Belo Horizonte, onde foi abrigada pelo CCBB – a Museum of Me era uma instalação que utilizava de inteligência artificial para construir uma história única, a partir do Instagram de cada visitante. Em um cubo que permitia a entrada simultânea de até três pessoas, o público revisitava a própria vida por meio da exibição de imagens (até 50) de sua própria conta naquela rede social.

“De fato, não dá para imaginar projetos em ambientes muito fechados. Ou então de realidade virtual, em que se tem que trocar os óculos, como também trabalhos artísticos com penetráveis”, observa Pontes. Por outro lado, são totalmente factíveis projetos que promovam a interação, sem toque ou qualquer contato físico, e em espaços maiores, com um fluxo de ar intenso.

É neste modelo que foi planejada a instalação, ainda sem nome, que a Cactus levará ao Museu do Amanhã. “Ela explora a conexão entre o homem e as diversas formas de vida. Através de sensores, as pessoas poderão transformar o ambiente”, comenta Felipe Reif, sócio da empresa.

“Há uma série de tecnologias já existentes e que estavam quase guardadas na gaveta. Agora (em decorrência da pandemia) estão sendo utilizadas. Nesta instalação, a interação com o conteúdo animado da projeção é feita pelo posicionamento do corpo. Queríamos fazer um projeto que não fosse tão autocentrado no conteúdo da pessoa, mas que fosse lúdico e divertido”, diz Pontes.

Um conjunto de câmeras consegue captar o posicionamento de braços, pernas, tronco e cabeça de cada visitante naquele ambiente. A partir disto, a movimentação do corpo interfere no conteúdo projetado. A ideia da instalação é fazer uma reflexão sobre os elementos da natureza.

A visitação será permitida para grupos de até 10 pessoas. “Pontos importantes são não ter contato físico, com tablet nem nada, e controle de fluxo. As novas experiências têm que ser pensadas para espaços muito maiores”, afirma Pontes. Outro ponto relevante é a mudança no  fluxo de pessoas, fazendo um trajeto único, no qual não se pode voltar ao início do percurso.

Os avanços tecnológicos vêm sendo adotados em experiências artísticas. “Houve agora um boom de fabricação dos tecidos antibacterianos, por exemplo”, cita o empresário. A cortina da entrada da instalação será confeccionada com material desse tipo. “Tecnologias existentes que não eram aplicadas em larga escala estão ganhando destaque neste momento”, acrescenta ele.

ULTRAVIOLETA
 Bastante nociva para a pele, a luz ultravioleta (a conhecida UV-C) agora está sendo utilizada para esterilização de ambientes. “Os museus vão acabar adotando, pois com a luz você consegue matar vírus e bactérias. Ela está começando a ser aplicada em quartos de hotel. É de se imaginar que salas de museus, com instalações permanentes, recebam, de tempos em tempos, higienização por UV-C quando os espaços estiverem fechados.”

Tecnologia que hoje é onerosa, obviamente. “Mas sempre que há uma alta demanda, a tendência é a tecnologia baratear”, comenta. Aparelhos mais eficazes de ar condicionado, que permitem uma alta filtragem, também começam a ser utilizados. “Para esta instalação do Museu do Amanhã, o que mudou (por causa da pandemia) foram aspectos técnicos. O projeto já havia sido desenhado sem contato físico, então não precisamos repensar a experiência como um todo.”

Priorizar o coletivo em detrimento do individual também é uma tendência para o momento. “A Cactus está desenvolvendo uma nova experiência imersiva e interativa que explora as conexões geradas a partir das redes sociais. Mas a gente vai evitar centrar muito no usuário para pensar em conexões mais relevantes, e menos voltadas para egotrip”, diz Reif. Essa iniciativa está prevista para o primeiro trimestre de 2021.

Pontes comenta que, em decorrência da pandemia, “houve projetos que puxaram o freio de mão e começaram a andar em marcha lenta”. Mas há quatro instalações artísticas interativas “no forno” para daqui até o próximo ano.

Uma das iniciativas criadas pela Cactus e pouco visitadas até então por causa do fechamento das instituições, em março passado, é o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades, inaugurado em janeiro deste ano, no Oi Futuro, também no Rio de Janeiro. 

Espaço permanente que ocupa o antigo Museu das Telecomunicações, ele foi projetado para abrigar o acervo físico da antiga instituição e também desenvolver novas abordagens sobre o tema, por meio de instalações interativas. Ainda sem data de reabertura marcada, o Oi Futuro disponibilizou digitalmente seu acervo para uma visita virtual. 

Entre as novas instalações do Musehum, a principal é A roda, que também usa as redes sociais como recurso narrativo. Experiência em grupo (de duas a quatro pessoas), mas sem nenhuma necessidade de contato, “explora o paradoxo das redes sociais, em permitiram que a gente se aproximasse dos outros e se conectasse de uma maneira antes impossível, mas que, em compensação, fez com que nos sintamos tão sós. Estamos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão sozinhos”, diz Reif. 

A roda foi criada e inaugurada antes de se ouvir falar em pandemia. Mas seu conceito, nos dias de hoje, se aproxima fortemente do que vivemos desde o mês de março.


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