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Estado de Minas LIVRO

Vida de Maura Lopes Cançado inspira romance de estreia de mineira

Em 'origem da água', Ana Cristina Braga Martes construiu narrativa ficcional sobre a vida da escritora mineira que usou a escrita para elaborar sua experiência com a loucura


22/08/2020 04:00

(foto: Carol Carquejeiro/Divulgação)
(foto: Carol Carquejeiro/Divulgação)

"Acho o amor um tema maravilhoso para a literatura, mas o sofrimento talvez possa revelar outras coisas. O livro, embora fale de loucura e do sofrimento intenso que ela provoca, também traz um lado da criatividade, da liberdade, de onde a vida pulsa"

Ana Cristina Braga Martes, autora de A origem da água

Socióloga com uma carreira acadêmica na pesquisa e na docência, Ana Cristina Braga Martes, mineira de Varginha radicada em São Paulo, sempre quis se dedicar à literatura. Há alguns anos, se inscreveu em um curso de escrita criativa promovido pelo autor Marcelino Freire. E assim foi apresentada à obra de outra mineira, a escritora Maura Lopes Cançado (1929-1993).

O impacto foi definitivo. “Fiquei muito encantada e comovida, pois imagino como ela foi incompreendida, na época em que viveu mais ainda”, comenta Ana Cristina. “Morreu esquecida e conformada, aparentemente curada da loucura que a levou a diversas internações em hospícios e clínicas particulares”, escreveu Carlos Heitor Cony (1916-2018), em artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo em junho de 2007.

A origem da água, estreia de Ana Cristina na literatura, recupera a trajetória de Maura Lopes Cançado por meio da ficção. “Quem for buscar uma biografia vai ficar frustrado. Não escrevi um livro sobre a vida dela. Simplesmente, me baseei nos pontos da vida dela que foram decisivos para o caminho que ela tomou”, afirma. 

INTERNAÇÃO 
No prólogo do volume, Ana Cristina já deixa clara essa inten- ção. Na narrativa em primeira pessoa, a personagem é Laura, mulher de 25 anos que se interna voluntariamente em um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro.

Mesclando presente e passado, Ana Cristina acompanha, de modo íntimo e poético, a vida da personagem. “Acho o amor um tema maravilhoso para a literatura, mas o sofrimento talvez possa revelar outras coisas. O livro, embora fale de loucura e do sofrimento intenso que ela provoca, também traz um lado da criatividade, da liberdade, de onde a vida pulsa.”

Um dos motivos que suscitaram o interesse de Ana Cristina por Maura foi seu desapego a padrões sociais esta- belecidos. “Nos anos 1950, ela ousa ser escritora e se muda para o Rio de Janeiro. Chegou a ser comparada a Clarice Lispector, e acho que há pontos de conexão, principalmente na maneira como ela escolhe as palavras. Tentei mostrar o lado de uma mulher que ousa ter liberdade sexual, escrever e vir a público ousando falar de suas paixões e loucura. Ela não se fechou diante da loucura.” 

Redescoberta na última década, Maura Lopes Cançado, nascida em São Gonçalo do Abaeté, na região do Alto Paranaíba, publicou dois livros: o diário Hospício é Deus (escrito em 1959 e lançado em 1965) e a coletânea de contos O sofredor do ver (1968). Há cinco anos, a editora Autêntica relançou os livros em uma caixa (atualmente disponíveis apenas em e-book). A atriz Maria Padilha abordou a vida e a obra de Maura no monólogo Diários do abismo, de 2018.

 A origem da água também marca uma nova fase para a própria Ana Cristina. Em 2019, com o livro já finalizado, ela pediu demissão da Fundação Getulio Vargas, onde atuava havia duas décadas, para se dedicar exclusivamente à literatura. Na academia, trabalhou muito com o tema das migrações. 

“A imigração coloca as pessoas no não lugar, no lugar do deslocamento. E a loucura é esse lugar também, só que levado ao extremo, pois você vive permanentemente buscando sair dali”, diz ela.

A ORIGEM DA ÁGUA
Ana Cristina Braga Martes
Confraria do Vento (196 págs.)
R$ 53
À venda em confrariadovento.com


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