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Estado de Minas LIVRO

arrudA busca na poesia o escape para a angústia da quarentena

Poeta paulistano lança 'Fragmentos de uma canção impossível' pela editora Patuá


17/08/2020 04:00

O poeta arrudA procurou traduzir sua angústia diante da pandemia no volume Fragmentos de uma canção impossível(foto: Luís Dávila/Divulgação)
O poeta arrudA procurou traduzir sua angústia diante da pandemia no volume Fragmentos de uma canção impossível (foto: Luís Dávila/Divulgação)

Para o poeta e compositor paulistano André, que transformou seu sobrenome na alcunha artística arrudA, as canções sempre foram possíveis. Filho da poeta Eunice Arruda (1939-2017), ele tem letras gravadas por Alzira E, Ney Matogrosso, Lucina, Maria Alcina, Fabiana Cozza, Tatá Aeroplano, entre outros de presença destacada na MPB. 

Contudo, a chegada da pandemia do novo coronavírus, no primeiro semestre deste ano, impondo uma complexidade ainda maior à contemporaneidade digital na qual vivemos, trouxe para o artista novos questionamentos e percepções que resultaram na coletânea Fragmentos de uma canção impossível, da editora Patuá. A publicação reúne 50 poemas sobre a angustiante experiência de viver em um contexto em que tudo parece inalcançável. 

Contudo, pouco mais da metade do trabalho já estava encaminhada, no ano passado, quando ele foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural  (Proac) voltado à produção e publicação de obras de poesia do estado de São Paulo. Mas a conclusão da obra veio durante os dias de isolamento social, contendo parte das reflexões de arrudA sobre esse cenário. 

“É um momento turbulento. Vivemos em um mundo muito veloz, muito fragmentado. Senti internamente esse inalcançável que vem a partir do excesso, de uma sensação (que nos deixa sempre num vazio) de que, em vez de estar em um lugar, temos é a sensação de não estar em outro. É minha busca como artista, mas do ser humano em geral, que quer sempre estar onde não está”, explica o poeta sobre seu quinto livro. 

 
NORTE

A escrita, segundo arrudA, é um processo que flui naturalmente para ele, independentemente de estar associada à produção de um livro específico. Fragmentos de uma canção impossível surgiu assim que ele percebeu “um norte” que unia a coleção de poemas criados. 

“Quando veio a pandemia, produzi muito, e o livro foi influenciado por isso tudo. Coincidentemente, o caminho que estava tomando antes veio ao encontro deste momento de tantas impossibilidades e desta coisa virtual se acentuando. Essa fragmentação ficou mais forte”, diz. 

Sobre o processo criativo em tempos de quarentena, ele afirma ter sentido “a angústia que muitas pessoas também sentiram, as incertezas, e esse pensamento de ‘para onde vamos voltar?’”.

arrudA entende que “chegamos nisso como resposta à forma sob a qual vivemos no mundo de consumismo, dessa relação com o planeta e entre as pessoas”. Por isso, diz que a poesia é “um jeito pessoal de me salvar e de buscar o sublime nas coisas simples. Ela dá esse escape diante de tanta angústia”. 

Ao mesmo tempo, pondera o papel da arte diante da gravidade da crise ocasionada pela pandemia. “É um privilégio, de certa forma, poder fazer esse trabalho com poesia. Vemos tantas pessoas numa situação muito crítica. Realmente me questiono sobre  onde cabe a poesia neste mundo. Espero que, de alguma forma, possa colaborar. Penso no que seria uma coisa mais concreta a se fazer e colaborar nessa situação, mas é a minha maneira, meu jeito de estar no mundo e acredito que ela possa contribuir.”

Autor de A representação matemática das nuvens (2014) e Topografia das ondas (2017), também editados pela Patuá, além de As menores distâncias podem levar uma vida (Selo Edith, 2010) e 23 poemas de arrudA (Coletivo Dulcineia Catadora, 2012), e organizador de Visível ao destino – Obra completa, com os poemas da mãe, lançado no ano passado pela Patuá, ele diz que o novo livro se difere também pela forma. 

Os 50 poemas são divididos em sete partes com sete poemas, somados a um prólogo. O projeto tem os traços de Gabriel Marcondes, e a arte da capa também se fragmenta em cada uma dessas partes. “Consegui juntar conceito visual com conceito dos poemas. Essa fragmentação com a qual trabalhei no livro é inédita. Os livros anteriores eram corridos. E ela reflete bem esse momento”, observa.

 
Fragmentos de uma canção impossível
• arrudA
• Editora Patuá (96 pág.)
• R$ 40


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