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Estado de Minas LITERATURA

Curadora Fernanda Diamant se demite da Flip

Jornalista e editora defende que o cargo seja entregue a uma mulher negra. Para ela, o caráter de celebração da festa literária perde sentido diante da COVID-19 e do movimento antirracista


14/08/2020 04:00

Fernanda Diamant diz que curadora negra pode reinventar a Flip, conectando o evento ao atual momento(foto: Hélvio Romero/Estadão Conteúdo %u2013 4/7/19)
Fernanda Diamant diz que curadora negra pode reinventar a Flip, conectando o evento ao atual momento (foto: Hélvio Romero/Estadão Conteúdo %u2013 4/7/19)
A jornalista e editora Fernanda Diamant se demitiu do cargo de curadora da 18ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que será realizada em novembro. A nova curadoria ainda não foi definida. Em nota, ela anunciou o desejo de abrir mão do “espaço de privilégio de forma pública”, em favor de uma curadora negra.

“Mais que uma programação com autoras e autores negros, a Flip agora precisa de uma curadora negra para reinventá-la nesse mundo pós-pandemia”, defendeu. “Uma mulher negra, na minha opinião, é a renovação de que o evento mais importante da literatura do país precisa. Ao longo de 18 anos, a curadoria da Flip jamais foi ocupada por uma pessoa negra. Passou da hora de isso mudar.”

REVELIA 
Programada para ocorrer de 29 de julho e 2 de agosto, a Flip foi adiada para novembro, à revelia de Fernanda Diamant, de acordo com ela. Nesta semana, foi aberto, no ambiente virtual do Sesc, um ciclo sobre a obra de Elizabeth Bishop, a poeta americana que seria a homenageada deste ano. Essa programação será encerrada no dia 21.

Em novembro do ano passado, a escolha de Bishop gerou revolta nas redes sociais. Escritores, leitores e críticos definiram a decisão como “insultuosa”, “politicamente melancólica” e “lamentável”. Houve também manifestações a favor do nome da escritora americana, que morou no Brasil nas décadas de 1950/1960 e manteve casa em Ouro Preto (MG). O principal motivo das críticas foi o apoio de Bishop, mesmo que lateral, ao golpe militar de 1964.

“Agradecemos o brilhante trabalho curatorial de Fernanda Diamant. A direção artística, em diálogo com o conselho da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, anunciará a nova curadoria em breve”, diz a nota dos organizadores do evento.

Diamant acredita que a crise causada pela COVID-19 deve impor mudanças radicais à Flip. “Desde o princípio, defendi que não se poderia definir prematuramente uma nova data para o evento. À minha revelia, a Flip foi postergada para novembro. A pandemia se agravou, a condução genocida que o governo federal fez da crise sanitária deixou tudo muito sombrio. Cada vez mais me parecia que a celebração desenhada previamente pertencia a uma outra época e tinha perdido o sentido. Não havia nada a ser comemorado. Ainda não há”, afirmou ela, em sua nota.

Fernanda lembrou que, em meio às denúncias crescentes do movimento negro brasileiro, ocorreram o assassinato de George Floyd, em maio, nos Estados Unidos, e a reação mundial impulsionada pela campanha Black Lives Matter. “Esses dias mais intensos de levante antirracista me fizeram entender que precisamos lutar mais ativamente, agir da forma mais contundente possível”, argumentou.

Formada em filosofia pela Universidade de São Paulo, com experiência de 10 anos como editora de livros, Diamant fundou a revista Quatro Cinco Um e é acionista da Folha de S. Paulo. Ela foi curadora da Flip em 2019, sucedendo à jornalista Joselia Aguiar, e naquela ocasião escolheu como homenageado Euclides da Cunha.

Ao fazer um balanço de sua gestão, a ex-curadora lembrou que dos cinco autores mais vendidos em Paraty em 2019, quatro eram negros e um indígena – Grada Kilomba, Ayobami Adebayo, Kalaf Epalanga, Gael Faye e Ailton Krenak. “Foi a primeira vez que isso aconteceu”, reforçou.


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