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Estado de Minas ADEUS AO MESTRE

Trilhas de Morricone 'envelhecem menos que os filmes', diz especialista brasileiro

Alexandre Guerra, que também escreve música para cinema, é um dos que têm no maestro italiano morto nesta segunda (6) um farol


07/07/2020 04:00 - atualizado 06/07/2020 20:45

O maestro italiano esteve no Brasil em 2007, quando fez concerto e elogiou o tamborim e a cuíca (foto: Tiziana Fabri/AFP)
O maestro italiano esteve no Brasil em 2007, quando fez concerto e elogiou o tamborim e a cuíca (foto: Tiziana Fabri/AFP)
Além de sua enorme contribuição ao cinema, com preciosas trilhas sonoras, o compositor Ennio Morricone construiu parcerias importantes, inclusive com brasileiros. No fim dos anos 1960, o mestre italiano, morto nessa segunda-feira (6), aos 91 anos, em Roma, convidou a cantora carioca Maysa para estrelar alguns shows na TV de seu país. Ela é intérprete de duas músicas presentes no filme A qualquer preço (1967): Dirgli solo no e Vai via malinconia. O longa dirigido por Giuliano Montaldo, com trilha composta por Morricone, tem cenas gravadas no Rio de Janeiro, onde a trama se passa.

Em 1970, Morricone e Chico Buarque gravaram Per un pugno di samba, título que faz trocadilho com o sucesso cinematográfico Por um punhado de dólares. No álbum lançado pela gravadora RCA, Chico, então exilado na Itália, canta alguns de seus principais sucessos na língua local, com arranjos do maestro. Rotativa (Roda viva), Tu sei una di noi (Quem te viu, quem te vê) são algumas das faixas, que incluem três inéditas: Samba e amore (Samba e amor), Il nome di Maria (Não fala de Maria) e Nicanor. O disco oficialmente só foi lançado no mercado brasileiro em 2003.

A primeira e única visita de Morricone ao Brasil ocorreu em 2007, como convidado do evento Música em Cena – 1º Encontro Internacional de Música de Cinema, no qual apresentou um concerto. Na ocasião, em entrevista coletiva, ele citou a amizade com Chico Buarque, materializada no trabalho que fizeram juntos e ainda falou sobre musicalidade dos instrumentos típicos dos países. “Há uma irmandade nos instrumentos de percussão brasileiros, como o tamborim e a cuíca, com os italianos”, disse.

Assim como acontece em todo o mundo, os autores de trilhas para cinema brasileiros reverenciam o trabalho do maestro ita- liano. O compositor paulista Alexandre Guerra, responsável pela trilha sonora de pelo menos 120 filmes, incluindo O tempo e o vento e Vendedor de sonhos, ambos dirigidos por Jayme Monjardim (filho de Maysa), e Tudo o que aprendemos juntos, de Sérgio Machado, destaca o poder de atração das melodias como o principal traço da obra de Morricone.

“Ele é capaz de gerar um apelo, uma memória afetiva, que é como se ficássemos impregnados com aquilo depois que saímos do filme. Como ouvi uma vez do compositor francês Alexandre Desplat sobre Morricone em uma palestra, são músicas que se impõem ao filme, não se escondem, porque têm um peso marcante”, afirma Guerra. Segundo ele, as trilhas de Ennio Morricone “envelhecem menos que os filmes”.

"Ele é capaz de gerar um apelo, uma memória afetiva, que é como se ficássemos impregnados com aquilo depois que saímos do filme. Como ouvi uma vez do compositor francês Alexandre Desplat sobre Morricone em uma palestra, são músicas que se impõem ao filme, não se escondem, porque têm um peso marcante"

Alexandre Guerra, autor de trilhas sonoras



TRANSPORTE “Mais do que belas, evocam uma época de um jeito que apenas as imagens não conseguem. Em Cinema Paradiso, somos transportados no tem- po. Mesmo com todo figurino, direção de arte, a música tem um poder até mais convincente de levar o espectador a um outro universo físico e psicológico”, avalia Guerra.

O “trilheiro”, que ministra o curso on-line Música e cinema no Brasil, observa que, “hoje em dia, vivemos um momento em que a melodia é cada vez menos usada no cinema. São fases. Mas hoje as trilhas são mais texturais, são mais texturas sonoras do que melodia. Porém, a melodia é o que levamos para casa como memória do filme. As texturas, não. Morricone nos dá melodias que levamos para a vida”.

André Abujamra, outro importante autor de trilhas sonoras do cinema nacional, prestou homenagem ao italiano em suas redes sociais. “Ennio Morricone! Se vai sem ir”, escreveu na legenda de uma foto do maestro postada no Instagram. O músico Ed Motta foi outro a prestar tributo em rede social, com uma foto em que aparece ao lado de Morricone, com a legenda: “Descanse na música eternamente”. Segundo Alexandre Guerra, Motta lhe disse uma vez que o maestro italiano é o artista com mais discos na extensa coleção do cantor.

Fora do Brasil, a perda também foi sentida por grandes nomes da música. No Instagram, o Metallica postou: “Sua carreira foi lendária, suas composições são atemporais. Obrigado por definir o clima de tantos dos nossos shows desde 1983”. Além de ter gravado The ecstasy of gold, tema de Três homens em conflito, a banda californiana costumava abrir seus grandes shows com a versão original. Já os Ramones, ícones do punk rock, usavam a música principal do filme para abrir suas aceleradas apresentações nos anos 1990.






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