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Estado de Minas

Morrendo de saudade do palco, Alcione lança álbum

Tijolo por tijolo é nova reverência da artista ao samba. Ela defende a música como antídoto à fase dura da pandemia de coronavírus e ataca a onda racista


postado em 08/06/2020 04:00 / atualizado em 07/06/2020 21:34

Disponível nas plataformas digitais, novo trabalho da artista maranhense é reafirmação de reverência ao samba (foto: MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO )
Disponível nas plataformas digitais, novo trabalho da artista maranhense é reafirmação de reverência ao samba (foto: MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO )

Na capa de seu novo disco de estúdio, Tijolo por tijolo, disponível nas plataformas digitais, Alcione aparece com um vestido branco e com largo sorriso no rosto. O semblante, uma de suas principais características, mudou um pouco desde que ela se isolou em casa, no Rio de Janeiro, em virtude da pandemia do novo coronavírus. Com tempo de sobra para acompanhar o noticiário, Alcione se sensibiliza diante da realidade, que não tem sido fácil de encarar.

''Tudo o que tenho visto é muito triste. Tanto o caso de George Floyd, nos Estados Unidos, quanto as mortes que acontecem todos os dias no Brasil, não só por conta da pandemia, mas também por causa da violência, me entristecem muito", comenta a cantora. ''Lá fora, o que está acontecendo é uma coisa muito bonita. As pessoas estão tentando se organizar e mostrar que precisam, sim, ser mais respeitadas.''

Pelas redes sociais ela reitera o posicionamento. Na última terça-feira, quando o mundo da música parou para dar visibilidade ao trabalho de artistas negros com a campanha #BlackOutTuesday, seu perfil no Instagram foi devidamente abastecido com mensagens antirracistas e antifascistas.

No mesmo dia, mais tarde, ela participou da já tradicional live da sambista Teresa Cristina, pela mesma rede social, e declarou: ''Vi aquela matéria do 'zé ninguém' lá da Fundação Palmares. Ainda dou na cara dele para parar de ser um sem-noção''. A fala diz respeito à infeliz declaração do atual presidente da Fundação, Sérgio Camargo, chamando o movimento negro de ''escória maldita'' e Zumbi dos Palmares de ''filho da puta''.

''A gente vê tanto sofrimento. Você vê os negros americanos naquela batalha. A gente vê as coisas que acontecem no Brasil, com bala perdida e tudo. Então, a gente vê uma pessoa da nossa cor falando uma besteira daquelas, tenho vontade de arrancar da televisão e encher de porrada para virar gente'', completou a cantora.

E o antídoto para encarar as brutalidades do mundo, segundo ela, está num universo que Alcione habita há quase cinco décadas: a música.

''Ele tinha que sair na quarentena'', responde, ao ser questionada se pensou em alterar a data do lançamento do novo disco. ''As pessoas precisam de um consolo durante os dias em casa e a música, pelo menos para mim, cumpre essa função'', diz, revelando que também tem usado o tempo livre para assistir a filmes e séries nas plataformas de streaming.

Com 14 faixas inéditas, Tijolo por tijolo chega sete anos depois do último disco de estúdio de Alcione, Eterna alegria (2013). Para construir esse repertório, ela pessoalmente selecionou sambas que foram compostos por nomes prestigiados como Serginho Meriti, Arlindo Cruz, Fred Camacho, Júlio Alves, Edil Pacheco, Zé Américo Bastos, Salgado Maranhão, Telma Tavares e Roque Ferreira.

A bela canção que dá nome ao disco, lançada como single, reforça que o projeto é um álbum de samba, gravado com produção de Alexandre Menezes, diretor musical da Banda do Sol – grupo que há décadas acompanha Alcione em shows –, com arranjos de Jorge Cardoso, Jota Moraes, Wilson Prateado, Zé Américo Bastos e do próprio Alexandre.

ODE À CARREIRA

Para ela, a canção é uma espécie de ode à própria carreira. ''Foram muitos os tijolos para chegar até aqui porque o mecanismo para divulgar um disco, quando eu comecei, não era como é hoje, com a internet. Antigamente, nós íamos às rádios, eu andei pelas emissoras de todo este país, de norte a sul, batendo perna para mostrar os meus LPs e foi assim que tornei o meu trabalho conhecido. Tijolo por tijolo mesmo'', descreve.

Parceria de Toninho Geraes com Paulinho Rezende (compositor presente na discografia de Alcione desde 1970), Fascínio é outra integrante do repertório, que inclui homenagem ao jogador de futebol Pelé – saudado em O homem de três corações, música de Altay Veloso e Paulo César Feital – e a parceria de Jorge Vercillo com Zeppa em Meu universo.

''Esse é um disco especialmente importante para mim porque nele estão compositores que admiro muito, são pessoas que quando trabalham em uma composição sabem o que estão fazendo. E a prova disso é a qualidade de todas as letras que gravei'', comemora.
 

''Tudo o que tenho visto é muito triste. Tanto o caso de George Floyd, nos Estados Unidos, quanto as mortes que acontecem todos os dias no Brasil, não só por conta da pandemia, mas também por causa da violência''

Alcione, cantora

 

(foto: ELIZEU FIÚZA/DIVULGAÇÃO)
(foto: ELIZEU FIÚZA/DIVULGAÇÃO)

Sem colocar o pé fora de casa


Aos 72 anos e parte do grupo de risco diante do coronavírus por ser diabética, Alcine garante que está seguindo a quarentena à risca e não vai nem até o portão de sua casa. Quando lhe sugeriram fazer o primeiro show remoto da carreira, ela confessa que teve certa preguiça e tentou desconversar, mas depois que embarcou nesse universo, tem gostado de estar nele.

''Não sou uma pessoa muito chegada na internet, mas tenho uma equipe que me auxilia muito nessas tecnologias'', conta. ''Quando fiz a primeira live, a proposta era que ela fosse solidária. Recebi tanta doação para as pessoas do Maranhão, que depois resolvi fazer outra. Cantar durante a quarentena é uma coisa muito boa e é muito bom estabelecer essa conexão com as pessoas que me acompanham. Eles também querem saber como estou durante esse momento e a live é uma oportunidade para a gente se conectar a distância.''

Apesar disso, ela reitera que a presença ao vivo do público é insubstituível e uma das coisas de que mais sente falta é, justamente, o palco. ''Dá uma saudade imensa estar diante da plateia, sentir aquele 'sonzaço', ver as pessoas cantando e se divertindo. Mas agora o momento é de resguardo. Então, nós temos que respeitar essa quarentena e ficar em casa'', defende.

Quando o isolamento acabar e for possível realizar shows, Alcione pretende levar ao palco o novo disco para os fãs e visitar o Maranhão, sua amada terra natal. ''Uma das primeiras coisas que quero fazer é comer um sorvete no Elefantinho'', conta, relembrando a sorveteria mais antiga da capital maranhense, São Luís.

E o restante do ano ainda promete. No segundo semestre, ela antecipa, será lançado o esperado documentário sobre sua trajetória, Eu sou a Marrom, dirigido por Angela Zoé, e também um musical sobre sua vida dirigido por Jô Santana e Miguel Falabella. Afinal, o show não pode parar, brinca a artista.

TIJOLO POR TIJOLO
• Alcione
• Biscoito Fino
• Disponível nas plataformas digitais


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