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Estado de Minas

Renovado, Acaiaca quer lugar na noite de BH (quando ela voltar)

Após conclusão do restauro das efígies indígenas da fachada, administração do prédio histórico quer transformá-lo em corredor cultural


postado em 02/05/2020 04:00 / atualizado em 01/05/2020 21:13

Trabalho foi iniciado em 15 de fevereiro, sob liderança da especialista que restaurou também a Igreja São José(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
Trabalho foi iniciado em 15 de fevereiro, sob liderança da especialista que restaurou também a Igreja São José (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
 
Eles são testemunhas, embora imóveis e mudos, de uma parte importante da história de Belo Horizonte. Lá do alto, em quase oito décadas, assistiram ao burburinho na Avenida Afonso Pena, às manifestações populares na escadaria da Igreja São José, ao surgimento dos arranha-céus e, acima de tudo, viram o crescimento da população urbana e as transformações na Região Centro-Sul da cidade.
 
Agora, pela primeira vez, os índios ou efígies indígenas que caracterizam a fachada de 30 andares do Edifício Acaiaca – um de olho na Rua Espírito Santo, outro, na Rua dos Tamoios – estão de "cara nova", fruto do recém-concluído trabalho de restauro iniciado em 15 de fevereiro.
 
Para a intervenção nos ícones feitos de argamassa e granitina e localizados na metade do prédio, de 120 metros de altura, foram colocados andaimes. "Seria impossível fazer o restauro sem as estruturas instaladas desde o chão. Foi diferente de outras obras nas quais trabalhei, pois agora eu me sentia 'sobre' a cidade, muito mais exposta", contou a especialista Maria Regina Ramos, conhecida como Marrege, do Grupo Oficina de Restauro, encarregado do serviço.
 
As peças têm 38 metros de altura cada uma; altura total do edifício de 30 andares é de 120 metros(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
As peças têm 38 metros de altura cada uma; altura total do edifício de 30 andares é de 120 metros (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
 
 
"Durante oito anos, atuei no restauro da Igreja São José, e agora terminei o Acaiaca: vi ângulos diferentes da paisagem, do topo de construções que são cartões-postais", orgulha-se a restauradora.
 
Durante o trabalho, Marrege e equipe verificaram, de perto, o péssimo estado das peças, cada uma com 38 metros. "Estavam muito escuras, com buracos e perdas devido à falta de conservação. Tivemos que fazer uma limpeza minuciosa antes de tudo. Logo abaixo de cada ícone, há quatro colunetas, e, para nossa surpresa, removemos ali 110 ferrinhos usados (55 em cada lado), ao longo do tempo, para prender cartazes de propaganda", afirma.
 
A restauradora explica ainda que foi necessário fazer a recomposição diante do excesso de buracos e perdas, sem usar tinta, pois as efígies indígenas não eram pintadas. "Apenas nas colunetas usamos tinta mineral, de forma a manter a textura original".
 
Equipe retirou das colunetas abaixo das imagens 110 %u201Cferrinhos%u201D usados para instalar propaganda(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
Equipe retirou das colunetas abaixo das imagens 110 %u201Cferrinhos%u201D usados para instalar propaganda (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS)
 
 
Mesmo trabalhando com máscaras o tempo todo, distanciamento nos andaimes e longe das vias públicas, a equipe de restauro paralisou o serviço durante 10 dias, entre o fim de março e início de abril, devido à pandemia do novo coronavírus.

MAIS LUZ Tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, o prédio inaugurado em 1943 e erguido durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – daí haver, no subsolo, um abrigo antiaéreo – teve a fachada pintada com tinta especial na cor areia.
Mais orgulhoso com o resultado está o presidente do conselho do condomínio do Edificio Acaiaca, Antonio Rocha Miranda, autor do livro Edifício Acaiaca: O colosso humano e concreto. Natural do Vale do Rio Doce e morador de BH desde criança, Antonio conheceu o prédio ainda menino, "durante a guerra", num passeio com o pai.
 
Além do restauro, há muitos projetos para o Acaiaca, anuncia Antonio. Em primeiro lugar, desde que com autorização do Patrimônio Municipal, está um sistema de iluminação, que teria características próprias, mas acompanharia também as campanhas de conscientização, como Setembro Amarelo, Outubro Rosa, Novembro Azul, e as festas natalinas.
 
"Aqui vai ser um ponto turístico-cultural. Do alto, temos uma vista panorâmica, única na cidade, de onde se veem o Parque Municipal, a Praça da Estação, a Serra do Curral, o Viaduto Santa Tereza, a Rua Sapucaí e, claro, a Afonso Pena."
 
Antonio destaca que o Centro precisa de iluminação para atrair as pessoas à noite, e o edifício pode ser o polo irradiador, pois, mais do que um condomínio, é um bem "coletivo". Os projetos são ambiciosos: "O Acaiaca poderá ser um mini-Empire State".
 
A comparação, guardadas as devidas proporções, é com o prédio emblemático de Nova York, nos Estados Unidos. "Temos o elevador mais rápido da cidade, que vai do primeiro ao 25º andar em poucos segundos. E o visitante ainda desfrutará de outro, panorâmico. A vida é assim, tudo começa com uma ideia." Mas para tudo se tornar realidade, será necessário patrocínio, sinaliza.

HISTÓRIA 
No estilo art déco, o Edifício Acaiaca, construído pelo empreendedor Redelvim Andrade, natural da região de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, teve projeto do seu genro, o arquiteto Luiz Pinto Coelho. No local, havia uma igreja metodista, erguida 38 anos antes, conta Antonio Rocha Miranda.
O prédio já foi considerado o maior arranha-céu de BH, e, os de saudosa memória vão se lembrar do cinema que existia logo no térreo e formava longas filas na porta.
 
Na sua história, o edifício abrigou também lojas de roupas femininas, boate, escola e a primeira sede da extinta TV Itacolomi, dos Diários Associados, primeira emissora mineira, inaugurada em 1955.
Conforme estudos, as efígies indígenas são fruto de uma época de transição para o Modernismo, quando são incorporados à arquitetura elementos da cultura nacional.
 
E o nome Acaiaca vem de uma lenda indígena: nas proximidades do Arraial do Tejuco, atual Diamantina, havia um povo indígena que "venerava" um frondoso cedro, ao qual chamavam acaiaca. Com razão. Lá no começo do mundo, o Rio Jequitinhonha transbordou, inundou tudo e só um casal sobreviveu, pois subiu na árvore e se protegeu. Depois que as águas baixaram, povoou a Terra.
 
ABRIGO ANTIAÉREO

Será que Adolph Hitler atacaria mesmo o Brasil? Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), muita gente acreditava que sim, tanto que prédios de Belo Horizonte, como o Acaiaca e outros na Praça Raul Soares, foram construídos com abrigos antiaéreos, seguindo um decreto do então presidente Getúlio Vargas para edifícios com mais de cinco andares. O do Acaiaca fica debaixo do antigo cinema, hoje igreja evangélica, servindo de refeitório para funcionários. O espaço tem saída para a Rua Tamoios, onde há carga e descarga. Em muitas cidades litorâneas brasileiras, com o Rio de Janeiro, os prédios seguiram as normas, e, passado o conflito, os abrigos viraram garagem. 


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