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Estado de Minas

Justiça dos EUA começa a julgar se Harvey Weinstein deve ir para a prisão

O produtor que era visto como manda-chuva em Hollywood responde a uma avalanche de acusações de agressão sexual que originaram o movimento #MeToo. Julgamento em NY se instala nesta segunda (6)


postado em 06/01/2020 04:00 / atualizado em 05/01/2020 17:11

O produtor Harvey Weinstein, que já foi um dos homens mais poderosos de Hollywood, vendeu propriedades num total de US$ 60 milhões para arcar com despesas relacionadas à sua defesa, segundo os promotores(foto: Spencer Platt/AFP)
O produtor Harvey Weinstein, que já foi um dos homens mais poderosos de Hollywood, vendeu propriedades num total de US$ 60 milhões para arcar com despesas relacionadas à sua defesa, segundo os promotores (foto: Spencer Platt/AFP)

Predador sexual em série ou vítima de acusações falsas? O julgamento penal de Harvey Weinstein por crimes sexuais começará nesta segunda-feira (6), em Nova York, dois anos após o escândalo que deu origem ao movimento #MeToo e derrubou dezenas de homens poderosos acusados de assédio ou de agressão sexual na indústria do entretenimento.

O ex-produtor de cinema, de 67 anos, um dos executivos mais poderosos de Hollywood até a eclosão do escândalo, pode ser condenado à prisão perpétua se for considerado culpado de agressão sexual predatória. O julgamento deve durar aproximadamente seis semanas.

Mais de 80 mulheres, incluindo as atrizes Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow, acusam Weinstein de assédio ou de agressão sexual. O início da avalanche de acusações se deu em 5 de outubro de 2017, quando o jornal The New York Times publicou reportagem revelando o comportamento de Weinstein, amparado em diversas acusações de mulheres que trabalharam com ele ao longo de décadas.

O julgamento de Weinstein na Suprema Corte de Nova York, contudo, envolve agressões contra apenas duas mulheres, uma vez que os demais crimes prescreveram. Uma das acusadoras é a ex-assistente de produção Mimi Haleyi. Ela afirma que o produtor praticou sexo oral contra sua vontade, em seu apartamento, em Nova York, em julho de 2006.

A segunda acusadora permanece anônima. Ela afirma que Weinstein a estuprou em um quarto de hotel, em Nova York, em março de 2013. A acusação foi alterada em agosto passado, para incluir o testemunho da atriz Annabella Sciorra. Os promotores esperam que seu relato ajude a convencer o júri de que Weinstein é um predador sexual em série.

PRISÃO

Se for considerado culpado pelo júri e receber uma sentença de prisão, será um marco para o movimento #MeToo, que combate o assédio sexual e o abuso de poder em Hollywood e em outras indústrias.

Desde que o movimento surgiu, após o tsunami de acusações contra Weinstein, quase todos os homens que foram acusados e perderam seus empregos evitaram processos criminais. O único outro julgamento criminal é o do cantor R. Kelly, um dos mais famosos nomes do R&B. Ele foi acusado no ano passado de vários ataques sexuais contra meninas, embora as denúncias de má conduta sexual já o assombrem há muito tempo.

O comediante americano Bill Cosby foi condenado a três anos de prisão por agressão sexual em setembro de 2018. Seu processo criminal começou em 2015, dois anos antes do caso  Weinstein.


SILÊNCIO

“É um caso que será acompanhado em todo o mundo”, disse a advogada Gloria Allred, que representa Haleyi e Sciorra. O juiz James Burke rejeitou as tentativas da defesa de bloquear o testemunho de Sciorra, de 59 anos. É improvável que Weinstein testemunhe. Em geral, os réus criminais preferem permanecer calados para não se incriminar.

Seus advogados tentam há meses minar a credibilidade das duas acusadoras. Eles divulgaram e-mails e mensagens de texto por telefone que, segundo eles, mostram uma relação cordial entre as mulheres e Weinstein por vários meses após os supostos episódios de agressão.

Conhecido por sua impaciência e temperamento volúvel, Weinstein mudou de advogados várias vezes antes de ficar com Donna Rotunno, de Chicago, que defendeu com sucesso dezenas de homens processados por assédio, ou por agressão sexual.

Rotunno, chefe da equipe de cinco advogados que defenderão Weinstein, afirma que seu cliente será isentado de toda culpa. Weinstein insiste em que todas as suas relações sexuais foram consensuais, mas admitiu ‘erros’ e pediu desculpas por uma conduta que “causou muitos danos”.

Semanas antes do julgamento, em entrevista ao jornal The New York Post, ele reclamou que ninguém o reconhecia como um ‘pioneiro’ do impulso das mulheres na indústria cinematográfica. (AFP)

Gloria Allred é a advogada da assistente de produção Mimi Haleyi e da atriz Annabella Sciorra, que acusam Weinstein de agressão sexual(foto: Spencer Platt/AFP)
Gloria Allred é a advogada da assistente de produção Mimi Haleyi e da atriz Annabella Sciorra, que acusam Weinstein de agressão sexual (foto: Spencer Platt/AFP)


História de uma queda

Durante anos, ele foi um dos produtores independentes mais poderosos de Hollywood. Podia construir ou destruir carreiras no mundo do cinema e da TV. Era venerado e temido ao ponto de Meryl Streep dizer certa vez que era ‘Deus’. Mas Harvey Weinstein viu seu império ruir depois de uma série de acusações de assédio, agressão sexual e estupro, que teria praticado ao longo de 40 anos.

As atrizes Ashley Judd, Gwyneth Paltrow, Kate Beckinsale, Uma Thurman e Salma Hayek o acusaram de assédio ou agressão sexual. Asia Argento, Rose McGowan e Paz de la Huerta, de estupro. Mira Sorvino e Ashley Judd garantem que ele acabou com suas carreiras porque elas não cederam ao seu assédio.

Muitas contaram que o irascível e impaciente Weinstein marcava encontro com elas em quartos de hotel, onde as recebia coberto com uma toalha de banho e propunha que dessem ou recebessem massagens ou que o vissem se masturbar.

“Durante anos, ele foi o meu monstro”, escreveu a atriz mexicana Salma Hayek, ao relatar o que viveu durante as filmagens de Frida, em 2002, longa produzido por ele, no qual ela fazia o papel da protagonista. Diante de suas reiteradas negativas, Weinstein reagia com “ira maquiavélica” e ameaçava matá-la, segundo Hayek.

Das cinzas do império que construiu nasceram movimentos como #MeToo e Time's Up, que incentivaram dezenas de milhares de mulheres do mundo todo a denunciar nas redes sociais homens poderosos que praticaram abusos ou assédio e desataram uma mudança de atitude: tolerância zero com este tipo de conduta.

O escândalo acabou com sua carreira, seu casamento e sua reputação. Weinstein foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e da própria empresa, a The Weinstein Company (TWC).

TRATAMENTO

Em novembro de 2017, um mês depois de o escândalo vir à tona, internou-se em um centro de reabilitação para tratar a dependência de sexo. Sua segunda esposa, a designer de moda britânica Georgina Chapman, com quem tem dois de seus cinco filhos, divorciou-se dele.

Harvey Weinstein está em liberdade, depois de pagar elevada fiança. Usa um bracelete eletrônico e permanece recluso em uma casa alugada em um subúrbio nova-iorquino, perto dos filhos mais novos. Suas escapadas a Manhattan são perigosas: em outubro, várias mulheres o atacaram em um bar, chamando-o aos gritos de ‘estuprador’ e ‘monstro’, até serem expulsas do local.

No mês passado, apareceu na corte pálido, caminhando com um andador, antes de ser operado nas costas devido a um acidente de carro sofrido em agosto.

Nascido no Queens em 19 de março de 1952, filho de um lapidador de diamantes, Weinstein estudou na Universidade de Buffalo e inicialmente produziu shows de rock com seu irmão, Bob. Ambos cofundaram seu primeiro estúdio de cinema, Miramax, em 1979. Seus sucessos incluíram Sexo, mentiras e videotape, de Steven Soderbergh (1989), e Shakespeare apaixonado (1998), ganhador de sete estatuetas e com o qual Weinstein ganhou um Oscar de melhor filme.

A Miramax também produziu o primeiro sucesso de Quentin Tarantino, Pulp Fiction – Tempo de violência (1994) e O paciente inglês (1997, nove Oscars). A empresa foi vendida para a Disney em 1993, e os irmãos se afastaram da Miramax em 2005 para fundar a The Weinstein Company.

OSCAR Ao longo dos anos, os filmes de Weinstein receberam mais de 300 indicações ao Oscar e 81 estatuetas. Ele chegou a ter uma fortuna pessoal estimada entre US$ 240 milhões e US$ 300 milhões. Os promotores asseguram que o acusado vendeu seis propriedades por um montante total de US$ 60 milhões, nos últimos dois anos, para pagar custas legais e financiar suas duas ex-mulheres.

A TWC declarou falência no ano passado e foi comprada pelo fundo de investimentos Lantern. No mês passado, Weinstein chegou a um acordo de US$ 25 milhões com mais de 30 atrizes e ex-funcionárias que o processaram. A conta será paga por sua antiga empresa e empresas de seguros.

Hoje, Weinstein inspira Hollywood, mas como o vilão do filme. Um longa de suspense baseado no escândalo, intitulado The assistant, tem estreia prevista para o fim do mês. E está no forno outro filme, com produção de Brad Pitt, que encarou Weinstein em 1995 e ameaçou matá-lo se não parasse de assediar sexualmente sua namorada na época Gwyneth Paltrow. (AFP)

Donna Rotunno chefia a equipe de defesa do produtor. É o seu terceiro time de advogados desde o início do processo(foto: Bryan R. Smith/AFP)
Donna Rotunno chefia a equipe de defesa do produtor. É o seu terceiro time de advogados desde o início do processo (foto: Bryan R. Smith/AFP)


LINHA DO TEMPO 

Confira a cronologia do caso Weinstein

• 5/10/2017 
O The New York Times publica reportagem detalhando várias alegações de assédio sexual e agressão contra Weinstein, ao longo de três décadas. As atrizes Ashley Judd e Rose McGowan são as acusadoras mais conhecidas. O jornal revela que Weinstein chegou a acordos financeiros com pelo menos oito mulheres para guardarem silêncio 
sobre os abusos.

• 10/10/17 
A atriz e diretora de cinema italiana Asia Argento diz à revista The New Yorker que Weinstein a estuprou em 1997. Duas outras mulheres também o acusam de agressão sexual. As atrizes Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie e Rosanna Arquette se unem à lista de mulheres que denunciam Weinstein por assédio. Ele nega.

• 14/10/17 
O conselho da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood vota pela expulsão de Weinstein. Mais mulheres decidem revelar publicamente que foram assediadas por Weinstein. Outros nomes ilustres de Hollywood são denunciados por assédio sexual. O movimento #MeToo ganha força. 

• 25/5/18 
É revelado que os promotores que cuidam do caso em Nova York arquivaram uma investigação contra Weinstein sobre assédio contra uma mulher não identificada em 2013, assim como de obrigar a aspirante a atriz Lucia Evans a fazer nele sexo oral em 2004. Weinstein comparece diante de um juiz numa corte de Manhattan após se entregar à polícia. Seu advogado à época, Ben Brafman, negocia uma fiança de US$ 1 milhão e garante que seu cliente será declarado inocente. Weinstein passa a usar um bracelete eletrônico para ficar em liberdade. 

• 2/7/18
A Promotoria acrescenta três novas acusações por um ato sexual "forçado" em julho de 2006 contra uma terceira mulher, a assistente de produção Mimi Haleyi. Weinstein agora enfrenta um total de seis acusações e pode ser condenado à prisão perpétua se for considerado culpado. 

• 11/10/18 
A Promotoria decide abandonar as acusações relacionadas a Evans, após revelar que a acusadora contou a uma amiga que praticou sexo oral de maneira voluntária em Weinstein em troca de um papel como atriz. 

• 25/1/19 
Weinstein demite seu famoso advogado Ben Brafman e contrata dois novos defensores. Seis meses depois, ele também dispensa a dupla e contrata uma equipe liderada por uma mulher, a advogada de Chicago 
Donna Rotunno. 

• 26/8/19 
Os promotores apresentam uma nova acusação que permitirá que a atriz da série Família Soprano  Annabella Sciorra participe do julgamento como testemunha de acusação. O caso de Sciorra está prescrito, mas os promotores esperam que sua história ajude a convencer o júri de que Weinstein era um predador sexual. 

• 11/12/19 
Weinstein chega a um acordo de US$ 25 milhões com mais de 30 atrizes que o acusam de assédio e abuso sexual, em uma ação coletiva não ligada ao seu julgamento. Conforme o acordo, Weinstein não tem que admitir nenhuma culpa.


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