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Estado de Minas

Mario Sergio Cortella e Monja Coen conversam com o público em BH

O filósofo e a escritora zen-budista lançam o livro 'Nem anjos nem demônios - A humana escolha entre virtudes e vícios'', nesta terça-feira (29), no Sesc Palladium


postado em 29/10/2019 04:00 / atualizado em 28/10/2019 17:29

Mario Sergio Cortella e Monja Coen apostam no autoconhecimento como uma saída para a humanidade em crise(foto: PAULO FLEURY/DIVULGAÇÃO )
Mario Sergio Cortella e Monja Coen apostam no autoconhecimento como uma saída para a humanidade em crise (foto: PAULO FLEURY/DIVULGAÇÃO )

''Não banalizamos a conversa filosófica. Se estou no Sesc Palladium falando diretamente com o público, não vou deixar de usar o termo epistemologia só porque é sofisticado''

Mario Sergio Cortella, filósofo

Bons ou ruins, todos nós podemos ser. Tudo vai depender de nossas escolhas. Esse é o princípio de Nem anjos nem demônios – A humana escolha entre virtudes e vícios, lançado pela coleção Papirus Debates. A obra uniu o filósofo Mario Sergio Cortella, de 65 anos, e a Monja Coen, de 72, em uma longa conversa que, editada em livro, apresenta um debate sobre as opções que podemos tomar no decorrer da vida. A dupla chega a Belo Horizonte nesta terça (29) para participar, no Sesc Palladium, do projeto Sempre um Papo.

A filosofia ocidental que Cortella, professor titular aposentado da PUC São Paulo, domina se encontra com os conceitos da filosofia oriental, a praia da Monja Coen, que se iniciou no zen-budismo ainda nos anos 1980 – é fundadora da Comunidade Zen-Budista do Brasil, com sede em São Paulo. “Procuramos falar mais sobre as aproximações entre as concepções do que dos lados opostos, mesmo que não concordemos o tempo todo”, diz Cortella.

O conceito de destino, por exemplo, encontra ideias complementares. “Na concepção ocidental, judaico-cristã, não há destino. Adão e Eva fizeram o que fizeram porque quiseram, ninguém os obrigou. O livro do Gênesis trata da liberdade. A Monja mostra que a noção de carma, que parte do Ocidente considera fatalismo, também é resultado das escolhas”, comenta Cortella.

Monja Coen explica: “O budismo não é uma corrente filosófica, ele tem várias correntes filosóficas, assim como o cristianismo. A lei da causalidade é comum a todos os budistas. Ou seja, tudo que existe tem uma causa e uma condição para que se manifeste. As pessoas falam em carma dizendo 'este é meu carma' como algo (negativo), que tem tendência a se repetir. Mas ele pode ser neutro, benéfico ou maléfico. Na verdade, é o resultado imediato de ações, pensamentos e palavras, daquilo que colocamos no mundo. O carma não é um destino fixo, não é determinismo, é fluido.”

Sobre a maneira de se colocar no mundo, a monja apresenta um exemplo claro. “Uma pessoa olha uma rosa e pode dizer como é bonita, mas como tem espinhos. Outra pode dizer ela tem espinhos, mas como é bela. A ênfase que se dá ao espinho ou à beleza da rosa é que vai fazer diferença nas nossas escolhas, no céu ou no inferno.”

Para produzir Nem anjos nem demônios, Cortella e Monja Coen, que se conhecem há décadas, reuniram-se em duas ocasiões, no escritório do filósofo, em São Paulo, para oito horas de conversas gravadas. Há também registros em vídeos, que serão exibidos nos canais digitais dos autores. Para manter a fluidez uma conversa, o produto dos encontros foi bastante editado.

''O efeito principal do ensinamento vindo do autoconhecimento é o despertar para a sabedoria da vida''

Monja Coen,escritora


Sucesso nas livrarias

Nem anjos nem demônios é o 13º livro de Cortella para a coleção Papirus Debates. As obras anteriores já venderam 313 mil exemplares – o livro mais popular do autor é Ética e vergonha na cara, escrito com Clóvis de Barros Filho (65 mil exemplares vendidos). Monja Coen tem outras duas obras pela mesma coleção – O inferno somos nós, com Leandro Karnal, vendeu 62 mil exemplares.

Para Cortella, o interesse crescente do público por questões filosóficas se deve a certa “agonia” do mundo contemporâneo. “O mundo digital, com esses tsunamis informacionais, levou à ressurreição da filosofia, que entrou no circuito da moda, virou fenômeno pop. Ela se tornou mais sofisticada para que se entenda a recusa à superficialidade em função do mundo digital. Talvez quem tenha iniciado esse tipo de debate seja o filme Matrix (trilogia lançada em 1999), que trouxe grandes questões para pessoas que hoje têm 30, 40 anos. O que desejo? Uma vida autêntica ou um mundo ilusório?”, comenta ele.

Com prestígio em seus respectivos meios e popularidade entre o público, Cortella e Monja Coen descartam o famigerado selo de autoajuda. “Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé e eu (os chamados filósofos pop, que lançaram recentemente Felicidade – Modos de usar) somos todos doutores, viemos do mundo acadêmico”, afirma Cortella. “Podem até dizer que fazemos autoajuda, esse é um tipo de avaliação. Todos nós passamos por rituais e bancas, não banalizamos a conversa filosófica. Se estou no Sesc Palladium falando diretamente com o público, não vou deixar de usar o termo epistemologia só porque é sofisticado. Vou traduzi-lo, explicá-lo, de maneira que não prive as pessoas a ter acesso ao universo vocabular.”

Para Monja Coen, deve-se diferenciar autoajuda de autoconhecimento. “No livro 21 lições para o século 21, o autor israelense Yuval Noah Harari chega à conclusão, por meio de uma análise histórica dos últimos séculos, de que a solução para a humanidade é o autoconhecimento. Se você está nervoso, vai para o Facebook e ouve um som de cachoeira, se acalma. Isso é autoajuda, mas não leva à sabedoria. O efeito principal do ensinamento vindo do autoconhecimento é o despertar para a sabedoria da vida, com seus altos e baixos, para saber atravessar lutos e dificuldades. Esse processo é até dolorido, mas mostra os lados de sombra e luz.”

No mundo atual, as redes sociais são a nova ágora – referência às praças públicas na Grécia Antiga onde se davam os debates filosóficos, políticos e sociais. Cientes disso há bons anos, os pensadores atuais usam todos os meios para atingir o público. Livros de debates como o que uniu Cortella e Monja Coen são apenas uma ponta deste iceberg, formado também por palestras (o carro-chefe dos autores), vídeos, podcasts e  cursos on-line.

Aulas ON-LINE 

Cortella, que se aposentou em 2012, tinha até então 20 obras publicadas. “Em sete anos, aumentei para 42 o número de livros. Como não tenho mais obrigação cotidiana com o mundo acadêmico, meu tempo ficou mais liberado. Sempre estive na mídia, só que agora de maneira intensa”, comenta ele, que lançou há pouco curso on-line com 10 aulas, cuja primeira turma foi preenchida rapidamente.Já a produção mais recente de Monja Coen é um podcast de meditação (Meditação Zen) que entrou no ar neste mês. “Tenho me surpreendido com pessoas que vêm agradecer por ter modificado sua vida depois de me ouvir. A tecnologia fez com que as palestras não ficassem restritas. Existem vários canais que as pessoas podem acessar quando estão necessitadas. Para a minha alegria, parece que eles têm dado resultado.”

NEM ANJOS NEM DEMÔNIOS: A HUMANA ESCOLHA ENTRE VIRTUDES E VÍCIOS
De Mario Sergio Cortella e Monja Coen
Papirus/Sete Mares
208 páginas
R$ 38,90

SEMPRE UM PAPO
Com Mario Sergio Cortella e Monja Coen. Nesta terça-feira (29), às 19h30, no Sesc Palladium – Avenida Augusto de Lima, 420, Centro. Ingressos estarão disponíveis na bilheteria a partir das 17h30. Entrada franca, mediante doação de 1kg de alimento não perecível. Informações: (31) 3261-1501.


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