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Estado de Minas

'Do rock ao clássico' percorre três décadas de som e fúria

Coletânea de críticas do jornalista Arthur Dapieve registra surpresas e grandes acontecimentos no universo da indústria fonográfica e documenta a transformação de seu próprio gosto musical


postado em 03/08/2019 04:08

(foto: Mànya Millen/Divulgação)
(foto: Mànya Millen/Divulgação)

"Todo gênero musical tem um ciclo de vida. Algumas regras características tendem  a esgotar as possibilidades num prazo variável. Isso acontece claramente no blues,  que é a mesma coisa há muito tempo. Você teve a fase acústica, a elétrica, mas depois vira um culto ao passado. É a mesma coisa com o rock. Já foi maravilhosamente explorado, mas não tem mais a capacidade de mobilizar e surpreender

. Arthur Dapieve,
jornalista e crítico musical



Ao lançar Do rock ao clássico, pela editora Agir, o jornalista carioca Arthur Dapieve não só registrou a amplitude de suas preferências musicais, mas contou, em 256 páginas, uma parte importante da história fonográfica brasileira e mundial nos últimos 25 anos. O livro reúne 100 textos publicados em sua coluna no jornal O Globo entre 1993 e 2018. Nessa coletânea, ele começa falando sobre Kurt Cobain (1967-1994) e termina comentando um texto de um ensaísta e romancista francês sobre “música clássica e exílio”. Na estrada entre esses dois universos sonoros, suas crônicas também entram por batidas de outros gêneros.

Do rock ao clássico está segmentado em cinco grandes capítulos: Rock, numa perspectiva internacional; BRock, num recorte nacional; Músicas populares, em suas múltiplas possibilidades rítmicas; assim como Black music e, por fim, Clássico. Há, no entanto, um fio condutor responsável pela conexão entre as observações a respeito dos diferentes estilos. “Além da música em si e da beleza da melodia e do ritmo, o que aumenta o interesse é a condição em que ela é escrita. Tanto pela vida pessoal do compositor quanto pelo contexto histórico expressivo. É um conjunto de duas coisas. Escuto e gosto, isso é um ponto. Mas, às vezes, leio sobre a história e entendo que há um determinado contexto, que vou tentar escutar. Elas convergem para um mesmo ponto”, afirma Dapieve.

Nos textos selecionados aparecem fatos marcantes do universo musical, como as mortes de David Bowie (2016) e Amy Winehouse (2011), e shows antológicos, como o de Roger Waters na Praça da Apoteose (2002). Há ainda espaço para memórias pessoais, como em Ana Maria, em que Dapieve se refere à sua própria formação musical e jornalística, ao comentar o impacto que teve nele a leitura de uma crítica escrita por Ana Maria Bahiana em 1980 para a revista SomTrês sobre o álbum London calling, do The Clash. Na opinião do autor, o disco é “o melhor de toda a história do rock’n’roll’.

MEDALHÕES 

O crítico e jornalista afirma que um dos critérios para a organização do livro foi a escolha de textos que “sobreviveram”, seja pela relevância do artista tratado, ou da obra. “O importante é juntar conteúdo e formato”, diz. Segundo o autor, “outra preocupação, dentro de cada gênero, foi não deixar que os medalhões ocupassem totalmente o espaço, porque também escrevi muito sobre a novidade do momento”. Como exemplo, ele cita o cantor e compositor cearense Tom Drummond. “Ele tem só um disco lançado, mas acho maravilhoso. Então vamos tentar aplicá-lo em mais gente.”

Destino final da narrativa, o gênero clássico é também onde Dapieve se encontra atualmente. Logo nas páginas de apresentação, ele define o estilo como “uma paixão que hoje ocupa o lugar que foi do rock”. Observando a data de cada crônica, percebe-se que os textos dedicados ao rock são mais presentes na primeira metade da faixa temporal que o livro abrange. Para ele, isso é resultado de um processo inevitável. “Todo gênero musical tem um ciclo de vida. Algumas regras características tendem a esgotar as possibilidades num prazo variável. Isso acontece claramente no blues, que é a mesma coisa há muito tempo. Você teve a fase acústica, a elétrica, mas depois vira um culto ao passado. É a mesma coisa com o rock. Já foi maravilhosamente explorado, mas não tem mais a capacidade de mobilizar e surpreender”, argumenta.

Por outro lado, para ele, no que se costuma chamar de música clássica, as possibilidades são mais amplas. “Esse é o nome que damos a uma série de músicas, de períodos diferentes, que não são a mesma coisa, embora se comuniquem. Dentro dessas épocas existem várias modalidades – a música lírica, a ópera, instrumentos solo, música de câmara, orquestral. Tem muita coisa para descobrir. Minha novidade hoje em dia pode ser uma coisa composta ontem por um músico inglês mais jovem ou pelo Vivaldi, no século 18. Isso é o que tenho explorado mais.”

TRECHO
Ana Maria (publicada em 7/7/2000)
“Decidi escrever sobre música 20 anos atrás. Até então, achava que minha contribuição ao rock’n’roll poderia ser dada com as baquetas ou, ao menos, rabiscando umas letras. Mas algo aconteceu, algo que mudou minha vida: li um texto de Ana Maria Bahiana na revista SomTrês, de julho de 1980. O texto se chamava 'Um susto, uma paulada: The Clash! E a vida recomeça' e era uma crítica, ainda a partir de uma cópia importada, do recente álbum duplo (em LP) London calling, de 1979. Ao terminar de lê-la, sabia o que queria fazer da vida: compartilhar, para além da turma de segundo grau, o prazer de descobrir um bom disco. Se algum dia conseguisse transmitir a alguém um entusiasmo similar ao que Ana Maria havia me passado pelo Clash…”

Do rock ao clássico
. Arthur Dapieve
. Agir (256 págs.)
. R$ 39,90




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