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Estado de Minas

Músico e artista plástico 'sem vacina' expõe obras em Belo Horizonte

Eduardo Climachauska passou a ser representado pela Celma Albuquerque Galeria de Arte, que apresenta algumas de suas obras


postado em 25/07/2019 04:09

Galeria Celma Albuquerque expõe obras das séries O fundo do poço e Prisma, e prepara mostra ampla dos trabalhos do artista para o ano que vem(foto: FOTOS: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)
Galeria Celma Albuquerque expõe obras das séries O fundo do poço e Prisma, e prepara mostra ampla dos trabalhos do artista para o ano que vem (foto: FOTOS: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)

Tudo ao mesmo tempo é uma máxima levada a sério pelo artista paulistano Eduardo Climachauska, de 61 anos. Enquanto conversa com o Estado de Minas, por telefone, em seu ateliê na região da Rua da Consolação, no Centro de São Paulo, ele conta que pelo menos 10 papéis estão espalhados pelo chão, e o ambiente está dominado por um cheiro forte de tinta asfáltica. “Mas no canto está a minha guitarra. A qualquer momento, posso me sentar e tocar alguma coisa”, diz.

Climachauska, mais conhecido como Clima, é artista plástico, cineasta, cantor e compositor. Sua formação é em cinema, seu trabalho mais conhecido é como artista plástico. E, de uns tempos para cá, depois de emplacar letras nas vozes de Gal Costa (Hoje), Elza Soares (Luz vermelha e Solto) e Mariana Aydar (Nada disso é pra você, Mamãe papai, Samba triste), resolveu também se meter a compor a melodia. Recentemente, tornou-se parceiro de Jards Macalé, que gravou Longo caminho do sol. Em março, Clima lançou seu segundo álbum, La commedia é finita – frase que encerra a ópera Pagliacci (1892), de Ruggero Leoncavallo.

“Não separo as coisas”, comenta o artista, que agora conta com uma “casa” em Belo Horizonte. Climachauska passou a ser representado pela galeria Celma Albuquerque, que expõe atualmente algumas de suas obras. Para 2020, espera-se, o espaço na Savassi deverá fazer uma mostra ampla do trabalho de Clima.

O artista costuma trabalhar com séries. Em BH, estão expostas obras produzidas nesta década. Há exemplares das séries escultóricas O fundo do poço (2013, com trabalhos em mármore, madeira, latão e concreto) e Prisma (2015, dois prismas amarrados com cabo de aço). Felicidade de arranha-céu (2011) integra uma série de objetos de parede produzidos a partir de folha de zinco, pó de cal em uma caixa de acrílico, e Rua Belgrado (2013) reúne trabalhos em papel, com tinta asfáltica. “Toda a minha obra é difícil de fotografar. São trabalhos para ser vistos ao vivo”, observa. Em breve, novas obras chegarão à galeria.

ATÍPICO O trabalho com arte não para, diz Clima, que está em meio à criação de  uma nova série com trabalhos em acrílica e betume. Prepara também novos vídeos, que dialogam com seu trabalho na música. “Este ano está sendo um pouco atípico na parte das artes plásticas porque me meti a lançar um segundo álbum (o primeiro, Monumento ao soldado desconhecido, é de 2016). Imagina a demanda de produzir, compor, gravar, divulgar, fazer show.”

Clima se graduou em cinema na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), na época em que “cinema era arte, não comunicação”. Na mesma turma da universidade estavam alunos de música, jornalismo, artes plásticas. “Então você navegava por todo lado. Tive, por exemplo, aula de gravura, fazendo curso de cinema”, relembra. Nas artes plásticas, trabalhou, no início da carreira, com seu irmão, Paulo Climachauska. Depois, cada um tomou seu caminho, e Clima foi se envolvendo com outros parceiros.

O mais constante deles é Nuno Ramos, outro artista que produz em variados suportes e passeia por diversas linguagens artísticas. Juntos, os dois fizeram muito barulho em 2012, quando criaram a performance Globo da morte de tudo. A instalação trazia dois globos, tais como os dos circos tradicionais, conectados a estantes que continham mais de mil objetos que a dupla havia colecionado. Após uma performance com motoqueiros no globo da morte, ocorrida na galeria Anita Schwartz, no Rio de Janeiro, os objetos foram estraçalhados no chão.

Foi Nuno quem fez a ponte de Clima com Rômulo Fróes (o cantor e compositor trabalhou muitos anos como assistente do artista). “Eu me meti no negócio (da música) como me meto em tudo. Sou bem cara de pau.”
As parcerias com Nuno Ramos e Rômulo Fróes aparecem nos dois discos de Clima. La commedia é finita, com direção musical de Fróes, foi gravado com Fábio Sá (baixo), Kiko Dinucci (synths e samples), Rodrigo Campos (guitarra e cavaco) e Sérgio Machado (bateria). A cantora Juçara Marçal também participou do trabalho.

“Muita gente fala que faço disco de artista plástico. Mas nunca ninguém me disse que fiz uma exposição de compositor”, brinca ele, comentando o caráter experimental do trabalho. “É canção, mas é bem torta”, admite. Entre as músicas autorais estão Cão andaluz, Carcará sem fome e Passarinhos perdidos. Clima espera lançar o disco em show ainda neste semestre. “Mas é um pouco difícil juntar a turminha fera que está no disco. O povo que está lá é chique e ocupado”, comenta.

Música ele teve que suar um pouco para fazer. “Letra é mais fácil, vem do seu estofo, da sua formação. Música, para mim, é mais difícil. Resolvi me arriscar no caminho, espero dar alguma contribuição.” E o caminho de Clima tem sempre interseções. Na capa do álbum, em uma imagem colocada propositadamente de cabeça para baixo, ele aparece vestido de pierrô. A fotografia faz parte de um ensaio fotográfico assinado por Louie Martins que se estende até o encarte. “É como se estivesse numa festa meio cafona, meio doidinho, embebedado”, descreve.

Tal personagem dialoga com outro trabalho de Clima e Nuno Ramos, produzido cinco anos atrás. No filme Dádiva 1, que integrou a mostra Ensaio sobre a dádiva, ele viveu um pierrô perseguido por motoqueiros que é raptado em Porto Alegre. “Acho que é isso mesmo, meu trabalho é contaminado. Não me vacino.”
 
Meu trabalho é contaminado. Não me vacino”

Eduardo Climachauska, artista plástico e músico 

EDUARDO CLIMACHAUSKA
Os trabalhos do artista estão expostos na galeria Celma Albuquerque – Rua Antônio de Albuquerque, 885, Savassi, (31) 3227-6494. De segunda a sexta, das 9h às 19h; sábados, das 9h30 às 13h.


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