Ouvir Maria, novo trabalho de Carminho, é se transportar para as ruelas dos tradicionais Bairro Alto e Alfama, em Lisboa. A cantora portuguesa que despontou não só em seu país, mas também além-mar, abre esse álbum que ela considera o mais pessoal de sua carreira interpretando à capella a belíssima A tecedeira, de sua autoria. Quinto disco da carreira de Carminho, Maria mergulha em sua própria história e no maior símbolo musical lusitano, o fado.
Depois de reverenciar Tom Jobim em seu trabalho anterior, de 2017, a cantora de 34 anos se voltou para as suas origens. "Em termos formais, posso dizer que regressei ao fado. Mas, na verdade, nunca saí de lá. O fado é como uma língua que me leva a expressar meus sentimentos, a me comunicar, mesmo que seja com a obra de Tom Jobim ou um outro gênero musical. Talvez esse trabalho seja o que mais expressa um lado mais íntimo, pessoal, e talvez um pensamento mais profundo do que é o fado para mim, na sua forma de ser, na forma em que chega às pessoas, na forma como é tocado", afirma.
O próprio título, Maria – primeiro nome da artista, que se chama Maria do Carmo – já atesta o que Carminho pretendia com esse disco. "É um nome tradicional em Portugal, não só de mulheres, mas de homens. O fado também é tradição, atravessa os tempos, mas vem com uma atitude contemporânea, pensando hoje e falando sobre aquilo que se pensa hoje", diz
Além de assinar boa parte das músicas de Maria e de tocar guitarra em Estrela, Carminho se envolveu com a produção do álbum. "É um disco que fala de mim, sobre o que eu gosto, e onde relembro as minhas memórias, as minhas recordações mais antigas do que é uma noite de fado. Eu me dediquei não só à interpretação, mas à escolha do repertório, dos arranjos e da forma como eles se encaminham para esta tradução do que é o fado na minha concepção."
A cantora que estreou em disco com Fado (2009) conta que, para compor o repertório de Maria, ela não só buscou nas gavetas músicas e poemas seus (inéditos ou não), como também de outros compositores de sua geração. É o caso de Joana Espadinha, que fez letra e música de O menino e a cidade e As rosas, assim como Pedro Homem de Mello, parceiro de Acácio Gomes em O começo. Carminho resgatou ainda um tema do repertório de António Calvário, Pop fado, de César Oliveira e Fernando Carvalho, além de Sete saias, com letra e música de Artur Ribeiro. "É uma busca contínua e sempre prevalecem os temas que me tocam mais."
CORAÇÃO Tida como uma das responsáveis pela renovação do fado, Carminho comenta a persistência do estilo. "Todas as evoluções fazem dele uma língua viva, que vai mudando. Mas é o tempo que ensina o que fica, o que é que deixa de ser fado e o que fica esquecido", pontua. Ela acredita que o momento seja bastante positivo para o gênero, não só em Portugal, mas no exterior. "Seus intérpretes estão dedicados a falar sobre si próprios e sobre o que pensam hoje. O mais importante de um gênero, para ser preservado e querer ser ouvido, é falar diretamente ao coração. E o mundo está com uma força e uma vontade de ouvir algo que seja identitário, que caracteriza um povo, uma forma única de sentir. Portugal tem a sorte e o privilégio de ter esse instrumento de comunicar, de se expressar muito próprio", avalia.
A ligação de Carminho com o Brasil vem de longa data. Seu primeiro contato com o país foi por meio das telenovelas. Ela ficava atenta não só aos enredos e aos atores, como também às trilhas sonoras. "O Brasil sempre foi muito marcante na cultura portuguesa. O contrário não acontecia muito. Mas, pouco a pouco, tenho sentido um carinho, uma redescoberta dos brasileiros com relação a Portugal e aos seus artistas", diz. Desde 2012, ela tem estreitado sua ligação com o Brasil, não somente gravando com artistas como Chico Buarque, Milton Nascimento, Marisa Monte, Ney Matogrosso, Nana Caymmi e Maria Bethânia, como apresentando-se em diversas cidades brasileiras.
"Sem dúvida nenhuma, isso tem me tem transformado de uma forma ímpar. Não só tem aumentado muito o interesse do público brasileiro, como têm se intensificado as parcerias que tenho feito com artistas brasileiros que têm me acolhido de uma forma tão carinhosa e que se tornaram mentores. Isso tem me feito crescer não só como artista, mas como pessoa." A turnê de Maria deverá passar pelas principais cidades brasileiras entre dezembro deste ano e janeiro de 2020. "Estou muito feliz de lançar mais um disco e de apresentá-lo ao público brasileiro, que estará lá mais uma vez acompanhando esta nova fase da minha vida artística. É uma grande alegria", diz.
Maria
Carminho
Warner Music Brasil (12 faixas)
Preço sugerido: R$ 30