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Em dia com a psicanálise


postado em 09/06/2019 04:12



Agressividade constitutiva



A importância da agressividade na economia psíquica do homem é significativa. Mais do que isso, é constitutiva. E nos ajuda a compreender muitos acontecimentos na história da humanidade. Mas não desejo falar sobre epopeias históricas. Prefiro tratar dos efeitos de sua presença constante na história afetiva de cada sujeito e nas consequências da agressividade nas nossas relações.

A experiência subjetiva da agressividade se manifesta desde nossa constituição e é sinalizada na presença de um terceiro. Ela é percebida como intenção de agressão e como imagem de desmembramento corporal e estas percepções são eficientes.

Não só no nível da fantasia, como também em enfrentamentos e brigas de amor e ódio, o desejo de destruir o outro se apresenta de modo evidente e assustador. Podemos também perceber sua presença constante nas reivindicações que permeiam todo discurso, nos atrasos, ausências premeditadas, censuras, fantasias de medo, reações emocionais de cólera, nas tatuagens, nos abusos de álcool e drogas, demonstrações com finalidades intimidatórias.

Até mesmo nas brincadeiras infantis não é incomum o arrancar a cabeça ou furar a barriga da boneca, destroçar um carrinho, demonstrando assim a presença da agressividade vivenciada sem censura na natureza humana. As violências tão frequentes levaram o homem de bom senso a tentar sua transformação e estabelecer a convenção do diálogo como possível recurso para administrar a agressividade nas relações sociais.

O diálogo parece constituir uma renúncia à agressividade. A filosofia desde Sócrates, nos lembra Lacan, sempre depositou no diálogo a esperança de fazer triunfar a via racional. Nem sempre, porém, este recurso é unânime, pois há quem pense: “É justo que o mais forte domine o mais fraco subjugando-o inteiramente conforme a natureza.” (Trasímaco da Calcedônia, sec. 5 a.C.). É na mediação da lei e da aplicação da Justiça que podemos nos proteger contendo esta força bruta, mas nunca completamente. Resta ainda grande contingente livre em cada um de nós para ferir, competir, rivalizar, acusar e julgar as pessoas com quem convivemos, e que nem sempre podem se defender do que supomos sobre ela.

Freud inaugura a compreensão da subjetividade com a descoberta do inconsciente e a construção de conceitos, como as pulsões de vida e morte, que nos indicam as tendências mortíferas e destrutivas que se expressam frequentemente sendo amenizadas uma pela outra para preservação da vida.

As pessoas trazem consigo esta agressividade represada, dissimulada, recalcada, e assim é porque a educação tem a missão de reprimir qualquer manifestação antissocial. Desde nossos primeiros passos, somos ensinados a abandonar a agressividade natural e sermos bonzinhos, comportados, amigáveis. Porém, ela sempre escapa nas brechas e falhas do autocontrole.

Somos educados a amar ao próximo como a nós mesmos. E tal mandamento reforça o que precisa ser domesticado na natureza humana, que é a rivalidade e a odiosidade contra o outro. Afinal, o que vemos nas relações familiares quase sempre complicadas não são harmonia e a plenitude. São disputas, intolerâncias e narcisismos das pequenas diferenças.

Nada pode anular totalmente a agressividade. Ela permanece nas relações e, mesmo desconhecida, negada, influencia o comportamento. Seria menos nociva se cada um tivesse consciência ou admitisse intimamente pelo menos suas reais motivações. Aqueles que assumem seu lado sombrio têm maiores chances de dignificar seus impulsos agressivos, substituindo-os pela razão.

Ser humano é difícil. Mais ainda quando não queremos saber por que agimos como agimos. Nestes casos, muitas vezes acusamos no outro o que rejeitamos e tememos em nós, culpando-o pelo que sentimos. É o que chamamos recalcado: o que incomoda é ignorado, esquecido, tornando-se inconsciente. Mas, mesmo estando neste estado, o esquecido não se esquece de surgir toda vez que é atiçado por algo atual.


l Convite aos leitores: terei a honra de proferir a palestra “Júlio Verne me salvou”, em 19 de junho, às 19h30, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes). Entrada franca.


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