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Questão de saúde mental


postado em 24/02/2019 05:09





Os trabalhadores da área de sofrimento mental nos últimos dias se revoltaram por causa das declarações do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O ministro é médico ortopedista e, no que diz respeito às novas diretrizes para os portadores de sofrimento mental e dependentes de álcool e drogas no Brasil, não agradou a todos.

Sua nomeação causou surpresa, já que o governo tem forte discurso anticorrupção e o ministro é investigado por suposta fraude em licitação, tráfico de influência e prática de caixa 2 no sistema de informatização quando foi secretário da pasta de saúde em Campo Grande. Mas ainda não é réu.

No Brasil, atualmente, há forte tendência de denunciar e denegrir a imagem de pessoas públicas antes mesmo de ter provas. Este modus operandi de denúncias e difamação atingiu o reitor catarinense Luiz Carlos Cancellier numa truculenta operação da PF – ele não suportou a pressão e atentou contra a própria vida. Até hoje nada foi provado contra Cancellier. Portanto, esperemos que o novo ministro seja investigado.

Por enquanto, a comunidade de saúde teme os temas polêmicos, como aumentar leitos para internação psiquiátrica na área de pediatria, alterar a forma de funcionamento do CAPS e defender a prática do uso de eletrochoque como terapia. E teme por ter assistido e até participado de movimentos com objetivo de mudar o péssimo e indigno tratamento no campo do sofrimento mental. Teme o retrocesso das conquistas relevantes que protegeram estes pacientes.

Nise da Silveira, renomada médica aluna de Carl Jung, dedicou sua vida à psiquiatria e manifestou-se radicalmente contrária às formas que considerava agressivas em tratamentos de sua época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, insulinoterapias e lobotomias.

Foi pioneira em defender a interação entre pacientes psiquiátricos e animais, bem como a arte como fator estabilizador das psicoses. O Museu de Imagens do Inconsciente no Rio de Janeiro, fundado por ela em 1952, conta esta história linda.

Depois das descobertas do “holocausto à brasileira” em Barbacena, no Hospital Colônia, gerou-se uma série de reportagens intituladas Os porões da loucura, de autoria do jornalista Hiram Firmino, aqui no EM, denunciando a situação desumana de mais de 5 mil pacientes num espaço projetado para 200. Os porões da loucura tornou-se livro e peça de teatro.

O defensor desta revolução que iniciou estes movimentos em defesa dos pacientes foi o italiano Franco Basaglia, que esteve no Brasil em 1969 e convocou estudantes e profissionais da saúde mental a derrubarem os muros detonando a escalada da desospitalização. Hoje, a hospitalização involuntária é prática do passado, abandonada como método curativo. Temos ainda o movimento antimanicomial que dura já 30 anos, uma consequência destes trágicos episódios que mancharam negativamente a história da psiquiatria.

De fato, os tratamentos para os portadores de sofrimento mental são atualmente muito diferentes. Estes pacientes são escutados e participam do tratamento psiquiátrico e psíquico colaborando para a compreensão e responsabilização de seus delírios e alucinações aprendendo a lidar com eles. Mesmo se não há uma estabilização definitiva, há uma grande melhora da qualidade de vida preservando seu corpo do excesso de medicamentos, que mais vão mortificá-los do que ajudá-los a viver melhor.

Existe um equilíbrio em cada caso. Cada um é um, e é no caso a caso que buscamos encontrar o caminho junto ao paciente. Ele é parceiro e de certo modo devemos secretariar os problemas que surgem, as crises e a administração dos sintomas e dos fenômenos complementares que acompanham casos mais graves.

Hoje, as internações involuntárias são altamente contraindicadas, mais do que isto, são proibidas, a menos que o paciente represente risco de atentar contra a própria vida ou dos outros. As internações são curtas e apenas protetivas.

Eletrochoques eram usados indiscriminadamente e, hoje, ainda são utilizados, mas em casos muito específicos. O que tememos é o retorno do abuso a que as pessoas são subjugadas ou se submetem acreditando que este tipo de terapia seja sem contraindicações. Não é. O excesso pode ser tão nocivo quanto qualquer outro excesso e as indicações podem ser abusivas também ao dopar as pessoas deixando-as robotizadas. A esse excesso medicamentoso chamamos camisa de força química.

A ética que deve conduzir o tratamento para as pessoas que sofrem é a palavra, e mesmo em casos de psicoses há associação com o tratamento médico. Seria bom deixar claro que o uso exclusivo de medicamento não recupera ou garante a estabilização do paciente.


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