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Sem recursos, museus de Minas Gerais pedem socorro

Ângela Gutierrez pode fechar os museus do Oratório e de Sant'Ana. Em BH, instituição dedicada à Inquisição está no vermelho e espaço dedicado aos brinquedos teme 'cenário ameaçado'


postado em 29/01/2019 05:02

Tatiana de Azevedo diz que Museu dos Brinquedos 'não sabe o dia de amanhã' (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Tatiana de Azevedo diz que Museu dos Brinquedos 'não sabe o dia de amanhã' (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)


Os museus de Minas Gerais pedem socorro. A indefinição sobre as leis de incentivo cultural nos âmbitos estadual e federal ameaça o funcionamento de importantes instituições, que necessitam de patrocínio para sobreviver. Os museus de Sant’Ana, em Tiradentes, e do Oratório, em Ouro Preto, podem fechar as portas. O Museu dos Brinquedos, em Belo Horizonte, luta com dificuldades para sobreviver, assim como o Museu da Inquisição. Também na capital, o Museu do Bordado deixou de funcionar há um mês.

“Não posso te dizer com certeza, mas realmente estou em vias de fechar por conta da falta de patrocínio”, afirma Angela Gutierrez, presidente do Instituto Flávio Gutierrez, que mantém os museus de Sant’Ana e do Oratório. De acordo com ela, o cenário é nebuloso e sem perspectivas devido à indefinição do futuro da Lei Rouanet, o principal mecanismo de fomento à cultura do Brasil.

“A gente não sabe ainda se a lei será modificada. É grande a desinformação e, claro, houve quem fez mau uso dela. Muitos patrocinadores temem investir porque estão confusos. Sem contar que o Ministério da Cultura se transformou em secretaria. Nosso instituto sempre captou por meio da Lei Rouanet, mas agora não sei como vai ser”, diz Angela Gutierrez. “Lutei bravamente para inaugurar os dois museus e vou lutar para que eles não fechem. Ambos são sucesso de público, atraem turistas para Ouro Preto e Tiradentes. A dificuldade não é só minha. Infelizmente, outros museus do país enfrentam o mesmo problema”, lamenta.

Sobreviver é um desafio, mesmo para instituições às voltas com projetos de expansão e novidades no acervo. Funcionando desde 2006 num belo casarão tombado na Avenida Afonso Pena, em BH, o Museu dos Brinquedos teme esse “cenário ameaçador”, diz a diretora-executiva Tatiana de Azevedo.

Ela confirma a nova museografia e a versão itinerante da instituição, que chegará a alguns centros culturais de Belo Horizonte. Ao longo de 12 anos, o espaço recebeu cerca de 95 mil visitantes espontâneos e cerca de 170 mil alunos de escolas e universidades. Atualmente, conta apenas com um patrocinador fixo, o Instituto Unimed-BH.



OXIGÊNIO

“Apesar de estarmos neste ano de atividades intensas, não sabemos o dia de amanhã. Nosso patrocínio fixo nos banca durante três meses, o que dá um oxigênio. Sem ele, seria impossível sobreviver, pois a bilheteria não cobre os custos”, informa Tatiana.

A diretora tem buscado alternativas, entre elas ações realizadas dentro e fora do museu, como aniversários, batizados e eventos corporativos. Outra fonte de recursos são as atividades de fomento cultural, sobretudo aos sábados e nas férias, como espetáculos de dança e teatro.

Tatiana de Azevedo afirma que as incertezas da política cultural são um empecilho, advertindo sobre a necessidade de investidores “separarem o joio do trigo”. “Há empresas que nem estão aceitando receber nossas propostas. A desinformação e a falta de conhecimento atrapalham. Não somos um show, uma turnê. Somos uma instituição que existe há 12 anos, promovendo um trabalho educativo. Temos a missão de preservar e difundir o patrimônio cultural lúdico da infância. Infelizmente, as pessoas colocam tudo no mesmo balaio”, diz, referindo-se à campanha contra a Lei Rouanet. “O momento presente é positivo pelo passado que construímos, mas a gente encara o futuro com muita apreensão. Sempre convivemos com incertezas, mas agora está pior”, ressalta.

INQUISIÇÃO

Aberto em 2012 no Bairro Ouro Preto, em BH, o Museu da História da Inquisição do Brasil é o primeiro dedicado ao tema na América Latina. O acervo remete à perseguição e assassinato de judeus cometidos a mando da Igreja Católica, tanto em Minas quanto no mundo. O presidente e fundador da instituição é Marcelo Miranda Guimarães, que formou o acervo durante 25 anos de viagens à Europa, quando trabalhava em uma multinacional.

De acordo com ele, o objetivo do espaço é resgatar e preservar a memória, além de promover o combate ao preconceito, ódio e intolerância. “A Inquisição acabou há séculos, mas o espírito dela, lamentavelmente, ainda se faz presente. Nosso museu é laico, não é a favor ou contra nenhuma crença. Lutamos por uma sociedade melhor, que respeite os direitos humanos e promova a paz entre os povos”, destaca. Em média, são 8 mil visitantes por ano.

O museu depende de doações e contribuições voluntárias para cumprir sua missão. “Desde que abri, há quase sete anos, vivemos no negativo. Temos historiador, museólogo e outras despesas. Em 2018, a gente criou o Projeto Amigos do Museu da Inquisição. As contribuições ajudam, mas não cobrem os custos”, informa.

A principal fonte de renda do espaço vem de descendentes de judeus lusitanos – os cristãos-novos – que pretendem obter cidadania portuguesa. “Em 2015, Portugal criou a lei que dá direito a todos os descendentes de judeus que se tornaram cristãos a obterem cidadania. Nosso museu ficou famoso por conta disso. Quem se interessa nos procura, paga uma taxa e fazemos pesquisa minuciosa sobre informações genealógicas, auxiliando no processo de obtenção da cidadania”, revela.

“Já ajudamos umas 200 pessoas. Com isso, conseguimos nos sustentar, mas com dificuldades, porque as leis de incentivo, infelizmente, não são muito abertas a um museu como o nosso, justamente pelo fato de a Inquisição ser um assunto pouco conhecido”, diz Marcelo Guimarães.

FECHADO


Criado em 2000 pela artista plástica Beth Lírio, o Museu do Bordado, que funciona no último andar da casa dela, no Bairro Cidade Nova, está fechado há um mês. Além das dificuldades financeiras, o espaço tem de se adequar às exigências do Corpo de Bombeiros, principalmente depois do incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro.

“Houve sindicância em vários espaços museológicos, por isso nós temos de nos adaptar. No momento, tive de encerrar as atividades porque minha casa está passando por reformas”, explica Beth.

O espaço guarda toalhas, lençóis, fronhas e camisolas, algumas de 1790. Oferece também aulas de desenho artístico e pintura. “Há 19 anos me dedico a ele. Doei e comprei tudo, mas preciso de uma sede apropriada. Recebemos visitantes de vários estados e até de outros países”, conta Beth. Ela entrou em contato com várias empresas para ajudá-la, mas não teve êxito.

“Há 10 anos, consegui aprovar cerca de R$ 70 mil na lei municipal de incentivo, o que me ajudou muito na ampliação, organização e manutenção do museu. Porém, não sei como vai ser daqui pra frente. O futuro é duvidoso”, desabafa Beth Lírio.

MUSEU DOS BRINQUEDOS
Avenida Afonso Pena, 2.564, Funcionários, (31) 3261-3992. Abre de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h; sábado e feriado, das 10h às 17h.
R$ 24 (inteira) e R$ 12 (meia).

MUSEU DA HISTÓRIA DA INQUISIÇÃO DO BRASIL
Rua Cândido Naves, 55, Bairro Ouro Preto, (31) 2512-5194. Abre de terça a sexta-feira, das 9h às 16h; domingo e feriado, das 10h às 15h. R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

MUSEU DE SANT’ ANA
Rua Direita, 93, Centro Histórico de Tiradentes, (32) 3355-2798. Abre de quarta a segunda-feira, das 10h às 18h30. R$ 5.

MUSEU DO ORATÓRIO

Adro da Igreja do Carmo, 28, Centro Histórico de Ouro Preto, (31) 3551-5369. Abre de quarta a segunda-feira, das 9h30 às 17h30. R$ 5. Entrada franca para estudantes e professores.


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