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Sobre tudo e nada


postado em 16/12/2018 05:07

Infelizmente, as pessoas deduzem e concluem cedo demais sobre tudo. Acreditam que podem rotular uma pessoa por algumas palavras que leem ou escutam dela. A pressa de ter certezas sobre tudo e garantir a segurança através do saber, mesmo que precipitado, é danosa e nos conduz a erros e perdas desnecessárias.

Sempre me intrigou, por exemplo, a forma como alguns que se intitulam cristãos são os primeiros a condenar aquilo que parece errado. Condenam o pecador e nem se lembram que Jesus salvou Maria Madalena do apedrejamento por mau comportamento, que multiplicou o vinho da festa de casamento para alegrar o povo, que dividiu o pão e multiplicou peixes, isto é, do pouco fez muito e esta divisão proveu tantos.

Homem como nós, ele se assentava e circulava entre os diferentes para levar até eles aquilo que acreditava, pois afirmava que estando sempre entre seus pares e iguais não poderia alcançar quem precisava. Assim nos admira ver que as pessoas em seu nome fazem exclusões e precipitam-se a julgar seus semelhantes. E lançam ao fogo os diferentes.

Entendo que não seja fácil andar na linha e seguir uma ideologia plenamente. A prática da tolerância é coisa dificílima, pois somos seres agressivos e gostamos de estar no topo da hierarquia quando se trata de garantias e poder, e, embora sejam imaginarizados, tais valores não garantem nada.

Qualquer destes valores imaginários podem sustentar o ego, mas desmoronam a qualquer tremor. Por isso, dizemos que viver é perigoso. O que você tem hoje pode perder amanhã, seja emprego, dinheiro, amor e até mesmo a vida. Porque viver é névoa nada. Passa como nuvem.

E aquele que desejar ser eternizado, que deixe suas marcas porque só o será pela palavra dos que ainda falarão e pelas obras que deixou, seja um filho, um livro, uma árvore. E é muito fácil perder o foco neste nosso tempo quando andamos sob uma chuva de informações que passa por nós como água em penas de um pato.

Elas tentam o comando, têm um alcance imperativo, requerem o estatuto de verdade absoluta, mas elas, estas informações, não são “a verdade”. A verdade, verdade mesmo, é isso que funciona entre nós, que trabalha em nós e que faz em nós uma lógica imbatível, um acontecimento.

Acontecimento que marca e muda um funcionamento depois dela, alterando a lógica anterior. Uma enunciação que, uma vez escutada, nos transporta para outro posicionamento.

Precisamos ter muito cuidado com os donos da verdade, aqueles que querem exercer o domínio do pensar e do viver, traçando mandamentos imperativos contra o que é o real, contra o furos do real e quantos! São como na rede de um pescador, muitos furos sustentados por firmes nós que suportam a carga a ser içada do mar.

E se quisermos pescar bons peixes, precisaremos encarar os furos que deixam escapar ainda bons frutos, mas assim é e será. Sempre teremos diante de nossos olhos fatos com os quais não concordamos, formas de vida diferentes e incompreensíveis. Porém, não podemos enquadrar o que quer que seja entre as categorias normal ou patológica.

Este insuportável em que o real nos coloca, que desperta a raiva, a reação exacerbada, quando não cabemos em nós, quando podemos chegar a agressões, crimes e tribunais, este cume do ápice que nos arrebata, embaraça, chamamos gozo da pulsão de morte. Fruição do pior que granjeia entre nós...

Que possamos, antes de agir como queremos, pensar se não estamos mergulhados demais entre os peixes da rede, esta rede que nos torna isca fácil para as vozes do mercado e pela sua mão invisível que nos aponta um caminho que nem ela sabe aonde vai dar.


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