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Estado de Minas SAÚDE

Terapia focal fotodinâmica é aliada no tratamento para o câncer de próstata

Dados apontam que tratamento em pacientes de risco intermediário não registrou caso de incontinência urinária e mudança mínima da função erétil após um ano


22/07/2021 04:00 - atualizado 22/07/2021 08:41

Verificação do posicionamento correto das fibras através de ultrassom(foto: FOTOS: Vithal/Divulgação )
Verificação do posicionamento correto das fibras através de ultrassom (foto: FOTOS: Vithal/Divulgação )

Uma esperança para os portadores de câncer de próstata de risco intermediário. É assim que a terapia focal fotodinâmica é apontada, segundo dados de estudo recente publicados nos anais da Asco 2021.

A pesquisa mostrou evidências promissoras da chamada terapia fotodinâmica com alvo vascular (VTP, na sigla em inglês) utilizando como agente fotossensibilizante a padeliporfina para eliminar o tumor com uma ou, no máximo, duas sessões de terapia.

 
Inserção das agulhas na localização do tumor dentro da próstata (fibras óticas são inseridas através das agulhas)
Inserção das agulhas na localização do tumor dentro da próstata (fibras óticas são inseridas através das agulhas)
Os índices divulgados demonstram que, após 12 meses, 83% dos tratados não tinham câncer de grau 4 ou 5 de Gleason (padrões mais agressivos da doença), incluindo 92% dos pacientes que realizaram duas sessões do tratamento. A terapia já é aprovada na Europa para câncer de próstata de baixo risco desde novembro de 2017.

 

Os resultados são bastante promissores, visto que hoje em dia as opções existentes para tratamento do câncer de próstata ainda têm riscos de incontinência urinária e impotência, o que não ocorreu com a VTP. Já há inclusive planos de se testar essa tecnologia para casos mais avançados no futuro

Lucas Nogueira, urologista mineiro e pesquisador visitante do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York

“No caso da terapia vascular fotodinâmica (VTP), a substância utilizada é a padeliporfina, que é derivada da clorofila de hélio-bactérias e é injetada na circulação, enquanto a área tratada é iluminada com luz com espectro abaixo do infravermelho, o que leva à liberação das substâncias nocivas na circulação restrita da área iluminada, causando oclusão dos vasos sanguíneos e consequente morte tecidual. No caso dos tumores de próstata, fibras ópticas são colocadas na localização do tumor e a reação com a padeliporfina ocorre após a ativação da luz na área onde está o câncer.”
 
É o que explica um dos responsáveis pelo estudo, o urologista mineiro e pesquisador visitante da Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, Lucas Nogueira. Segundo ele, além da eficácia apresentada pelas taxas de recuperação, um dos maiores benefícios desse tipo de tratamento é o pequeno grau de agressão da terapia, sendo realizado sem incisões e de forma ambulatorial, podendo inclusive ser repetido se houver necessidade.

“As repercussões do tratamento nos resultados funcionais foram mínimas, com índices de continência e disfunção sexual quase semelhantes àqueles antes do tratamento”, destaca.
 
“Por isso, os resultados são bastante promissores, visto que hoje em dia as opções existentes para tratamento do câncer de próstata ainda têm riscos de incontinência urinária e impotência, o que não ocorreu com a VTP. Já há inclusive planos de se testar essa tecnologia para casos mais avançados no futuro”, comenta Lucas Nogueira.
 
Ao todo, foram tratados 50 homens, sendo 46 deles avaliados até os 12 meses. Dos quatro que não concluíram o estudo, um homem procedeu à prostatectomia (falha do tratamento), dois homens recusaram a biópsia de 12 meses e um homem morreu em decorrência de um quadro de COVID-19.

O estudo não registrou nenhum caso de incontinência urinária e mudança mínima da função erétil após 12 meses do tratamento. Todos os pacientes foram submetidos aos questionários de padrão internacional para avaliação da continência e da potência sexual.

O PROCEDIMENTO

A terapia focal fotodinâmica é um tratamento minimamente invasivo e dura cerca de 90 minutos. “O paciente segue para casa no mesmo dia, se feito pela manhã, com a recomendação de não se expor ao sol por três dias e se hidratar para eliminação da droga pela urina. Injetamos na corrente sanguínea a substância fotossensibilizante, derivada da clorofila, que com a exposição de laser infravermelho na área a ser tratada provoca um infarto local. A região deixa de receber oxigenação e nas próximas horas já começa a ocorrer destruição do tecido iluminado.”
 
“O tratamento é feito apenas no quadrante onde está o tumor, preservando o restante da próstata”, explica. A substância chamada de padeliporfina (WTS11, na sigla em inglês), além de barrar a oxigenação da área tratada, estimula o sistema imunológico contra o câncer. Outro benefício da VTP é manter a baixa toxicidade localizada, ao contrário dos demais tratamentos focais, que têm toxicidade local maior e não preservam o órgão.
 
A conclusão do estudo diz: “Os resultados positivos deste estudo mostram que o WST11-VTP é eficaz como tratamento focal do câncer de próstata de risco intermediário, com toxicidade mínima ou impacto na função urinária e sexual, consistente com os resultados do estudo de fase 3 em doença de baixo risco. Com base nesses dados, esta terapia deve ser considerada para aprovação como uma opção terapêutica conservadora para casos selecionados de doença de risco intermediário”.
 
Efeitos adversos foram registrados em 12% dos pacientes, na sua grande maioria leves, sendo que todos foram resolvidos em três semanas.

Nesse cenário, o procedimento é contraindicado para pessoas que apresentam qualquer condição ou histórico de doença intestinal inflamatória retal ativa ou outros fatores que possam aumentar o risco de formação de fístula retal; em caso de uso de drogas anticoagulantes que não puderam ser suspensas pelo menos cinco dias antes do procedimento ou drogas antiplaquetárias que não puderam ser suspensas pelo menos cinco dias antes do procedimento e por pelo menos três dias após a VTP, e história de hipersensibilidade ao sol ou dermatite fotossensível.
 
Segundo Lucas Nogueira, os resultados do estudo, bem como a possibilidade de aplicar o método no tratamento da neoplasia, representam um avanço no tratamento do câncer de próstata de risco intermediário, pois apresenta ótimo resultado no tratamento focal do tumor, aliado à preservação do órgão, evitando procedimentos mais agressivos.
 
“Dessa forma, diminui muito a incidência de complicações funcionais desses tratamentos, como incontinência e a disfunção erétil. Ademais, é um procedimento realizado de maneira ambulatorial, com o paciente recebendo alta no mesmo dia, com poucos efeitos colaterais imediatos e podendo também ser repetido em caso de falha. Um ponto importante também é que o tratamento com VTP não interfere em um tratamento radical posterior, como cirurgia ou radioterapia, caso necessário.”

O ESTUDO

O especialista mineiro conta que o estudo surgiu a partir da tendência de preservação de órgãos no tratamento de outros tumores, sem prejudicar os resultados oncológicos, o que nem sempre ocorre no caso da próstata.

“Tumores de rim, mama e pulmão são alguns exemplos dessa evolução. E o tratamento total da próstata, através da retirada ou radioterapia, apresenta riscos de complicações funcionais, com grande repercussão na vida dos pacientes. Mas, há uma tendência na preservação da próstata em pacientes com risco intermediário”, explica.
 
“Este é um grupo onde a vigilância ativa não estaria adequada devido ao risco de progressão, mas também o tratamento radical seria uma opção muito agressiva. As técnicas que tratam somente o câncer dentro da próstata, chamadas de terapia focal, estão sendo estudadas nos pacientes com risco intermediário, representando o equilíbrio entre as agressividades da doença e do tratamento. A VTP é uma dessas técnicas e provavelmente com estudos mais avançados poderá em um futuro breve representar a melhor opção para o tratamento do câncer de próstata nesse cenário”, comenta.
 
A equipe do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center está finalizando a redação do estudo para ser publicado nos próximos meses e os médicos já estão elaborando os protocolos para o início da fase 3.

A NEOPLASIA

O câncer de próstata ainda é importante causa de morbidade e mortalidade. É atualmente o tipo de câncer mais comum e o segundo em mortalidade no sexo masculino. Para o ano de 2021, foram estimados 65.840 novos casos e 15.983 óbitos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

E, segundo o urologista Lucas Miranda, essa é uma doença que aumenta a incidência de acordo com a idade do homem, com pico de diagnóstico em torno dos 65 anos.
 
“O câncer de próstata geralmente é causado por mutações em genes relacionados ao reparo do DNA, não havendo fator ambiental bem determinado. Os grupos de risco são: raça negra e histórico familiar de câncer de próstata, mama ou ovário”, comenta.

Conforme o médico, o diagnóstico é suspeitado por alterações no PSA ou toque retal, e confirmado por biópsia. Na fase inicial, quando está localizado somente na próstata, esse tumor não apresenta sintomas, que se iniciam nas fases mais avançadas, como dor óssea, hematúria (sangue na urina), fluxo urinário fraco ou interrompido, ou necessidade de esforço para esvaziar a bexiga.
 
Nesse cenário, após o diagnóstico é de suma importância que o tratamento seja iniciado imediatamente, o qual é feito de acordo com o estágio da doença.

“Aqueles localizados na próstata são classificados e tratados de acordo com sua agressividade. Atualmente, os que apresentam laudo avançado, já metastática ao diagnóstico, são tratados com hormonioterapia associada ou não à quimioterapia”, destaca Lucas Nogueira.

*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram



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