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Estado de Minas COMBATE AO CâNCER

Como funciona a técnica brasileira que recuperou mineiro com câncer terminal

Terapia que usa células T do próprio paciente é muito mais barata que as usadas no exterior e será testada em mais doentes


postado em 12/10/2019 04:00 / atualizado em 12/10/2019 09:53

O aposentado Vamberto Luiz de Castro chegou ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto com prognóstico de um ano de vida. Um mês após o início da terapia, está prestes a ter alta(foto: Hugo Caldato/Hemocentro RP/Divulgação)
O aposentado Vamberto Luiz de Castro chegou ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto com prognóstico de um ano de vida. Um mês após o início da terapia, está prestes a ter alta (foto: Hugo Caldato/Hemocentro RP/Divulgação)


De um prognóstico de menos de um ano de vida a uma recuperação impressionante, com previsão de alta após apenas um mês de tratamento. A história do mineiro Vamberto Luiz de Castro, de 63 anos, enche de esperanças pessoas que sofrem de câncer no Brasil, assim como seus familiares, ao apontar novas possibilidades de terapia. Ele é o primeiro paciente a ser tratado na América Latina a partir de uma inovadora técnica que usa células do sistema imunológico (células T) retiradas do próprio paciente e geneticamente modificadas. Agora, outras pessoas entram na fila para testar a inovação, ainda experimental, porém  muito mais barata que similares adotadas em outros países. Desenvolvida com recursos públicos para pesquisa, a intervenção ainda precisa de investimentos para avançar até estar disponível no Sistema Único de Saúde.

O aposentado estava em condição terminal, com linfoma avançado que não respondia a nenhuma das intervenções convencionais. Após a nova terapia, a equipe médica afirma que o paciente já superou a fase crítica da recuperação e poderá voltar para casa amanhã. Vamberto deu entrada no início de setembro no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), ligado à Universidade de São Paulo (USP). Tinha muitas dores, perda de peso e dificuldades para andar. O estágio do câncer que acometia seu sistema linfático era considerado grave, tendo inclusive se espalhado para os ossos. “Nesses casos, no Brasil, restam apenas cuidados paliativos. Ele tinha uma dor intratável, dependia de morfina todo dia”, contou o médico Renato Cunha, um dos pesquisadores que integram a equipe que tratou o mineiro.

Antes da internação, o aposentado tinha sido tratado com radioterapia e quimioterapia, sem obter progressos. Então, como uma última tentativa, os médicos incluíram o paciente em um protocolo de pesquisa e testaram nele a nova terapia, até então nunca aplicada no Brasil. “Menos de 20 dias após ser submetido ao tratamento, ele já apresentava remissão da doença. Não tem mais nenhum dos sintomas”, atesta Cunha. Os médicos, no entanto, ainda não falam em cura, já que o diagnóstico final só pode ser dado após um período de acompanhamento. Segundo Renato Cunha, ainda é preciso tempo para avaliar com mais clareza se a resposta à terapia foi total ou parcial, o que depende do perfil biológico do tumor.



No Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, o aposentado foi submetido a uma adaptação do CART-Cell, dentro de um programa de pesquisa nacional financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). Com isso, os pesquisadores desenvolveram um procedimento próprio de aplicação da técnica. O método consiste na manipulação de células do sistema imunológico para que elas possam combater as células causadoras do câncer.

ÂNIMO
RENOVADO

A terapia acende uma nova esperança para pacientes em tratamento de câncer no Brasil. Segundo Marcelo Luiz Pedroso, coordenador de relações institucionais da Ação Solidária às Pessoas com Câncer (Aspec), esse é um alento para pacientes oncológicos. “Essas experiências são muito válidas, porque trazem esperança para os pacientes, e isso por si só já é muito positivo. Os pacientes, muitas vezes, estão desanimados com a sua situação, e saber que existe uma nova possibilidade pode ser revigorante”, afirma. Ele avalia a nova terapia como positiva, mas não deixa de destacar a importância do diagnóstico precoce. “Temos que falar do tratamento, mas também temos que nos concentrar em prevenção, e o diagnóstico precoce é a melhor forma para isso”, afirma.

Segundo o médico Renato Cunha, outros pacientes serão em breve submetidos à técnica que, por enquanto, é considerada experimental. Para ampliar o alcance do tratamento, o médico destaca a necessidade de reforçar a estrutura da unidade. “Só conseguimos desenvolver o tratamento de modo relativamente rápido porque temos uma estrutura há muito tempo em construção. Esse investimento agora se traduz em novos tratamentos mais eficazes contra o câncer”, disse.

A expectativa, agora, é de que a terapia seja testada ao longo dos próximos seis meses em pelo menos outros 10 pacientes e, no futuro, esteja disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). “Conseguimos trazer para o Brasil um tratamento promissor, com custos que estão dentro da realidade do país”, afirma Cunha. O investimento, segundo o médico, é muito próximo do valor que o SUS repassa para um transplante de medula óssea – hoje em torno de 
R$ 110 mil – o que faz com que a nova forma de intervenção seja considerada acessível.

COMO FUNCIONA O tratamento é feito com células T (do sistema imunológico) retiradas do próprio paciente e geneticamente modificadas. A função original dessas células é combater doenças, mas muitas formas de câncer tornam-se “invisíveis” para esse mecanismo. “É como se as células de defesa ficassem cegas para as cancerígenas, que conseguem, então, se proliferar”, explicou Renato Cunha. Com a alteração genética, as células T voltam a “enxergar” as doentes e podem destruí-las.

A reprogramação das células do sistema imunológico é feita em laboratório, com o DNA de um vírus, para que sejam capazes de identificar as células tumorais e agir sobre elas (veja infográfico). No tratamento, também está incluída uma etapa em que o sistema imunológico dos pacientes é “derrubado” para que as células reprogramadas possam atuar. As células T alteradas e cultivadas em laboratório são então injetadas de volta no paciente e passam a se multiplicar aos milhões, fazendo com que o sistema imunológico passe a identificar as células cancerígenas do linfoma como inimigos a serem destruídos.

Segundo os especialistas, a CART-Cell é uma forma de terapia genética já empregada nos Estados Unidos, Europa, China e Japão, indicada para combater linfomas e leucemia linfoide aguda. A técnica, ainda recente, está em fase de pesquisas e é ainda pouco acessível no Brasil. Nos EUA, os tratamentos comerciais já receberam aprovação, mas podem custar mais de US$ 400 mil.
O médico Renato Cunha avalia os resultados como uma conquista para a medicina do país. “O Brasil agora está no patamar dos poucos países que têm acesso a essa terapia. Isso é muito positivo do ponto de vista científico e também humano, considerando quantas vidas podem ser salvas com esse procedimento”, argumenta. (Com agências)






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