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Estado de Minas DESCOBERTA

Crânio encontrado na Etiópia sugere o rosto do avô da humanidade

Artefato ajuda a reconstruir a face do hominídeo Australopithecus anamensi, considerado o ancestral de Lucy. Com observações em campo e análises biológicas, cientistas também reconstituíram o local em que ele morreu


postado em 31/08/2019 13:42 / atualizado em 31/08/2019 13:45

Crânio foi encontrado em estado notavelmente completo na Etiópia, abalando, mais uma vez, nossa visão da evolução (foto: AFP/Divulgação )
Crânio foi encontrado em estado notavelmente completo na Etiópia, abalando, mais uma vez, nossa visão da evolução (foto: AFP/Divulgação )

Em 10 de fevereiro de 2016, Ali Berino, um etíope que trabalha para paleontólogos no sítio de Miro Dora, em Afar, encontrou uma mandíbula superior exposta na superfície de depósitos arenosos. Aquilo era diferente de qualquer outra peça em que ele já havia colocado os olhos. Os cientistas que comandam a exploração da área também ficaram impressionados, e mais ainda quando descobriram um crânio inteiro, no qual o maxilar se encaixava perfeitamente. Nos anos seguintes, a equipe do chamado Projeto Paleontológico Woranso-Mille se dedicou ao estudo de datação da área. As análises revelaram que se trata do único espécime bem preservado do ancestral de Lucy, a Australopithecus afarensis, referida muitas vezes como a “mãe da humanidade”.

A espécie à qual pertence o crânio é a Australopithecus anamensis e, por ora, trata-se da mais antiga representante do gênero Australopithecus, um hominídeo do qual o homem moderno descende. Ela já era conhecida, mas, até então, só havia dentes e fragmentos ósseos, datados de 4,2 milhões e 3,9 milhões de anos, descobertos em 1981. O espécime escavado em Miro Dora tem 3,8 milhões de anos e, como o crânio está completo, revelou a face do “avô” da humanidade.

“Ele tem uma mistura de características faciais primitivas e derivadas que eu não esperava ver em um único indivíduo”, disse, em uma coletiva de imprensa, o paleontólogo Yohannes Haile-Selassie, do Museu de História Natural de Cleveland, que liderou o estudo sobre esse fóssil. “O A. anamensis já era uma espécie sobre a qual sabíamos algumas coisas, mas esse é o primeiro crânio descoberto. É bom finalmente conseguirmos dar uma face ao nome. Até agora, tínhamos um gap muito grande entre o ancestral humano mais antigo conhecido, que tem cerca de 6 milhões, e as espécies como as de Lucy, entre 2 milhões e 3 milhões de anos. Um dos aspectos mais interessantes dessa descoberta é que o espécime faz a ponte no espaço morfológico entre os dois grupos”, complementou Stephanie Melillo, pesquisadora do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva e coautora de dois artigos sobre a descoberta, publicados na revista Nature.

Além de revelar uma importante peça da anatomia do A. anamensis, o crânio desafia a crença de que a transição dessa espécie para a de Lucy foi linear. Ao contrário, a datação demonstra que, por 100 mil anos, eles coexistiram. O fóssil foi encontrado a 55 quilômetros de Hadar, onde Lucy foi escavada, em 1974. “Nós costumávamos pensar que o A. anamensis gradativamente se transformou no A. afarensis ao longo do tempo. Ainda acreditamos que as duas espécies tiveram uma relação de ancestral-descendente, mas a nova descoberta sugere que elas estavam, na verdade, vivendo juntas em Afar por algum tempo. Isso muda nossa compreensão sobre o processo evolutivo e levanta novas questões. Por exemplo: elas competiam por comida e espaço?”, questionou Melillo. Para Selassie, trata-se de uma reviravolta sobre a evolução humana durante o Plioceno.
 
Reconstituição artística da aparência do indivíduo ao qual pertenceu o crânio completo de 3,8 milhões de anos encontrado na África(foto: Yohannes Haile-Selassie, Cleveland Museum of Natural History/Divulgação )
Reconstituição artística da aparência do indivíduo ao qual pertenceu o crânio completo de 3,8 milhões de anos encontrado na África (foto: Yohannes Haile-Selassie, Cleveland Museum of Natural History/Divulgação )
PAISAGEM 

A edição da Nature também traz um artigo de Beverly Saylor, pesquisadora da Universidade da Reserva de Case Western, que determinou a idade do fóssil por meio da datação de minerais nas camadas de rochas vulcânicas próximas ao local em que ele foi encontrado. Saylor e a equipe da universidade combinaram observações em campo com análises de restos biológicos microscópicos para reconstruir a paisagem, a vegetação e a hidrologia da época e do local onde o espécime descoberto morreu. O indivíduo foi encontrado em depósitos arenosos no delta, onde um rio se encontra com um lago. O rio provavelmente se originou nas terras altas do platô etíope, enquanto o lago desenvolveu-se em elevações mais baixas, afirma a pesquisadora.

Fósseis de pólen e grãos, além de restos químicos de plantas e algas preservados no lago e nos sedimentos do delta forneceram algumas pistas sobre as condições ambientais na época em que o A. anamensis viveu. Especificamente, eles indicam que a bacia hidrográfica era basicamente seca, mas que também havia áreas de floresta às margens do delta e do sistema lacustre. “Ele viveu perto de um grande lago em uma região que era seca. Estamos ansiosos para conduzir mais trabalhos nesses depósitos para entender o ambiente do espécime, a relação com as mudanças climáticas e como isso afetou a evolução humana de forma geral”, disse, em uma nota, Naomi Levin, pesquisadora e coautora do estudo. 


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