Gostaria que você escrevesse sobre o mau humor. Por qualquer motivo perco minha alegria, tudo me irrita e não vejo graça em nada.
Carolina, de Belo Horizonte
Uma das mais recentes descobertas da ciência é a importância da alegria nas nossas vidas. Essa nossa energia vital não só contagia os que estão por perto como influencia a nossa saúde. Os cientistas descobriram que as emoções negativas, principalmente a tristeza, enfraquecem a capacidade imunológica do organismo. E, ao contrário, o entusiasmo e a alegria melhoram a capacidade de defesa do corpo.
O bom humor, portanto, longe de ser uma característica peculiar a algumas pessoas, é próprio da natureza humana. É nosso estado natural. E por que algumas pessoas são brincalhonas e risonhas, enquanto outras são mal-humoradas?
O mau humor camufla uma depressão não consentida e, portanto, não tratada. Tem por base uma visão idealizada do mundo e um treino para responder com irritação e tristeza à realidade quando esta não se apresenta da maneira que se gostaria.
Poderíamos dizer que a pessoa mal-humorada tem baixo limiar de frustração. Ela gostaria que o mundo acontecesse sempre da forma que ela imagina. O que, evidentemente, não acontece. Temos precário controle sobre a realidade, que, por ser vasta e múltipla, na maioria das vezes se insurge contra os nossos desejos. A isso chamamos de problema.
O mau humor é uma resposta sofrida aos problemas da vida, especialmente aos problemas do cotidiano e das relações. E exatamente por ser impossível controlar todas as situações, incluindo as outras pessoas, é que não podemos levar muito a sério a vida.
Sílvia Cardoso, neurocientista da Unicamp, que estuda o riso e seus efeitos, afirma que “ser bem-humorado significa perceber que a maior parte das situações que vivemos não é nem muito importante, nem muito séria, nem muito grave.”
Ocorre que a sociedade não valoriza a alegria e privilegia a seriedade e a responsabilidade em excesso. Levamos tudo a ferro e fogo e transformamos até as pequenas contrariedades em questões de vida e morte. Somos muito rigorosos com o mundo, conosco mesmos e com as outras pessoas.
A palavra humor, que vem do latim, significa “deixar fluir”: aceitar as próprias falhas e desenvolver a entrega. É claro que não é possível estar sempre de bom humor. De vez em quando a gente sente raiva, medo, tristeza e ansiedade. Não podemos reprimir esses sentimentos. Deixar fluir significa deixar também que os sentimentos negativos ocorram. Bom humor não significa alegria permanente. O que não podemos é permanecer muito tempo na irritação e transformar esse estado em uma maneira de viver, como faz a pessoa que sofre do mau humor.
Existem hábitos que favorecem o estado de alegria ou reforçam os estados de mau humor. A reclamação sistemática, verbalizada ou pensada, a mania de olhar sempre o lado negativo das coisas, a autopiedade, conviver com pessoas de “baixo-astral”, são alguns hábitos que reforçam nossa tendência à depressão.
Dormir um bom sono, fazer exercícios físicos, pela sua capacidade de estimular a liberação de endorfinas, excluindo os exercícios competitivos, praticar orações, brincar, ouvir músicas relaxantes, dedicar-se a alguma arte são hábitos que nos predispõem a uma visão de vida menos estressante. E como a alegria não é algo que vem de fora, mas faz parte de nossa essência humana, não é difícil transformar o nosso comportamento de mau humor. Basta aumentar nossa tolerância e aprender a rir das situações que fogem ao nosso controle.
Tudo tem o seu lado engraçado. Levar a sério esse lado, treinar a gargalhada diante de nossa impotência é a base para uma vida mais saudável, descontraída e feliz. Se não levarmos a vida tão a sério, seremos capazes de rir de nós mesmos, que é o máximo do “bom humor”.