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Estado de Minas

Agricultura caminha para ficar livre de resíduos químicos

A exemplo de outros países, uso de defensivos biológicos na agricultura deve crescer cerca de 15% anualmente no país, promovendo maior equilíbrio no combate às pragas


postado em 17/12/2018 06:00 / atualizado em 17/12/2018 10:17

Controle é feito por meio de microvespas, que se alimentam dos ovos das pragas (foto: Fotos: ABC Bio/Divulgação)
Controle é feito por meio de microvespas, que se alimentam dos ovos das pragas (foto: Fotos: ABC Bio/Divulgação)

Ao longo das últimas décadas, o uso de biodefensivos na agricultura vem apresentando tendência de elevação. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABC Bio), os ativos biológicos correspondem entre 1% e 2% do mercado brasileiro total de defensivos, uma presença ainda tímida. Porém, considerando que a agricultura brasileira é uma das mais importantes e competitivas do mundo, é de se supor que o uso de defensivos biológicos atinja níveis bem maiores, a exemplo da Europa, onde eles já representam entre 14% e 16% do mercado, e os Estados Unidos, em torno de 6%.

“Nossa expectativa é de uma expansão anual do uso de defensivos biológicos da ordem de 15% nos próximos anos no Brasil”, afirma Amália Piazentim Borsari, consultora executiva da ABC Bio. Para ela, fatores como o aumento da demanda por alimentos com menor teor de resíduos químicos, além do próprio desequilíbrio causado pela resistência das pragas aos ativos químicos, exigem um manejo mais sustentável, o que torna bastante promissora a perspectiva do segmento de defensivos biológicos nas próximas décadas, já que são produtos propícios para tais fins.

“A principal vantagem dos defensivos biológicos é que eles possibilitam manejo equilibrado no combate às pragas e doenças, com consequente aumento da produtividade agrícola, levando à mesa dos consumidores brasileiros produtos livres dos resíduos químicos”, avalia Amália. No Brasil, o crescimento nas vendas de biológicos no ano de 2017 foi de 13%. Segundo a ABC Bio, no Brasil, o controle biológico de pragas gera receita de R$ 528 milhões. Entre os fabricantes estão indústrias de todos os portes e perfis societário, nacionais ou multinacionais. O crescimento do mercado brasileiro de biodefensivos tem atraído cada vez mais o interesse de diversas empresas do setor de agroquímico, incluindo os grandes grupos internacionais.

Para Amália Borsari, consultora executiva da ABC Bio, os biológicos são importante ferramenta para a preservação da eficiência das moléculas químicas(foto: ABC BIO/DIVULGAÇÃO)
Para Amália Borsari, consultora executiva da ABC Bio, os biológicos são importante ferramenta para a preservação da eficiência das moléculas químicas (foto: ABC BIO/DIVULGAÇÃO)
Pesquisa recente, encomendada pela ABC Bio, mostra que, atualmente, a agricultura brasileira trata 10 milhões de hectares com biodefensivo. O levantamento constatou ainda que 39% dos agricultores brasileiros utilizam produtos biológicos em alguma área de plantio de suas lavouras, apesar de revelar, por outro lado, que 57% dos produtores rurais dizem desconhecer os biodefensivos. “Mas a aceitação desse método como importante arma para controle de pragas e doenças é quase que total por parte de quem já o utiliza, pois 98% dos entrevistados que usaram defensivos biológicos na safra 2017/18 afirmaram que pretendem usá-los também na próxima safra”, disse Amália.

Entre os fatores mais citados para a decisão do uso está a eficiência do controle, mencionado por 76% dos produtores ouvidos, seguido pela segurança da aplicação, apontada por 60% dos pesquisados. Foram entrevistados 683 produtores que utilizam biológicos, distribuídos por 15 estados e que produzem 11 tipos diferentes de cultura. A pesquisa também aponta que as principais culturas que utilizam biodefensivos atualmente no Brasil são a soja, a cana-de-açúcar, o café, as hortaliças e as frutas.

HARMONIA Ao confrontar os ativos biológicos com os agroquímicos, a consultora não acredita que o primeiro método vá substituir o segundo. “Acreditamos no uso harmônico e conjunto dos defensivos convencionais e os biodefensivos. Vemos mais uma tendência de tecnologia de controle de pragas e doenças na agricultura se encaminhar para o conceito de Manejo Integrado de Pragas, sistema que combina práticas culturais e químicas para uma convivência harmônica na plantação, com a regulação de populações de organismos vivos por meio de inimigos naturais”, explica.

Para Amália, os defensivos biológicos chegaram para compor um pacote de ferramentas de manejo que resultem em soluções para problemas fitossanitários, no qual os químicos também estão inseridos. Os biodefensivos acabam tendo uma convivência harmoniosa com os defensivos químicos, com natural substituição de moléculas superadas. Há um entendimento de que os biológicos são importante ferramenta para a preservação da eficiência das moléculas químicas.

“Em razão de todos esses fatores, o agricultor deve fazer as contas e colocar na balança quais as melhores alternativas, lembrando sempre que a utilização do defensivo biológico pressupõe uma mudança cultural, uma vez que os resultados não aparecem com a mesma rapidez que a dos defensivos químicos”, avalia a consultora executiva da ABC Bio.

CUSTO Quanto ao custo desse método frente aos defensivos químicos, Amália acredita que o cálculo está mais relacionado com uma mudança cultural do que o resultado alcançado pelas duas formas de controle de pragas. “Os agroquímicos tradicionais são insumos já incorporados ao manejo diário do produtor. Ele conhece suas propriedades e, por já utilizá-lo há muito tempo, sabe qual o resultado que produz após sua aplicação. Já o agente biológico, por ser ainda uma novidade para boa parte dos agricultores, demanda um tempo para ser compreendido e integrado ao manejo tradicional da lavoura”, explica.

Como os biodefensivos são elementos vivos, existe um componente imenso de variáveis que torna impossível ter uma certeza de que a aplicação feita dará os resultados esperados. Muitas vezes, é necessário fazer ajustes na aplicação e distribuição pela lavoura. Em razão dessas variáveis todas, fica difícil fazer um paralelo de custos entre os convencionais e o biológico. Por esse motivo, a aplicação de agentes naturais de controle de pragas e doenças demanda a contratação de um técnico especializado. Por ser composto de agentes vivos, a distribuição dos insetos ou fungos pela plantação exige cuidados extras para uma maior eficiência. Ter um especialista cuidando da orientação de como fazer a aplicação, qual a quantidade, a dosagem e até a melhor hora de executar o serviço é fundamental.

Como funciona


A vespinha Cotesia flavipes coloca seus ovos nos furos da cana-de-açucar e, quando eles eclodem, as larvas se alimentam da lagarta conhecida como Broca da cana-de-açúcar (foto: ABC BIO/DIVULGAÇÃO CANACAMPO/DIVULGAÇÃO)
A vespinha Cotesia flavipes coloca seus ovos nos furos da cana-de-açucar e, quando eles eclodem, as larvas se alimentam da lagarta conhecida como Broca da cana-de-açúcar (foto: ABC BIO/DIVULGAÇÃO CANACAMPO/DIVULGAÇÃO)

Denominados agentes naturais de controle de pragas e doenças da agricultura, os biodefensivos consistem no uso de organismos que ocorrem naturalmente no ambiente para prevenir, reduzir ou erradicar a infestação de pragas e doenças das plantações. O uso de ativos de origem biológica tem como resultado a redução da população de pragas ou incidência de doenças, mantendo um nível que não cause danos econômicos à cultura.

Os ativos biológicos de controle podem ser microrganismos – como vírus, fungos, bactérias, nematoides benéficos que atuam causando doenças em insetos ou predando e inibindo microrganismos fitopatogênicos ou macrorganismos que atuam como parasitoides ou predadores – que constituem estratégia eficaz e possível de ser incluída nos programas de controle de pragas em diversas culturas. Os produtos à base de agentes de origem biológica são chamados defensivos biológicos.

Uma das culturas que mais fazem uso de biodefensivos é a cana-de-açúcar. O engenheiro-agrônomo Rodrigo Piau, coordenador agrícola da CanaCampo, associação de fornecedores do município de Campo Florido, no Triângulo Mineiro, explica que existem várias opções de biodefensivos para controlar as pragas nessa cultura. Uma das que causam mais prejuízo é a broca da cana-de-açúcar, uma lagarta (a Diatraea saccharalis) que se alimenta da planta.

De acordo com Piau, o combate à broca pode ser feito a partir da liberação de um enxame de vespas (a Cotesia flavipes) já fecundadas. Essas vespinhas entram nos furos feitos pelas lagartas na planta e ali depositam os ovos. Quando os ovos eclodem, suas larvas se alimentam da lagarta. Um outro processo usado para o controle da broca da cana-de-açúcar é feita por uma vespinha (a Trichogramma galloi), que se alimenta diretamente dos ovos da lagarta (Diatraea saccharalis).

EFICIÊNCIA Já para combater a cigarrinha das raízes da cana-de-açúcar, um dos biodefensivos mais utilizados é o fungo Metarhizium anisopliae, que tem a propriedade de eliminar as ninfas e adultos do inseto. “Se se aplicar esse método em condições ideais, quando o clima está fresco, de preferência garoando, o resultado é muito bom”, garante o engenheiro-agrônomo.

Além da questão ambiental e de saúde, pela não aplicação de produtos químicos, Piau ressalta que os biodefensivos também são atraentes por serem eficientes. No caso da broca, por exemplo, ele afirma que o uso de produtos químicos não resolve.

 “Também gosto de ressaltar que 90% do controle de pragas na cana-de-açúcar, e acredito que em outras culturas essa porcentagem também seja alta, são feitos por inimigos naturais, sem a nossa intervenção”, disse Piau.

O engenheiro-agrônomo explica que o correto é fazer um manejo integrado entre o biológico e o químico. Para cada situação, um método é mais eficaz.


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