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Estado de Minas

Seca altera a rotina nas lavouras do Jaíba

Restrição na captação de água do Rio São Francisco, que enfrenta estiagem histórica, preocupa os agricultores do Norte de Minas e já afeta a produtividade das plantações


postado em 09/10/2017 06:00 / atualizado em 11/01/2018 11:09

Canal de entrada do São Francisco no Jaíba: perímetro irrigado na região tem 27 mil hectares cultivados(foto: Luiz Ribeiro/DA Press)
Canal de entrada do São Francisco no Jaíba: perímetro irrigado na região tem 27 mil hectares cultivados (foto: Luiz Ribeiro/DA Press)

Jaíba — Produtores do Norte de Minas tiveram que reduzir a irrigação de suas lavouras, principalmente na região do Jaíba. Também interromperam os novos plantios. A situação ocorre porque, diante da drástica redução do volume do Rio São Francisco, que atingiu este ano o nível mais baixo da história, a Agência Nacional de Águas (ANA) decidiu restringir o uso da água no manancial e em alguns dos seus principais afluentes, para garantir a manutenção dos reservatórios da bacia. Desde 21 de junho, por meio de uma resolução, a ANA estipulou o Dia do Rio, suspendendo as captações no manancial às quartas-feiras, exceto para o consumo humano e animal. A princípio, a medida vai até 30 de novembro, podendo ser prorrogada, caso o regime de chuvas não normalize na região da bacia até lá.


Ao atingir a produção do projeto de irrigação do Norte de Minas, a medida trouxe reflexos também para os consumidores nas cidades, mexendo no bolso de quem compra frutas e verduras em Belo Horizonte. Pois, o Jaíba é grande fornecedor de frutas e verduras para a Centrais de Abastecimento de Minas (CeasaMinas). O nível do Rio São Francisco reduziu tanto que o Distrito de Irrigação do Jaíba teve de iniciar uma obra emergencial. Em meados de setembro, uma máquina passou a fazer o serviço de limpeza e o “desassoreamento” do canal do São Francisco – de 1,5km, que leva a água do rio até o sistema de bombas de captação de água do projeto. Dali, a água é distribuída dos canais de irrigação que margeiam os lotes dos pequenos agricultores e a área empresarial do projeto.


Atualmente, o perímetro irrigado tem cerca de 27 mil hectares cultivados, segundo dados do Distrito de Irrrigação do Jaíba. O carro-chefe é a banana, com 6,71 mil hectares. No projeto se destacam também o limão (2,04 mil hectares) e a manga (1,76 mil hectares). Outras frutas, como uva, mamão, maracujá, tangerina, e antemoia, respondem por 1,59 mil hectares. Conta ainda com olerícolas (2,283 mil hectares) e uma área de 2,148 mil de outras culturas(batata-doce, feijão, mandioca, milho e soja).

Na zona empresarial, o Jaíba tem uma área de cana-de-açúcar que chega a 9,19 mil hectares.
Todos esses plantios foram impactados pela restrição do uso da água. O gerente do Distrito de Irrigação do Jaíba, Marcos Medrado, disse que, por recomendação da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), responsável pela implantação do empreendimento, foram temporariamente suspensos novos plantios na etapa 1 do projeto, que reúne cerca de 2 mil pequenos produtores. Eles não devem fazer novos plantios até o fim do período de restrição do uso água.

Incertezas


Um dos pequenos produtores atingidos no Jaíba é José Alberto Pereira, de 58 anos. Ele conta que estava com uma área de cerca de dois hectares para um novo plantio, quando foi baixada a resolução da ANA. “O meu receio é que no futuro a água possa faltar mais ainda”, comenta José Alberto. Outro produtor do Jaíba atingido pela restrição do uso da água é Arnóbio Gonçalves Cesário, de 45, que planta hortaliças em uma área de 2,6 hectares destinada à produção de sementes, em parceria com uma empresa. ““Deixar de irrigar um dia por semana reduz a produção. Ainda não sei quanto e qual será o meu prejuízo. Isso é uma incógnita”, afirma o agricultor.


Arnóbio conta que sempre irrigava as plantações de dois em dois dias. Agora, em um período da semana, tem que suspender a irrigação por dias três, devido à proibição do uso da água as quartas-feiras. Ele lamenta que o governo não tenha adotado outras medidas antes para revitalizar e recuperar as nascentes do Rio São Francisco, para garantir a manutenção do volume da bacia e evitar o racionamento. “Infelizmente, não fizeram isso e nós estamos sendo sacrificados. A agricultura é colocada em segundo plano”, afirma. “Essa questão (fornecimento de água) precisa ser revista, pois pode ficar inviável investir em irrigação. Essa situação deixa a gente com uma insegurança. Deixa sem saber como será o nosso futuro”, comenta.

Reflexos na área empresarial


A restrição do uso da água do Rio São Francisco também trouxe reflexos na etapa 2 do Projeto Jaíba, a área empresarial do perímetro irrigado, que concentra 73 médios e grandes empresários. Juntos, eles cultivam 19,3 mil hectares, com destaque para o cultivo de banana, manga, uva e cana-de-açúcar. A gerente do Distrito de Irrigação da Etapa 2 do Projeto Jaíba, Anna Priscila Camargo, disse que os empresários não têm a obrigação de seguir a orientação da Codevasf para não fazer novos plantios durante o período de restrição de captações de água no Rio São Francisco um dia por semana, conforme determina a resolução da Agência Nacional de Águas. No entanto, informa Priscila, por decisão própria, os irrigantes decidiram suspender os novos cultivos, diante da escassez hídrica. Ela disse que não existe levantamento do tamanho da área preparada e que continua parada no Jaíba, por causa dos efeitos da falta de chuvas e da redução do nível do Velho Chico.


Priscila afirmou que a proibição do uso da água na irrigação um dia por semana afetou lavouras mais sensíveis, como hortaliças e plantações novas de banana, manga, cana e milho – que precisam de mais água na fase inicial do plantio. A partir da segunda quinzena de setembro, por causa da elevação da temperatura, os irrigantes estão usando mais água às quintas-feiras, após o Dia do Rio. “Com o forte calor, a umidade do solo cai muito quando as lavouras ficam um dia sem a irrigação”, explica.


O presidente do Sindicato Rural de Jaiba e Matias Cardoso, Dalton Londi, salienta que a grande preocupação dos irrigantes é com a possibilidade da ampliação do racionamento (ou seja, a proibição do uso da água para irrigação passar para dois dias da semana). “Se aumentar os dias parados, começaremos a ter problemas para obter financiamentos para os plantios”, afirma. Segundo ele, o Dia do Rio foi implantado pela ANA “sem discussão prévia” com os agricultores.

Preservação


A ANA sustenta que desde 2013 promove reuniões sistemáticas com os representantes dos usuários para o “acompanhamento sistemático da crise hídrica no Rio São Francisco”, incluindo irrigantes do Jaíba. A agência informa que o Dia do Rio, “assim como as demais medidas tomadas ao longo do processo”, “foi amplamente debatida”. Informou ainda que a medida foi uma adotada com a finalidade de preservar os estoques de água nos reservatórios da Bacia do Rio São Francisco (como os das usinas de Sobradinho, Xingó e Paulo Afonso, no território baiano), “em articulação com os estados de Minas, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco e usuários”.


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