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Estado de Minas

Plantação de uva em Minas desmente que fruto é típico de clima frio

Variedades oferecidas pelo Projeto Jaíba, no Norte de Minas, comprovam a boa adaptação da cultura ao clima quente. Produção é consumida em BH, Triângulo, Goiânia e São Paulo


postado em 07/08/2017 06:00 / atualizado em 07/08/2017 08:48

Plantio irrigado no Projeto Jaíba começou há 10 anos, com vantagem da maior luminosidade na região, que confere sabor mais concentrado em açúcar à fruta (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Plantio irrigado no Projeto Jaíba começou há 10 anos, com vantagem da maior luminosidade na região, que confere sabor mais concentrado em açúcar à fruta (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

Fruta típica de lavouras de clima frio, a uva desmente a crença de que só alcança o resultado ideal onde as temperaturas são baixas, a exemplo das terras do Rio Grande do Sul, do Chile ou de países da Europa.

A viticultura também está se adaptando bem às regiões tropicais, com bons lucros oferecidos aos produtores. Prova disso está no Projeto de Irrigação do Jaíba, no município homônimo do Norte de Minas Gerais, região quente e árida. São cultivadas em áreas do empreendimento as variedades destinadas ao consumo de mesa: Niágara, Benitaka, Vitoria, Isabel e Nubia.

Uma das vantagens da uva tropical é que ela é mais doce do que a fruta das regiões frias. Esse aspecto é influenciado pelas altas temperaturas. A região do Jaíba registra 24,2 graus em média, com mínima de 14,8 graus e máxima de 34 graus. O empreendimento é o maior projeto de perímetro irrigado da América Latina e se destaca na fruticultura, tendo a banana como carro-chefe.

O cultivo de uva é feito na etapa 2, a área empresarial do projeto de irrigação, onde as lavouras de frutas avançam. Com o plantio de 30 hectares de uva, a empresa Alpa Agrícola investe na cultura e está em plena colheita. De acordo com gerente e responsável técnico pelo plantio irrigado, o engenheiro-agrônomo Sidney Scharmone Alves da Silva, a expectativa é de que sejam colhidas 900 toneladas nesta safra, que começou em julho e vai até novembro.

Todas as variedades de uva de mesa escolhidas mantêm idênticos níveis de produtividade no clima quente, e a irrigação é feita pelo sistema de gotejamento. A empresa emprega 70 pessoas na colheita da uva, com a marca Colibri. A produção é distribuída em mercados consumidores de Belo Horizonte, Triangulo Mineiro, Goiânia, na capital de São Paulo e nas principais cidades do interior paulista, como Campinas e Ribeirão Preto.

Responsável pelas lavouras da Alpa Agrícola, Sidney Scharmone diz que a previsão é colher 900 toneladas nesta safra (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Responsável pelas lavouras da Alpa Agrícola, Sidney Scharmone diz que a previsão é colher 900 toneladas nesta safra (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

O produto já sai do Norte de Minas em embalagens prontas para serem entregues nos sacolões e supermercados. Atualmente, em função do período de safra, quando costuma funcionar a chamada lei da oferta e da procura, o preço da fruta tem se mantido sem sobressaltos. A bandeja de 500 gramas tem sido negociada, segundo comerciantes do setor, entre R$ 2,50 e R$ 3.

Por ser uma fruta perecível, a uva precisa de cuidado especial no transporte e um sistema rápido de escoamento. Por isso, as embalagens saem do Norte do estado em caminhões refrigerados. Para evitar perdas, o intervalo de tempo entre a colheita e a comercialização não deve ultrapassar cinco dias.

O plantio de uva no Projeto Jaíba foi iniciado há 10 anos. O dono do empreendimento da Alpa Agrícola é natural de São Gotardo, no Alto Paranaíba. Sidney Scharmone revela que antes de aportar no Jaíba, o investidor fez estudos sobre a viticultura em regiões de clima quente. Ele visitou o projeto de irrigação de Petrolina/Juazeiro, na divisa da Bahia e Pernambuco, onde é colhida uva até mesmo para a produção de vinho. Conheceu ainda as videiras irrigadas no município de Pirapora, também no Norte de Minas.

O agrônomo destaca que a uva cultivada nas regiões quentes tem um custo mais elevado do que o plantio nas regiões de clima frio do Sul do país, por causa da necessidade da irrigação. Por outro lado, o plantio em áreas como o Norte de Minas apresenta algumas vantagens. A principal delas é que, em função de maior luminosidade (mais horas diárias de luz do sol), a fruta dessas regiões apresentam um melhor paladar devido à proporção reforçada de açúcar (brix). Segundo dados do Distrito de Irrigação do Jaíba (DIJ), a região tem uma média de insolação de 2.892 horas por ano.

Outro aspecto a cultura das regiões de clima frio têm apenas uma safra por ano, que vai de dezembro março. “Nas regiões de clima quente, com a introdução de novas tecnologias, se consegue produzir uva praticamente o ano inteiro, alcançando melhor preço no mercado no período da entressafra”, explica Sidney Scharmone. Ele observa, ainda que, além do atual período, a uva do Jaiba oferece uma espécie de safrinha, que vai de março a junho. Há mais um ganho na produção em áreas com maior intensidade de calor, uma vez que nelas  ocorre menor frequência de ataque de pragas. Isso reduz os custos com defensivos para o produtor, e para o consumidor proporciona um produto mais saudável, com menos riscos à saúde.

ÁGUA ESCASSA O engenheiro agrônomo lembra que o cultivo da uva irrigada em regiões de clima semiárido exige um manejo adequado e cuidados, que começam na preparação do solo e na escolha de mudas de qualidade. Por isso, a cultura irrigada, que – depois do plantio, demora um ano e seis meses para entrar em produção –, necessita de investimento elevado, de cerca de R$ 150 mil por hectare.

Scharmone não revela os percentuais de lucros obtidos com a cultura da uva tropical, mas dá uma pista sobre os resultados: o dono da empresa planeja plantar mais de 30 hectares no perímetro irrigado. No momento, adiou a ampliação da área plantada por causa da redução do volume do Rio São Francisco, que forçou restrições de uso da água para as lavouras irrigadas do Projeto Jaíba.

Potencial das lavouras é de 19,2 mil hectares


Com área total de 28,025 mil hectares, o Jaíba dedica 12,225 mil hectares à etapa 1, ocupada por cerca de 1,8 mil agricultores familiares. A etapa 2, destinada à empresas, conta com 15,8 mil hectares, com 684 lotes, segundo o Distrito de Irrigação do Jaíba. O potencial deste último segmento é de 19.276 hectares irrigáveis. Em 2016,  a produção anual da etapa 1 alcançou 252,6 mil toneladas, proporcionando faturamento bruto de R$ 565 milhões, de acordo com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), responsável pela implantação do empreendimento.

Ainda falta obras de infraestrutura (canais de irrigação) nas etapas 3 (12, mil hectares) e 4 (9.734 hectares), que também serão destinadas à agricultura empresarial. Atualmente, a produção de frutas em larga escala é incrementada por empresários na etapa 2 do perímetro irrigado, tendo como carro-chefe a banana.

Com base em informações da Asssociação dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte), a bananicultura ocupa 6.711,91 hectares no Jaíba. Em seguida, aparecem o limão (2.040,91 ha) e a manga (1.761,42 ha), produtos que estão sendo exportados para a Europa e o Oriente Médio.

A Abanorte informa, ainda, que uma área de 1.589,94 hectares no perímetro irrigado do Norte de Minas é ocupado por outras frutas, incluindo uva, atemóia, goiaba, mamão, maracujá e tangerina.  O projeto conta também com o plantio de cana-de-açúcar (9.193 ha), olerícolas, ou seja, hortaliças e culturas folhosas e de raíz (2.283 ha), pastagem (1.167,42 ha) e outros cultivos, a exemplo de batata-doce, feijão, mandioca, milho e soja, que abrangem 2.148 hectares.


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