
A campanha ainda nem começou oficialmente, mas já é possível dizer qual será um dos primeiros embates – e talvez o definitivo – no Congresso Nacional caso o ex-presidente Lula assuma novamente o posto. Não se trata de revogar a Reforma Trabalhista ou combater a autonomia do Banco Central. A briga será pelo controle do dinheiro: do orçamento público.
Foi montado um verdadeiro aparelhamento do Orçamento para sustentar esse controle por parte dos partidos. São emendas do relator, as chamadas – RP-9, que são as emendas individuais, emendas de bancada, fundo partidário, fundo de financiamento de campanha, só para citar as principais rubricas. No final, o presidente e seus ministros ficaram com a função de executar a parte obrigatória do gasto, sem poder de manobra.
A lógica atual só funciona com governos fracos. Não existe possibilidade de um Lula fortalecido aceitar a dinâmica de subserviência ao Congresso em relação ao Orçamento. Daí a conclusão de que esse deverá ser um conflito que provavelmente ocorrerá logo no início do mandato, exatamente quando o novo chefe do Executivo está mais forte. Essa situação do Orçamento também tem implicações imediatas na campanha eleitoral.
Em primeiro lugar, é óbvio que caso Lula consiga formar uma Federação Partidária forte e consiga eleger um grande número de deputados federais e senadores, terá mais condições de retomar o poder do gasto público. Fazer bancada federal é crucial para a governabilidade do ponto de vista mais geral – aprovar pautas no Congresso de interesse do governo – mas também do ponto de vista específico do controle do dinheiro: conseguir fazer as alterações legislativas que devolvam esse mais de um terço dos gastos discricionários ao Executivo.
Em segundo lugar, mesmo que Lula ganhe a eleição, seria importante para os partidos de centro que essa vitória não fosse acachapante. Vencer de 1 a 0 é diferente de um 7 a 1, como todo brasileiro sabe bem. Se Lula vence a eleição no primeiro turno, terá apoio público para retomar com facilidade o controle do Orçamento. Caso a polarização permaneça evidente, o ambiente político força a negociação.
Os partidos de centro, em especial o Partido Progressista e o Partido Liberal, são os principais interessados em manter o controle do Orçamento no Congresso, exatamente porque é onde são mais fortes. Assim, para eles é importante que Bolsonaro se reeleja ou mesmo que seja o mais competitivo possível em um embate com Lula.
Por isso, o jogo de Lula com partidos de centro é um pouco mais complexo do que parece. É muito comum ouvir a análise de que Arthur Lira, Ciro Nogueira e companhia estarão lado a lado com novo presidente seja ele qual for. É bem provável que sim, mas antes terão que resolver quem vai mandar no dinheiro.
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