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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

As derrotas do América e seus ensinamentos

"Necessário reforços de peso, principalmente no meio, para suportar a sequência e deixar o time mais imprevisível e virtuoso"


21/04/2023 04:00 - atualizado 21/04/2023 07:56

Jogadores do Defensa y Justicia comemoram gol contra o América
Depois de golear o Peñarol na estreia da Copa Sul-americana, Coelho perde para o Defensa y Justicia por 2 a 1 com direito a novo "apagão" no início do segundo tempo (foto: ALEJANDRO PAGNI / AFP)


O América segue vivo na Sul-Americana, mas o apagão fora de casa, com dois gols em minutos, acende o sinal amarelo. Eu diria que seria mais uma noite para a torcida do América esquecer. Mas a verdade é que derrotas assim precisam ser lembradas para não serem repetidas. E mostram também que, se você quer ser grande, precisa viver a dor de disputar vários torneios de peso ao mesmo tempo e manter um certo padrão de jogo e combatividade.

É normal, em competições internacionais, um tropeço fora de casa. A preocupação segue sendo a dependência que temos de Benítez, aquele jogador que traz a pimenta que o time não tem quando joga com meias que na verdade são bons volantes, como Alê. Necessário agora unir o grupo para mais uma pedreira, que é enfrentar o São Paulo no Morumbi neste sábado. O ano começa complicado, mas as arestas ainda podem (e devem) ser aparadas. Necessário urgente reforços de peso, principalmente no meio de campo, para suportar a sequência e deixar o time mais imprevisível e virtuoso, com criatividade e arisco, o que não tem acontecido.

Miguel Santiago

Suas palavras me convenciam (e muitos outros) a seguir o caminho do coração verde e branco, sem baixar a cabeça. Sua elegância implacável em reforçar a cada crônica que o Deca merecia respeito e mais espaço deixou saudades e, imagino, nunca tenha tido substituto à altura.

Havia uma época (e sabe-se lá se ela já passou) em que o América era tratado de forma humilhante por diversos setores do mundo da bola, e fora dele. Incluo a imprensa esportiva entre eles.

A quase sempre asquerosa Federação Mineira de Futebol, geralmente comandada pelos rivais alvinegros, também cansou de rebaixar, depreciar e roubar o Coelho em momentos que poderíamos ter tido a glória.

Foram muitos e muitos campeonatos levados na mão grande, por má fé de arbitragem, por corrupção ou jogo de interesses. A CFB... Ah, essa, nem precisamos falar. Quase que acabou com o América no começo da década de 1990.

O torcedor americano é uma espécie de sofredor profissional que, de tanto apanhar, acabou ganhando certa casca. Foram décadas de prejuízos e erros contra o Coelho, inclusive, e principalmente, por parte da própria mídia, que nos reservava pouquíssimo destaque.

Com o tempo, desde menino, fui tentando montar um quebra-cabeça e compreender por que, depois de tanta pancada, eu e muitos outros continuávamos a dizer com orgulho: “eu torço para o América”. E te digo: isso, em algumas ocasiões, era motivo de chacota.

Hoje, acredito que tenha uma boa parte da resposta. Continuamos americanos por conta de figuras representativas como Miguel Santiago, que defendia ferozmente, com toda classe literária a que lhe era devida, o nosso pavilhão.

Nas colunas do saudoso “Diário da Tarde”, periódico que trazia bela cobertura esportiva mineira, Miguel dava um baile nos outros colunistas, mesmo com menos munição e com resultados adversos nas quatro linhas.

Suas palavras, certamente, me convenciam (e muitos outros) a seguir o caminho do coração verde e branco, sem baixar a cabeça. Sua elegância implacável em reforçar a cada crônica que o Deca merecia respeito e mais espaço deixou saudades e, imagino, nunca tenha tido substituto a altura.

No começo da faculdade de Jornalismo, ainda sem experiência, via Santiago vira e mexe no bairro Gutierrez, perto da casa dos meus avós, ali na Rua Ludgero Dolabela, com Avenida Francisco Sá. Bons tempos.

Sempre com um ar messiânico e altamente filosofal, camisa do América, um jornal na mão e uma barba bíblica, ele parecia de fato um profeta. Tantas vezes pensei em abordá-lo, mas desisti, com medo de incomodar. Talvez, não teria incomodado.

Quem sabe, aquele jovem estudante torcedor do América poderia ter tido alguns conselhos preciosos. De qualquer forma, cheguei até aqui e posso contar esta história, tentando manter um pouco do espírito de que, na imprensa, o Coelho precisa mais de defensores do que de críticos. É por isso que, frequentemente, opto por escolher o caminho do incentivo.

E de todos os ensinamentos que tive com seus textos, um foi fundamental: há muitas maneiras de falar do América, mas somente a poesia que transcende é capaz de explicar o amor inexplicável do futebol na vida de um garoto americano. Perto do Miguel Santiago, eu sigo apenas um garoto americano. E com muito orgulho. Descanse em paz, mestre.

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