
O tempo sempre foi uma questão para os homens mais estudiosos do mundo e continua sendo um mistério a ser desvelado, embora ele transcorra sem explicações e nunca se canse de passar por nós sem que possamos ter controle ou maiores certezas. Sabemos somente que ele passa e leva tudo, restam memórias. E abarcará igualmente o futuro em seu incessante movimento.
E nós, incapazes de alcançarmos a onipotência, permanecemos ansiosos pelo futuro e, incapazes de prevê-lo, o imaginamos. Nosso pensamento nos leva a previsões terríveis, pressentindo o pior e nos leva a sofrimento como se o imaginado fosse a realidade.
Reconhecemos, às vezes, e só depois que sofremos pelo que não será, mas pelo que pensamos. E só o tempo nos traz esta conclusão. E repetimos isto várias vezes e mais uma, sem assimilar que controlando a ansiedade seríamos capazes de sofrer apenas pelo que acontece e isso nos poupa sofrimento duplo. Um imaginarizado e outro se de fato acontece algo que nos traz dor psíquica.
Outra maneira de lidar com o tempo na nossa vã filosofia é a defesa sistemática de adiar. Adiamos aquilo que acreditamos ser difícil, aquilo que tememos, decisões ainda ambivalentes, evitando errar, ser assertivos, assumir a responsabilidade por nossas apostas.
Evitamos qualquer ato que implique risco. Tememos desencadear o pior. Nos resguardamos de nossa própria incapacidade, deixando para depois o que poderia ser feito logo, assim nada resolvemos e alongamos situações angustiantes.
Desse modo, o que poderia ser resolvido em um segundo, transformamos em horas, dias e meses encapsulados em nosso imaginário com medo de resoluções que nos levem ao erro e acerto. Sofrimentos insuportáveis são relatados por aqueles que não se aventuram ao ato e passam a vida entre ser e não ser.
Um pensamento circular, repetitivo, involuntário e dizemos: é mais forte do que eu. Tememos nos precipitar e errar. Mesmo quando podemos acertar. Quem não erra? Se for humano, erra. Mas queremos ser perfeitos e nos mantemos no impasse. Por que a incerteza nos acompanha justamente quando causada por um futuro sobre o qual nada sabemos de fato. Não temos garantias de antemão.
Resta-nos apenas um cálculo possível. Deduções lógicas trazidas pela nossa racionalidade e percepção. Cálculo de uma certeza antecipada. Algumas antecipações são decorrentes de uma lógica nem sempre consciente. Temos certezas antecipadas por isso.
E também sabemos por experiência que tal ato leva a tal conclusão. Se erramos, devemos assumir consequências. Somos educados para o certo e o errado e isso é um norte que não podemos abandonar. É como uma receita em que se erram as proporções e os ingredientes. Assim, o que sabemos é porque aprendemos.
Mas somente isso não nos assegura completamente e nem nos faz menos humanos. Ainda assim, certas situações são inusitadas e apenas a nós, como sujeito único e neste momento solitário, podemos escutar. E decidir apostando sempre, embora possamos ganhar ou perder. E ao tempo só podemos reverenciar.
Como diz a música de Caetano: “és um senhor tão bonito, um dos deuses mais lindo, tempo, tempo, tempo, tempo...”
