
Desde que surgiu um serial killer chamado Lázaro e que a polícia iniciou as buscas para capturá-lo, pensei como seria o desfecho. Além de ser um assassino frio, ele também irritou bastante as autoridades, dando um baile para ser pego. Foram 200 contra um. Sendo brasileira e principalmente depois de Jacarezinho e muitas outras experiências, soube logo que ele fora condenado à morte.
A pena de morte foi legitimada pelo próprio presidente e seu vice no episódio do Jacarezinho. Quando 28 pessoas foram mortas na ação policial e disseram que eram todos bandidos, estavam dizendo, nas entrelinhas, que tudo bem matar bandidos.
Se queremos a pena de morte no Brasil, devemos legalizá-la, assim como outros países o fizeram. O que é imoral é deixar a Constituição de lado e praticar o ato ilícito de matar bandidos e ser parabenizado por atos de desobediência à lei maior que rege o país.
Assim sendo, se abraçamos esta prática como desejável, abolimos a Constituição para todas as outras leis – que poderão ser igualmente desacatadas – e o próprio governo legitima esta desobediência.
Quando em Jacarezinho o presidente e seu vice parabenizaram a ação militar e afirmaram “eram todos bandidos”, fica garantido o apoio e proteção a toda e qualquer ação policial que extermina bandidos antes de serem julgados e condenados, o que é seu direito segundo a lei brasileira.
Sendo assim, ao assistir a busca por Lázaro – um homicida, sem dúvida, cruel e frio, e certamente assassino de aluguel, encontraram bastante dinheiro com ele na sua captura –, era esperado que a ação policial terminasse assim, pois foram praticamente humilhados pela esperteza do meliante e pelo fato de ele ter sido protegido por algum mandante, pelo que tudo indica.
E a ação policial foi aclamada por todos como ato heroico, porém, fica a dúvida: teria ele tentado escapar ou atirar nos policiais que então responderam com autodefesa ou fizeram justiça com as próprias mãos?
Assim como relata Bruno Paes Manso em “República das milícias – dos esquadrões da morte à era Bolsonaro (Editora Todavia, 2020), há várias narrações de que os assassinatos eram praticados pela polícia militar sob alegação de tentativa de evasão, e ali também o autor afirma que a polícia brasileira tem alto índice de mortes em suas ações superior à maioria dos países.
Se assim for, e pessoalmente discordo, faz-se imprescindível a discussão democrática sobre a legalização da pena de morte no Brasil, pois não poderemos mais distinguir entre bandidos e polícia quem contraria mais a lei. Pois são ambos praticantes de atos ilegais. Ressalto aqui que não todos da polícia são iguais.
Vejam bem que não desejamos que perversos saiam por aí matando e fazendo o que quiserem, não defendemos assassinos como Lázaro, execramos suas ações contra pessoas inocentes e defendemos a lei, que é o pacto social eficiente, que vem regulamentar as relações entre os homens para que não haja abuso e violência dos mais fortes contra os mais fracos através do uso de força bruta.
Ou voltaremos à época em que armados de claves lutaremos mano a mano com os inimigos? Ou instauraremos nova ditadura no país? Como é que vai ser? Vai ser democracia? Porque sabemos que o papel aceita tudo, mas se não acatamos o que assinamos, isso faz de nós também marginais da lei. E onde não há lei justa e acatada só podemos ter a força da dominação do mais forte. E haverá barbárie outra vez...
