Um jovem casal que eu acabara de conhecer me relatou que há cerca de seis meses havia perdido um filho com a idade de um ano e meio. Logo que nasceu, a criança ficou meses hospitalizada devido a um problema cardíaco, chegou a ter vida normal e foram complicações renais que a levaram a óbito.
Não tive muito interesse em procurar saber como tinha sido a luta da criança pela vida e o tamanho da dedicação dos pais durante todo este sofrido período.
O que mais me chamou a atenção foi a maneira como eles relatavam o momento presente. Assunto delicado de ser tratado, sem dúvida, mas ouvi-los falar me mostrou o quanto somos nós quem fazemos o peso de nossos fardos ser muito grande ou minimamente suportável.
Para começar, eles não fogem do assunto e não deixam constrangidos aqueles que são pegos de surpresa quando perguntam como está o filho deles. A morte é tratada como algo natural, por mais dolorosa que tenha sido a separação.
A maioria dos desavisados tende a se desculpar dizendo que não sabia, pois se soubessem fingiram que a criança nem sequer havia existido um dia.
Falar de morte ainda é tabu e em se tratando de bebês melhor nem pensar. Afinal, essa possibilidade nos lembra que somos falíveis, finitos e que não somos deuses, pois eles permitem a morte, ao contrário de nós.
Porém, morre-se em qualquer idade, inclusive na primeira infância. Está estampada no rosto do casal, suas expressões e palavras, uma dor imensa. Mas a gratidão por terem tido a oportunidade de ser pais daquela criança, por um curto espaço de tempo, enche o discurso deles de energia positiva. "Nos tornamos outras pessoas", dizem, "melhores", arrematam.
O pai confessa que o fato de acreditar em algo além dessa vida terrena os sustenta e os impulsiona a prosseguir. Sem fé, disseram, "teríamos desabado sem chance de nos reerguer". Não importa a religião e sim a religiosidade, não importa o nome a se dar a Deus, e sim a crença em algo superior capaz de oferecer dias melhores. E é preciso saber o que de fato são dias melhores. A maioria de nós ainda não tem ideia do que isso significa.
Depois de conversar com eles, ouvi-los falar das peripécias do filho mesmo em meio a tantas dificuldades que certamente ele apresentou para se posicionar neste mundo, nos dá vergonha de enfrentar nossos medos e desafios tolos, fáceis de administrar e muitas vezes dispensáveis a uma simples análise racional. Não existe problema sem solução, a começar pela morte.