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Estado de Minas Entre linhas

Todos os homens de Bolsonaro e as semelhanças com Putin

Bolsonaro montou uma base parlamentar com os partidos do Centrão: por cargos e verbas, Kassab (PSD), Jefferson (PTB), Costa Neto (PR) e Nogueira (PP) apoiam qualquer governo


27/09/2020 04:00 - atualizado 27/09/2020 08:00

''Cada vez mais populista, Bolsonaro recuperou a popularidade apesar da pandemia e só pensa na reeleição''(foto: AFP)
''Cada vez mais populista, Bolsonaro recuperou a popularidade apesar da pandemia e só pensa na reeleição'' (foto: AFP)
Para quem leu Todos os homens do Kremlin (Editora Vestígio), de Mikhail Zygar, ex-editor-chefe da única emissora de TV independente da Rússia, a TV Rain (Dozhd), o paralelo com o presidente Jair Bolsonaro e sua atuação no poder é inevitável, resguardadas, é óbvio, as diferenças de contexto histórico e nacional. Como Putin, Bolsonaro se tornou presidente porque soube aproveitar a oportunidade, bafejado pela fortuna. Diferentemente do presidente russo, porém, não era um candidato do sistema: o homem certo na hora certa para o então presidente Boris Yeltsin, o político carismático, beberrão e imprevisível, que implodiu a antiga União Soviética, destronando Mikhail Gorbatchov, e liderou a transição selvagem para o capitalismo na Federação Russa. Bolsonaro foi um candidato antissistema, que surfou o tsunami eleitoral de 2018 na onda da insatisfação popular com os políticos gerada pela Operação Lava-Jato.

As semelhanças são maiores quando levamos em conta que Putin não tinha uma estratégia de poder, foi administrando as circunstâncias para mantê-lo. Ex-chefe da FSB, usou a força do Estado para afastar aliados indesejáveis, proteger os amigos de São Petersburgo e da antiga KGB, seduzir os militares e liquidar os adversários. Os instrumentos de coerção do Estado – os serviços de inteligência, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário – foram fundamentais para a consolidação de sua longa permanência no poder, depenando oligarcas que se apoderaram das estatais russas, favorecendo os empresários amigos e eliminando possíveis concorrentes eleitorais. Putin acreditou que seria bem recebido pelos líderes das grandes potências ocidentais, mas logo se viu frustrado por Angela Merkel, a primeira-ministra alemã; Nícolas Sarkozi, o presidente francês; e, principalmente, Barack Obama, o presidente negro dos Estados Unidos.

Arreganhou os dentes quando chegou à conclusão de que todos queriam enfraquecer a Federação Russa e afastá-la das antigas repúblicas soviéticas. E de que o menosprezavam, tratando-o como um personagem menor na cena internacional. Esse sentimento de rejeição somente aumentou ao longo dos anos, mas teve como resposta o endurecimento da política externa russa em relação às ex-repúblicas soviéticas da Georgia e da Ucrânia e ao Oriente Médio. A decisão estratégica de manter o ditador da Síria, Bashar Hafez al-Assad, no poder a qualquer preço, e assim preservar sua base naval no Mediterrâneo, foi uma demonstração de força; da mesma forma,  a divisão da Ucrânia, com a separação de Donetz, e a anexação da Crimeia como uma república autônoma da Federação Russa, com o propósito de manter a grande base naval da frota do Mar Negro. Por último, o apoio econômico e militar a Nícolas Maduro, na Venezuela, quando parecia que o chavismo iria desabar.

Reeleição

No terceiro mandato de presidente, a relação de Putin com o ex-presidente liberal Dmitri Medvedev, com quem também se revezou no cargo de primeiro-ministro, hoje é de estranhamento. Na verdade, sempre foi tensa, como a de Bolsonaro com o vice-presidente, Hamilton Mourão, um general de quatro estrelas. Putin afastou todos os aliados com política própria ou a lhe fazer sombra. Bolsonaro fez a mesma coisa. Começou com o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, hoje ocupada pelo general Luiz Ramos, principal articulador político do governo, e o advogado Gustavo Bebiano, secretário-geral da Presidência, já falecido, defenestrado para dar lugar a um ex-assessor parlamentar de inteira confiança, Jorge Oliveira. O ex-deputado Onyx Lorenzoni foi deslocado da Casa Civil para o Ministério da Cidadania, para dar lugar ao general Braga Neto. Os ministros da Justiça, Sérgio Moro, e da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no auge do prestígio, também foram defenestrados, sendo substituídos pelo advogado da União André Mendonça e outro general, Eduardo Pazuello, respectivamente, dois bem mandados.

Deputado ligado ao baixo clero durante toda a sua trajetória, para neutralizar qualquer tentativa de impeachment, Bolsonaro montou uma base parlamentar com os partidos do Centrão, cujos líderes — Gilberto Kassab (PSD-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI) — apoiam qualquer governo. Trocou os desastrados deputados de extrema-direita, que defendiam o seu governo no Congresso, por raposas moderadas do parlamento: Ricardo Barros (PP-PR) na Câmara, Fernando Bezerra (MDB-PE) no Senado, e Eduardo Gomes (MDB-TO) no Congresso. E está fritando o ministro da Economia, Paulo Guedes, uma economista ultraliberal, cada vez mais isolado no governo, no qual as estrelas em ascensão são os ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), cada vez mais influentes na política econômica do governo, como o discreto ministro de Minas e Energia, almirante Bento de Albuquerque.

Qual foi a estratégia de Putin para manter sua popularidade ao longo de duas décadas? Domar o parlamento, controlar o Judiciário, estreitar a aliança com a Igreja Ortodoxa, estimular o nacionalismo russo e o conservadorismo machista e homofóbico. Putin transformou a jovem democracia russa numa ditadura da maioria, na qual assume um papel cada vez mais  autocrático. 

Cada vez mais populista, Bolsonaro recuperou a popularidade apesar da pandemia e só pensa na reeleição, que parece ao alcance das mãos. O que  acontecerá com a democracia brasileira se Bolsonaro controlar o Judiciário e passar o rodo no Congresso em 2022, como deseja?

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